terça-feira, 12 de outubro de 2021

DESVENTURAS EM SÉRIE


Nota 9 Baseado em livros infanto-juvenis, obra encanta com seu texto apurado e esmero visual


As produções com temáticas fantasiosas ou oníricas bombaram nos anos 1980, como A História Sem Fim, A Lenda e A Princesa Prometida, mas continuam com tudo ainda hoje, agora também tendo como suporte a literatura. Visando lucrar não só com o filme em si, mas também com bugigangas e produtos alimentícios, por exemplo, muitas produtoras e estúdios bancaram as adaptações de livros que não raramente caíram no gosto popular, porém, nem todos os filmes representantes dessa corrente foram sucesso ou alguns precisaram da ajuda do tempo para consolidar-se. Contemporâneo as sagas Harry Potter e O Senhor dos Anéis, por exemplo, Desventuras em Série é um título de destaque desta safra, ainda que sua publicidade não tenha tido o alicerce de um conglomerado extra de produtos para garantir sua longínqua vida. Contudo, até hoje ele permanece vivo na memória de quem o viu e aguçando a vontade de novos espectadores simplesmente com sua história deliciosa e criativa que mescla fantasia, humor, suspense e até drama em doses generosas para agradar crianças e adultos. 

Baseado na série de livros "A Series of Unfortunate Events", de Lemony Snicket (pseudônimo de Daniel Handler), o longa conta a história dos irmãos Baudelaire, Klaus (Liam Aiken), Violet (Emily Browning) e a bebê Sunny (Kara e Shelby Hoffman, gêmeas que se alternaram nas filmagens), que repentinamente recebem a notícia de que seus pais morreram em um incêndio. Como são menores de idade, eles não podem herdar a fortuna da família até que Violet, a mais velha dos três, completar a maioridade. Enquanto isso, eles devem ficar sob a tutela de algum parente. Assim, as crianças são levadas pelo Sr. Poe (Timothy Spall), um amigo da família, para morar com o Conde Olaf (Jim Carrey), um parente distante, muito ganancioso e esquisito, que deseja tomar a fortuna deles. Para isso, ele não medirá esforços para se livrar do trio. Começa assim a peregrinação das crianças em busca de uma vida digna de casa em casa de parentes excêntricos e desconhecidos, mas sempre com Olaf por perto preparando alguma armadilha, afinal se nenhuma das crianças existissem um outro parente poderia usufruir do benefício legalmente.


A série literária conta com 13 volumes, mas o diretor Brad Silberling optou por combinar eventos que ocorrem nos três primeiros livros intitulados "Mau Começo", 'A Sala dos Répteis" e "O Lago das Sanguessugas". A narrativa adaptada com maestria por Robert Gordon não é fragmentada para destacar cada um dos enredos, pelo contrário, eles são unidos com perfeição. Carrey, mais uma vez com suas caras e bocas, se desdobra para dar vida a diversos e excelentes personagens, mas todos oportunistas. Onipresente em quase todo o filme, o ator ganha companhias ilustres em dois atos. Billy Connolly surge como o Tio Monty, um apaixonado por natureza e animais, principalmente pelas serpentes, enquanto Meryl Streep marca presença como a Tia Josephine, uma senhora neurótica por manias e cuidados exagerados. Compilar em pouco mais de uma hora e meia tanto material não é tarefa fácil e obviamente houve algumas adaptações. Algumas características dos personagens foram modificadas, passagens foram descartadas e até o tom melancólico das obras foi atenuado, mas o que importa é o resultado final. 

Além do excelente texto e das interpretações vigorosas do elenco, embora Carrey exagere em algumas cenas, merece destaque a parte técnica. O aspecto artesanal é o grande charme de Desventuras em Série que dos figurinos de época à direção de arte rebuscada abusa dos tons escuros, assim colaborando para a construção de uma atmosfera que deixa no ar certo mistério, parece que sempre algo de ruim está para acontecer. De fato, quando as coisas estão entrando nos eixos na vida dos órfãos, a virada negativa não tarda a acontecer. Mesmo assim, no conjunto, o espírito de aventura, fantasia e diversão sobressaem. Poderia até ser intitulado de "Super Baudelaires Contra o Baixo Astral"... Ok, trash demais, ainda que defina bem a proposta da produção, mas o título nacional adotado felizmente foi bem escolhido. Interessante que o estilo gótico e excêntrico da obra de imediato nos remete ao universo das produções de Tim Burton, mas o diretor não se envolveu no projeto nem mesmo como produtor, mas certamente deve ter servido como inspiração para Silberling.


Embarcar nesse mundo melancólico e ao mesmo tempo excitante é tão rápido quanto a introdução do longa que apresenta uma simpática animação com um elfo feliz cantando e saltitando por uma floresta. Todavia, o narrador (Jude Law fazendo as vezes do próprio autor dos livros) já nos alerta que a história a seguir não é nada alegre e colorida. O aviso é para preparar o clima, mas a diversão é garantida. Hoje podemos perceber com mais clareza que a mistura de gêneros proposta nesta obra funciona muito bem e mesmo alinhavando fragmentos de diversos livros a narrativa tem começo, meio e não deixa o final em aberto para uma continuação, felizmente, já que não houve interesse em gerar uma franquia. É uma pena que o restante das publicações da série não ganharam versões cinematográficas, o que já indica que algo saiu dos eixos na produção, provavelmente por causa dos lucros que não cobriram significativamente o que foi investido, já que na época a pirataria corria solta. 

Vencedor do Oscar de maquiagem

Aventura - 108 min - 2004

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2 comentários:

Gilberto Carlos disse...

UM filme bem interessante. Adoro a participação de Jim CArrey e Meryl Streep.

GustavoPeres99 disse...

Vejo muito esse filme, minha preferida é a Violet