quinta-feira, 19 de outubro de 2023

JOGADA CERTA


Nota 4 Com o intuito de lançar ex-esportista como ator, longa é limitado e bastante previsível


O basquete é uma paixão dos norte-americanos, um esporte tão respeitado e que angaria tantos fãs quanto o futebol no Brasil. A modalidade também parece fazer a cabeça do roteirista Michael Elliot que explorou os conflitos das quadras no infantil Pequenos Grandes Astros e voltou ao mesmo cenário para a comédia romântica Jogada Certa. Bem, o longa protagonizado por Queen Latifah deveria divertir e emocionar, mas é tão esquemático que perde toda a graça em poucos minutos. A atriz dá vida à Leslie Wright, uma fisioterapeuta muito dedicada ao trabalho que não tem tempo nem mesmo para namorar, embora tenha sempre boas companhias masculinas por perto. Muito carismática e compreensível, ela mesma afirma que é a boa amiga que todo o homem quer ter, mas por ter passado dos 35 anos acredita que não tem mais chance de desencalhar. 

Fã de basquete, um dia Leslie tem a sorte de ajudar um grande astro do esporte, Scott McKnight (Common), que em retribuição lhe convida para ir a sua festa de aniversário. Pela primeira vez em muito tempo ela se sentiu animada e ter a certeza de que algo de bom poderia acontecer. Desacostumada a vida social e ao flerte, Leslie acaba cometendo o erro de levar na noitada a tiracolo Morgan (Paula Patton), uma amiga com quem divide a casa. De imediato McKnight se encanta pela moça e depois vai pessoalmente procurá-la para um convite mais íntimo. Muito educada como sempre, Leslie deixa o caminho livre para a amiga e passa a torcer pelo sucesso do relacionamento, embora saiba que Morgan é uma pessoa fútil e gananciosa. Quando já estavam até de casamento marcado, após um rápido namoro de três meses, McKnight acaba sofrendo uma grave lesão durante um jogo que o afastaria das quadras por várias semanas, o que o impediria de jogar na temporada e até mesmo atrapalharia a negociação de um novo contrato com o time. 


Diante da iminente derrocada do esportista, Morgan o abandona e Leslie tem a chance de se aproximar de seu ídolo. Inicialmente por solidariedade, ela até pede licença do trabalho para se dedicar em tempo integral a recuperação de McKnight visando seu retorno às quadras muito antes que o previsto. É óbvio que durante o longo tempo que passam juntos Scott acaba percebendo as qualidades de Leslie e se apaixonando por ela, mas quando recupera a fama Morgan volta a procurá-lo e o idiota sinaliza que ainda gosta dela mesmo sabendo que é uma golpista. Todavia, não é preciso ser adivinho para descobrir que a justiça será feita e o esportista vai reavaliar sua vida amorosa, optando por uma robusta que o ama ao invés de uma magrela que só lhe serviria para fazer bonito perante a mídia e lhe arrancar até as cuecas. Fica clara a alfinetada ao culto à beleza, mas a diretora Sanaa Hamri não se aprofunda na crítica.

A forma como trata o tema fica então estereotipada, como se qualquer gostosona que se envolva com um ídolo do esporte realmente só está de olho nos benefícios financeiros e materiais da relação. Já é um antigo arquétipo, mas para toda regra há uma exceção. Contudo, o avesso no caso, o amor puro sem segundas intenções, surge em um corpo com silhueta avantajada e desprovida de glamour.  O fato é que não é preciso chegar nem a metade do filme para nos perguntarmos qual o real objetivo de Jogada Certa? Esforçando-se para emocionar genuinamente, podemos dizer que a produção na realidade é um veículo para alavancar a carreira de Common, um ex-astro do basquete tentando ganhar mais algum tempo em evidência. Sem precisar fazer grandes esforços com o respaldo de um personagem pertencente a um universo que conhece profundamente, até que o esportista consegue enganar bem como ator. 


Se o possível ator não sai queimado do filme é por conta da química bacana que tem com Latifah que, diga-se de passagem, já estava a essa altura com a carreira consolidada e em um estágio que deveria escolher melhor seus trabalhos. Sua personagem é dramática assim como a essência do enredo, mas faltam ingredientes para sustentar a narrativa que soa desinteressante a maior parte do tempo. A corrente de filmes com mensagens positivas e edificantes aliadas a atividades esportivas há tempos não registra bons resultados para justificar novos investimentos do tipo, mas para quem gosta o longa deve garantir um passatempo razoável. Quem é o famoso atleta de sofá e procura qualquer coisa para matar o tempo também deve curtir.

Comédia romântica - 100 min - 2010 

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Um comentário:

GustavoPeres99 disse...

Eu só assisti esse filme uma vez, mais me agradou, vale a pena assisti-lo