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NOTA 5,0 Longa recicla a fórmula do romance entre a garota pobre e o homem rico, mas no fundo é mais do mesmo e com falhas |
O velho e conhecido conto da “Cinderela”
escrito em meados do distante século 17 pelo francês Charles Perrault continua
sendo uma fértil fonte de inspiração para o cinema, mesmo em tempos em que tal
história já foi contada e recontada das mais variadas formas por todos os
cantos do mundo seja em forma de peças teatrais, programas de TV e até mesmo
releituras literárias. O problema é que cada vez que o texto ganha uma nova
versão mais batido o tema fica, porém, as comédias românticas contemporâneas
adoram requentar a fórmula da garota pobre que se apaixona por um homem rico e
até o avesso dessa relação (o rapaz humilde conquistando uma ricaça) já está se
tornando saturado no mundo cinematográfico. Produtos do tipo não costumam gerar
bilheterias exorbitantes, mas contam com um público cativo e fiel que adora
assistir um filme já sabendo como ele terminará, comprovando que não são apenas
as crianças que gostam de ouvir repetidas vezes a mesma história. Encontro
de Amor é mais uma comédia romântica a investir na citada fórmula
previsível, mas que hoje já pode se dar ao luxo de contar com o status de
clássico estilo sessão da tarde. Nada mais apropriado para uma produção leve,
descontraída e que agrada crianças e o público feminino, mas os homens também
podem se entreter desde que entrem no espírito do programa, ou seja, cérebro
desligado e embarcando sem preconceitos nesta história de uma das primeiras
Cinderelas representantes do século 21. O repúdio ou o envolvimento imediato
dos espectadores é intimamente ligado com a sensação “já vi esse filme”, e isso
não é por acaso. O argumento original é do finado John Hughes, criador de
populares sucessos do passado destinados a entreter a todas idades como Curtindo
a Vida Adoidado e Esqueceram de Mim, mas no trabalho em questão ele
deixou as peripécias e anarquias infanto-juvenis de lado para mergulhar de
cabeça em uma piscina de água com açúcar, porém, o material acabou tendo o
roteiro desenvolvido por Kevin Wade, que pouco antes havia feito sucesso com o
texto de Encontro Marcado. O pupilo soube fazer a lição de casa
direitinho e nem mesmo o clichê da protagonista trocando de roupa várias vezes
até encontrar o modelito perfeito para viver sua noite de sonhos foi
descartado. A trama gira em torno de Marisa Ventura (Jennifer Lopez), uma mãe
solteira que mora em Nova York e como tantas outras latinas trabalha como
camareira em um dos mais famosos e requintados hotéis da cidade. Um dia ela é
incentivada por uma colega de trabalho a provar as roupas de uma hóspede muito
rica, Caroline Lane (Natasha Richardson), e graças ao seu filho Ty (Tyler
Posey) a vida de Marisa está prestes a sair da monotonia por causa de um
encontro inesperado que o garoto inocentemente provoca.
A Cinderela neste caso não está trajando
um vestido de baile e tampouco os famosos sapatos de cristais, mas bastou uma
roupa de grife e com bom corte para que a jovem simplória sem querer fizesse
sua própria mágica. Confundida com uma mulher bem sucedida e com posses, ela
acaba chamando atenção do candidato a senador Christopher Marshall (Ralph
Fiennes) que acaba de se hospedar no prédio. Ambos se apaixonam a primeira
vista, mas não será nada fácil para a funcionária do hotel esconder sua verdadeira
identidade até porque ela está de olho em uma vaga para gerente e uma confusão
com alguém importante jogaria sua reputação por água abaixo e até poderia
colocar seu emprego como camareira em risco. Então rola fuxico aqui, outro ali,
uma escapadinha rápida para flertar com o hóspede e entre muitos mal entendidos
e planos previsíveis para esconder a verdadeira identidade não é preciso ter
vara de condão para descobrir qual será o destino desta gata borralheira
moderna. Mesmo sabendo de antemão como tudo termina, ainda há quem acredite que
tal receita funciona como o cineasta oriundo de Hong Kong Wayne Wang, que já
havia experimentado fazer cinema nos EUA com o simpático Em Qualquer
Outro Lugar, que recrutou a rainha dos romances açucarados para dar vida (e
curvas) a protagonista de sua visão romântica da clássica história de amor que
tem como principal impasse as diferenças de classes sociais que englobam não
apenas a conta bancária e o patrimônio de cada um da relação, mas também pesam
os hábitos, postura, cultura entre tantos outros pequenos problemas. Jennifer é
conhecida por sua beleza e certo talento para a música, mas sempre tem suas
atuações massacradas pela crítica, porém, é preciso ressaltar que não há muito
