Nota 6 Helen Hunt estreia como diretora demonstrando sensibilidade, mas se atrapalha com texto
Embora qualquer ator americano e até mesmo boa parte dos intérpretes de outras partes do mundo sonhem em ganhar um Oscar, há quem diga que a premiação carrega uma maldição. Avessamente ao esperado, dizem que quem coloca as mãos na famigerada estatueta dourada está fadado ao fracasso desse dia em diante. Bem, é claro que isso é uma crendice e existem muitos astros que faturaram até mais de uma vez tal prêmio e seguiram suas carreiras normalmente ou até com mais incentivos e propostas. Porém, o caso de Helen Hunt é um dos que alimentam a crença. Ela nunca foi de colecionar grandes papéis e despontou mesmo quando ganhou o Oscar e outros prêmios por sua atuação em Melhor é Impossível. Desde então, os convites tornaram-se escassos, quando surgem as propostas elas não são das melhores e até nos seriados de TV ela foi buscar refúgio. Talvez a maré baixa tenha feito a atriz se decidir em se lançar como diretora mesmo não estando pronta para a função como fica provado em Quando me Apaixono, drama água-com-açúcar com bom elenco, mas que não rende o esperado.
Além de dirigir, Hunt também produziu, roteirizou e estrelou este longa baseado no livro de Elinor Lipman "Then She Found Me" que conta com duas histórias que tentam ser narradas em paralelo, mas nenhuma delas com resultados plenamente satisfatórios. Helen dá vida a April Epner, uma professora primária que está vivendo um momento difícil de sua vida. Em questão de poucos dias ela perdeu sua mãe adotiva e foi abandonada pelo marido Ben Green (Matthew Broderick), o que acentuou seu sentimento de solidão, afinal ela está prestes a completar 40 anos e ainda não conseguiu realizar seu sonho de ser mãe. Para piorar o que já estava ruim, ela é procurada por Bernice Graves (Bette Midler), uma excêntrica apresentadora de televisão que afirma ser sua mãe biológica, que ela seria fruto de uma única noite de amor com o famoso Steve McQueen. Entre as dúvidas sobre a sua origem, os sentimentos confusos quanto ao ex-marido e a ansiedade da contagem regressiva de seu relógio biológico para poder gerar um filho, April conhece Frank (Colin Firth), o pai de um de seus alunos e que também está vivendo um momento difícil por conta de uma recente separação. Os sentimentos amorosos entre eles são recíprocos e esta seria talvez sua única chance de se tornar mãe, mas nem tudo corre como planejado.
April realmente consegue engravidar, mas na mesma época em que passou a flertar com seu novo amor também sofreu uma recaída e teve uma única e aparentemente inofensiva relação sexual com Ben. E agora, quem é o pai do bebê? Mais duvidosa que está pergunta é saber classificar esta obra em um gênero específico e definir qual a trama principal. Drama, romance ou comédia romântica? Há um pouco de tudo no texto de Hunt escrito em parceria com Alice Arlen e Victor Levin, o que pode justificar o desequilíbrio narrativo do início ao fim. Sabemos que a vida de todos é cheia de bons e maus momentos, mas quando acompanhamos situações do tipo compiladas em um filme não há tempo suficiente para absorver a cadência de emoções e o resultado final é que a trama parece uma colcha de retalhos que procura alinhavar com certa rapidez cenas que alternam tristezas e alegrias, porém, por vezes dispersando a atenção do espectador que pode não se sentir tão íntimo do universo da protagonista. Curiosamente, a introdução apressada parece desejar justamente o contrário. Em um curto espaço de tempo todos os personagens e conflitos principais são expostos como se Hunt tivesse pressa para chegar ao tema principal. O problema é que ela nunca chega a um denominador comum e até a última cena parece atirar para todos os lados.
Tal qual Hunt se aventurando na frente e atrás das câmeras, April está num momento conturbado e precisando conciliar muitas coisas ao mesmo tempo, assim ambas não conseguem ser perfeitas e cometem erros. Entre dois amores envolvendo sentimentos e razões diferenciadas e dois dilemas envolvendo a maternidade a cineasta de primeira viagem prefere tentar conduzir todos cedendo espaço proporcional a cada um deles. De qualquer forma, a protagonista é ligeiramente mais complexa que outras de produções do tipo e não é preciso fazer muito esforço para torcer por sua felicidade já que a simpatia e a naturalidade de sua intérprete se encarregam de conquistar o público. Hunt merece aplausos pela coragem de acumular tantas funções em um mesmo projeto, mas é uma pena que a história que escolheu aponta para muitos caminhos e exige uma mão mais firme. Um texto aparentemente simples, mas na realidade muito complexo para uma experiência de marinheira de primeira viagem. Todavia, o resultado final é um pouco acima do regular e erros grosseiros não existem na produção. A atriz e cineasta não nega suas essências e faz um filme que depende do elenco para acontecer e nesse quesito ela pode se dar por satisfeita.
Midler, que já foi até atriz exclusiva dos estúdios Disney provando seu prestígio no passado, há anos não tinha um papel tão bom e é ela quem traz luz ao filme com seu bom-humor natural, mas o trio de protagonistas também consegue passar ao espectador realmente a impressão de que seus personagens são reais, vivendo situações que qualquer familiar ou parente seu poderia perfeitamente enfrentar, resultados difíceis de serem obtidos em um trabalho de estreia. Broderick é experiente em viver adultos imaturos, personalidade que combina bem com seu rosto de eterno adolescente, enquanto Firth surge como aquele ser iluminado que aparece vez ou outra para ajudar alguém com problemas, ainda que ele próprio tenha suas neuroses e dilemas. Aliás, o controverso título encontra sua justificativa justamente no personagem Frank. Ele era o cara certo para April construir a família dos seus sonhos, porém, apareceu na hora errada. Por outro lado, Quando me Apaixono vende a açucarada ideia de uma típica comédia romântica, o que pode decepcionar boa parte dos espectadores, afinal esta é uma história que fala sobre mudanças na vida de uma mulher.
Drama - 100 min - 2005
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