domingo, 29 de outubro de 2023

O FADA DO DENTE


Nota 6 Brucutu protagonista literalmente precisa fazer mágica para voltar a ser feliz


Filmes de ação cheios de pancadarias e tiroteios sabemos que não são feitos para agradar famílias e sim o público masculino, mas sabe como é. O papai começa a assistir, logo a mamãe está do lado no sofá e as crianças colam junto por tabela vidradas em adrenalina. Sylvester Stallone e Bruce Willis foram alguns dos astros fortões que se viram forçados a procurar alguns roteiros mais amenos para agradar a uma parcela de público com o qual não sonhavam. Foram vários os tropeços saindo do campo da ação, mas Arnold Schwarzenegger se saiu ligeiramente melhor encabeçando clássicos sessão da tarde como Um Tira no Jardim Da Infância e Irmãos Gêmeos. Os representantes da nova geração movida a energéticos também se aventuraram como Vin Diesel em Operação Babá, mas quem defende com fervor a bandeira dos valentões de bom coração é Dwayne Johnson. Assim como os outros citados, o ator começou no gênero da pancadaria, mas seu sucesso extrapolou o campo da testosterona angariando fãs clubes feminino e infantil, assim não demorou muito para seu nome ser atrelado a comédias-família, geralmente tirando um sarro de seu jeito brucutu forçosamente tendo que aprender a lidar com crianças. O Fada do Dente deixa isso bem explícito. 

Johnson dá vida a Derek Thompson, uma ex-super estrela do hóquei no gelo, mas por conta de uma contusão acabou ficando afastado do esporte por um bom tempo e desacreditado em seu potencial. Quando volta, acaba se atrapalhando nas partidas e quase sempre arrancando um dente dos adversários sem querer, assim ganhou o apelido de O Fada dos Dentes, alusão a lenda que diz que a criança que perde um dente e o deixa debaixo do travesseiro ao acordar ganha um dinheirinho. Contudo, ele faz questão de jogar por água abaixo tal história arruinando os sonhos de Tess (Destiny Whitlock), a filha de apenas seis anos de Carly (Ashley Judd), sua namorada, que estava empolgadíssima com a perda de seu dente de leite, mas ele esqueceu de deixar a recompensa. Acostumado a fazer os outros desencanarem de acreditar em sonhos, inclusive fez um fã desistir de seguir sua carreira literalmente no grito, Thompson é recrutado pelas verdadeiras fadas para se redimir assumindo o papel de uma delas durante alguns dias. Para tanto ele acatará ordens da fada-chefe e linha dura Lily (Julie Andrews) e terá o auxílio de um consultor exclusivo, Tracy (Stephen Merchant), que mais o atrapalha que ajuda ressentido por não pode desempenhar a função encantada por ser desprovido de asas. 


Enquanto soa as asinhas para cumprir seus deveres noturnos com a criançada, Thompson também tentará reconquistar a confiança da namorada e da enteada, assim como tentar conquistar a amizade do filho mais velho dela, o adolescente em crise Randy (Chase Ellison). A graça fica por conta dos chamados da repartição das fadinhas (sim, é uma organização séria e cheia de burocracias) que sempre aciona o grandalhão em momentos inoportunos, como quando está namorando ou em meio a um jogo. A parte tocante fica pela relação que acaba sendo estabelecida entre padrasto e enteados, cuja turbulência não vai além de duas ou três birras. O diretor Michael Lembeck não ousa fugir às fórmulas do gênero, realizando um filme extremamente convencional, mas que diverte o público-alvo com a equação certa de fantasia, humor e sentimentalismo. Ele já tinha experiência na área visto que comandou dois capítulos da franquia Meu Papai é Noel que também narra a história de um homem com problemas conjugais e de relacionamento com crianças e que de uma hora para a outra se vê obrigado a assumir o lugar do bom velhinho, figura que tanto desdenhava. Muda-se as lendárias figuras e a ambientação e temos outro entretenimento para distrair a meninada que deve se empolgar com as cenas envolvendo um esporte teoricamente bastante violento. 

Escorregões, colisões, boladas e outros imprevistos que podem rolar numa partida colocam o protagonista a desarmar a cara fechada para literalmente abrir o bocão e usar o corpo musculoso para conseguir risos de piadas visuais, principalmente quando precisa vestir o uniforme de fada, uma malha bem justinha e com direito a apetrechos mágicos, como o pó de amnésia e a pasta encolhedora que reduz seu tamanho ao de uma formiguinha. O astro já tinha flertado com figurinos frufrus em Treinando o Papai, não por acaso mais uma vez interpretando um astro do esporte que precisa aprender a lidar com uma garotinha que cai de paraquedas em sua vida. Em time que está ganhando não se mexe, certo? Mesmo se repetindo, o ator conquista com seu carisma e disposição para a comédia, formando a imagem daquele amigo grandalhão e boa-praça que toda criança queria ter, principalmente para proteger quando preciso. Ainda assim precisaria de algum diretor mais pulso firme para encaminhar com mais coerência a transformação de seu personagem pragmático para alguém mais altruísta. É estranho que para construir um roteiro tão simplório tenham sido necessários cinco roteiristas. Joshua Sternin, Jeffrey Ventimilia, Lowell Ganz, Babaloo Mandel e Randi Mayem Singer apenas reciclam fórmulas e piadas já testadas e aprovadas, como conceitos de superação e redenção. 

Com todo jeito de produto típico dos estúdios Disney, na verdade esta é uma produção da Fox que nos últimos anos tem se empenhado a brigar por espaço e vir a se tornar uma referência de filmes livres para todas as idades. As franquias Uma Noite no Museu e Alvin e os Esquilos estão aí para comprovar. Apesar de não ser redondinho, O Fada do Dente cumpre seu propósito de entreter e transmitir sua mensagem edificante de que, seja você criança ou adulto, é sempre importante cultivar sonhos e tentar realizá-los. Com o relativo sucesso da produção, obviamente uma continuação foi realizada, porém, muito aquém do original. Escorado apenas em premissa semelhante e com elenco totalmente diferente, era de se esperar o fracasso do filme, não conseguindo nem mesmo espaço em repetecos na TV. Em tempo: Billy Crystal, cujas aparições estão cada vez mais raras, surge rapidamente no início e no final como Jerry, uma espécie de braço direito das fadas e responsável por oferecer as ferramentas de trabalho em uma esperta alusão a um emblemático personagem da franquia do agente James Bond.

Comédia - 101 min - 2009

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Um comentário:

GustavoPeres99 disse...

Adoro esse filme, o elenco é bom e a história é legal, fiquei triste que estragaram a continuação com o 2 totalmente diferente. Mais esse filme é bem legal vale a pena assistir