que ela fazer com roteiros tão simplórios em mãos, mas a própria parece não
fazer muita questão de ousar no campo das atuações. Em time que está
ganhando... De qualquer forma, neste caso ela se sai melhor que seu parceiro de
cena. Reconhecido por papéis dramáticos e geralmente aliar seu nome a projetos
mais refinados e com pedigree para concorrer a prêmios, a escalação de Fiennes
para este trabalho surpreendeu muita gente. É nítido que o ator nem de longe
interpreta um príncipe encantado, mas a falta de empatia que seu personagem
causa no público tem como justificativa a comédia romântica ser então um gênero
novo para ele, portanto é natural que Fiennes pareça pouco a vontade. Alguns
podem elogiar sua maneira mais contida de interpretar o mocinho da fita
contrapondo-se aos tipos atrapalhados, boa-praça ou metidos a conquistadores
que infestam projetos do tipo, mas Fiennes parece muito frio perto de Jennifer
que esbanja seus predicados latinos, algo que o roteiro enfatiza sem nunca
descambar para o vulgar. As diferenças no jeito de atuar acabam contribuindo
para que o casal funcione, pois ajudam a reforçar as diferenças entre a mulher
do povo e o homem da nobreza. Todavia, o melhor personagem do longa deve ter
ficado com o pequeno Tyler Posey que vive o filho da camareira e que cativa com
sua espontaneidade. Só é uma pena que crianças que despontam como grandes
revelações sumam do mapa rapidamente ou se levam a carreira adiante acabam
sendo manipuladas até que suas interpretações percam toda a veracidade.
Apesar de uma história óbvia, Wang não
quis entregar tudo de mão beijada logo de cara. Para ficarmos a favor da
protagonista, mais ou menos 20 minutos iniciais são gastos apresentando a
personagem Marisa, o seu universo, mas as coisas se desenrolam de forma
equivocada. Além de um discurso superficial e clichê sobre diferenças de
classes sociais, ainda existe tentativas frustradas de mostrar o cotidiano
conturbado da camareira, como lidar com a ausência do ex-marido que vira e mexe
frustra o filho com visitas e passeios que não cumpre, mas a certa altura
simplesmente esse problema não é mais mencionado e o próprio pai de Ty nem chega
a aparecer na trama. Até o tal conflito de classes não chega a ser bem
elaborado, ficando mais latente que o rápido e previsível rompimento do casal
principal pouco antes da reta final foi devido ao sentimento de ser enganado
vivido por Marshall, este que ainda merece um puxão de orelhas por não parecer
alguém disposto a brigar por uma vaga na política, mais um ponto que poderia
ser explorado pelo roteiro afinal é de conhecimento de todos que a imagem de um
candidato conta muito para sua vitória, assim como uma bela e respeitável
mulher como seu par também ajuda a angariar votos. Se o perfil e as tramas dos
protagonistas ficam só no feijão com arroz, mas sem direito a farofa, ao menos
o longa conta com bons coadjuvantes. Além do relevante trabalho do caçula do
elenco já comentado, temos ainda os sempre competentes Bob Hoskins e Stanley
Tucci respectivamente como Lionel Bloch e Jerry Siegel, um mordomo do hotel e
um assessor do político. Apesar de muitos ganchos desperdiçados, Encontro
de Amor não é um filme de todo ruim, pelo contrário, no conjunto
ele até rende uma boa sessão da tarde sem compromisso como já dito. A imagem de
mediocridade da fita que tantos fazem questão de perpetuar se deve, além do
óbvio preconceito que a senhorita Lopez sofre, ao fato do roteiro ser
preguiçoso e previsível, algo comum e aparentemente até apreciado no gênero,
portanto não configurando um problemão para seu público-alvo. De qualquer
forma, uma produção que na época do lançamento tinha um ponto de atenção
interessante: acompanhar uma história leve e romântica que se desenrola em uma
cidade que poucos meses antes vivenciou um dos fatos mais lamentáveis dos
últimos tempos. Este foi um dos primeiros trabalhos a captar imagens de Nova
York após a queda das Torres Gêmeas que eram um dos cartões-postais da cidade. Vendo
por esse lado, até nos esquecemos de qualquer problema que o filme tenha e
embarcamos facilmente no romantismo manipulado que Hollywood sabe fazer tão
bem. E os americanos estavam ávidos por essa magia, pelo menos é o que
justificaria a polpuda bilheteria que o longa arrecadou só somando as cifras
arrecadadas em sua terra natal.
Comédia romântica - 105 min - 2002
Um comentário:
O simples fato de ser a Jennifer Lopez a protagonista não me anima. Os poucos filmes que eu vi com ela me frustraram e não acho que seria diferente com esse filme, que já naturalmente parcee ruim.
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