sábado, 11 de dezembro de 2021

MALDIÇÃO (2005)


Nota 2 Boa premissa é desperdiçada por roteiro e direção fracos, além dos clichês mal utilizados


Os filmes sobre casas mal assombradas hoje em dia não surpreendem mais e, em geral, tais produções decepciona. Se o excesso de clichês é apontado como o principal fator de repulsa por boa parte dos espectadores, o que dizer quando tais situações repetitivas são ainda mal utilizadas? Esse é apenas um dos problemas de Maldição, produção que desperdiça uma boa premissa. A trama se passa em meados do século 19 e gira em torno da família Bell, pessoas comuns que veem suas vidas alteradas completamente da noite para o dia. John (Donald Sutherland), o patriarca, é um homem respeitado e que leva uma vida harmoniosa ao lado da esposa Lucy (Sissy Spacek) e dos filhos, mas a calmaria é interrompida quando ele entra em conflito por causa da posse de um terreno com uma moradora da região, Kathryn Batts (Gaye Brown), conhecida por ser adepta da feitiçaria e que teria conjurado forças demoníacas para se vingar do clã. De uma hora para a outra a casa dos Bells passa a ser aterrorizada por eventos sobrenaturais que atingem principalmente Betsy (Rachel Hurd-Wood), a filha adolescente de John. Barulhos estranhos, objetos que se movem sozinhos e a garota flutuando no ar, sendo espancada ou arrastada brutalmente por forças ocultas. Realmente a rotina da casa torna-se um verdadeiro pesadelo, principalmente durante a noite. 

Os Bells tentam desesperadamente encontrar uma forma de limpar a residência dessas energias malignas com a ajuda da racionalidade do professor Richard Powell (James D’Arcy), e da religiosidade do amigo James Johnston (Matthew Marsh), mas parece que tudo é em vão e os ataques se tornam cada vez piores, levando John também a um estado de loucura. O enredo é esse, básico e nada mirabolante, apenas o mínimo exigido de uma história que pretende gerar calafrios no espectador. O problema é que a tensão esperada não demora a dar lugar a risos, bocejos ou sinais de impaciência. Além da narrativa tediosa e confusa, os péssimos efeitos especiais colocam a jovem Betsy em situações ridículas de possessão, nada assustadoras e sendo até possível encontrar falhas de aparatos usados para sustentar a personagem no ar, coisas que deveriam ter sido apagadas na pós-produção. O filme não era para ser assim, afinal de contas a fonte de inspiração é das boas. Lançado pouco tempo depois do ótimo O Exorcismo de Emily Rose, vendido como o primeiro caso de falecimento por possessão registrado nos EUA, esta obra de terror viria a desmentir tal publicidade resgatando do fundo baú os eventos vivenciados pela família Bell que culminaram em uma morte.


Apesar da polêmica quanto ao primeiro registro de falecimento comprovadamente ligado a entidades demoníacas, o fato é que isso em nada agregou ao trabalho dirigido e roteirizado por Courtney Solomon que baseou-se no livro "The Bell Witch na American Hauting", do escritor Brent Monahan, porém, já foram publicados pelo menos duas dezenas de obras que exploram este mórbido episódio que atormentou uma família por cerca de dois anos e até hoje rende discussões visto que a cidade de Adams, no Tennessee, que serviu de palco para o show de horrores, ainda vive com medo de que forças do mal voltem a assombrá-la. Os eventos paranormais que atingiram Betsy foram documentados por pessoas que viram com seus próprios olhos as manifestações demoníacas, mas investigações posteriores trataram de encontrar justificativas plausíveis para as situações impactantes e diminuir a força da lenda, chegando ao ponto de afirmarem que a primeira publicação sobre o caso foi baseada em relatos de segunda mão ou até mesmo não passava de um romance que extrapolou as expectativas e foi elevado a uma lenda urbana. Verdadeiros ou não, é certo que os relatos e estudos publicados coincidem em alguns pontos. Nenhum deles nega a rixa entre John e Kathryn e que o estranho comportamento de Betsy, que começou após a briga, só veio a cessar com uma tragédia.

Fascinado por este pitoresco episódio, Solomon acabou se perdendo em meio a suas teorias mirabolantes e sua fraca e preguiçosa direção propicia momentos difíceis de engolir, como quando Betsy flutua no ar e é estapeada por forças ocultas. No filme tal sequência pode fazer alguns gargalharem, de forma alguma chega ao nível de cenas de O Exorcista na qual até acreditamos ser possível uma cabeça girar 360 graus tamanho o capricho da produção para criar clima de tensão, mas realmente existem relatos testemunhais sobre essa cena documentados em diversos livros, assim como afirmações de que na residência era possível se ouvir vozes apavorantes e de que um enorme lobo preto era visto pelas redondezas. Solomon até cria em alguns momentos uma ambientação propícia à sensação de horror, investindo principalmente na exploração do cenário da residência da família e numa iluminação e fotografia que flertam com o esverdeado e o azulado, algo que traz certo ar de envelhecido às cenas, mas no geral não consegue captar a atenção do espectador devido aos diálogos fracos e ao excesso de situações previsíveis e mal realizadas. Mais misterioso que os fatos que originaram o filme é saber o que levou os veteranos e conceituados Sutherland e Spacek a embarcarem neste engodo. 


Solomon ainda acrescentou uma subtrama passada na época contemporânea (lembrando que é uma produção de 2005) a respeito de uma jovem  (Isabelle Almgren-Doré) que vem sofrendo com as perseguições de uma assombração. A mãe (Susan Almgren) encontra por acaso uma velha carta escrita por um ex-morador da residência e que traz detalhes do que aconteceu no passado no local, algo ligado a uma crença de que garotas adolescentes tem o poder de atrair energias negativas. Esse é o prólogo do filme que então embarca em um longo flashback que esmiúça os eventos sobrenaturais vividos pelos Bell. As personagens, que em pleno século 21 ainda sofrem consequências da tragédia, só voltam a aparecer nos minutos finais para uma estranha conclusão que só nos leva a avaliar que esse gancho com a realidade é totalmente desnecessário e só contribui para aumentar as críticas negativas, de que o filme foi criado e editado de maneiras desesperadas de se chegar a alguma unidade, o que de fato não acontece.  Os realizadores tentam no final, através de uma rápida explanação por escrito, justificar Maldição como o ponto de vista que julgavam o mais crível diante de tantas hipóteses. 

Terror - 91 min - 2005

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