sábado, 27 de novembro de 2021

A ÚLTIMA PREMONIÇÃO


Nota 2 Clichê, enfadonho e com atuações fracas, longa tenta em vão surpreender na conclusão


O título nacional vende bem o peixe. Ou seria o contrário? A Última Premonição tem a proeza de entregar em apenas duas palavras o desfecho de uma história completamente insossa, porém, há quem aponte o último ato como uma cartada certeira para compensar a chatice do restante do filme. Surpreendente ou não, o desfecho não é o suficiente para poupar o diretor Kevin Greutert de umas broncas. Parece que se esforçou propositalmente para criar uma das piores produções de suspense e, assim como em em seu trabalho anterior Jessabelle - O Passado Nunca Morre, o cineasta se cercou de praticamente todos os clichês possíveis, a começar pelo gancho da protagonista traumatizada que se muda para um local isolado para recomeçar a vida. O casal Eveleigh (Isla Fisher) e David Maddox (Anson Mount) decidem deixar a cidade grande e adquirem uma chácara no interior onde pretendem reativar um abandonado vinhedo. Contudo, logo são questionados sobre a coragem de investirem tempo e economias em um local onde nada rende frutos, um sinal de que deveriam repensar se fizeram um bom negócio. 

Ganhar dinheiro para eles na verdade é o de menos. O casal na verdade quer oferecer uma melhor qualidade de vida ao filho que estão esperando e esquecer as lembranças de um acidente de carro no qual Eveleigh se envolveu e que resultou na morte de uma criança. A moça desde então vive atormentada, principalmente agora que vai ser mãe, mas a mudança de endereço parece só ter piorado as coisas. Dia e noite ela é torturada por vozes, pesadelos, barulhos estranhos e visões de um vulto encapuzado. Para variar ninguém vê ou escuta tais alucinações e como sua atual residência é envolta de mistérios a jovem acredita estar tendo visões de alguma tragédia ocorrida por lá, mas como o infeliz título deixa explícito não se tratam de memórias despertadas e sim previsões de algo que irá acontecer, mas Eveleigh só se dará conta disso tarde demais. Quantas vezes você já assistiu filmes com o mesmo argumento? A julgar pela enorme quantidade de produções que exploram tal temática, a gravidez que deveria ser um momento sereno e de felicidade está se tornando sinônimo de pesadelo. 


A história de L. D. Goffigan e Lucas Sussman abusa dos clichês e de situações esquemáticas e tem a ousadia (e isso não é um elogio) de em seu clímax evocar memórias do clássico O Bebê de Rosemary culminando em um dos desfechos mais estapafúrdios do gênero que reconhecidamente é bastante flexível quanto a exageros e reviravoltas, mas no caso é um ultraje a inteligência do espectador. Greutert leva o filme todo na base do banho-maria, mas no clímax engata uma marcha desenfreada e as revelações e os momentos de tensão são simplesmente vomitados na tela sem a menor cerimônia. Não há tempo suficiente para conectarmos todos os estranhos eventos que vimos até então com o que é apresentado na conclusão, assim é de se estranhar a grande quantidade de criticas favoráveis ao desfecho, embora seja unânime a opinião de que seja qual for a interpretação do final nada salva a produção do esquecimento. A maneira desprezível como foi tratada pelos próprios produtores assinala que a fita já nasceu condenada ao limbo. Após o término das filmagens foram quase dois anos de inércia devido a rejeição em exibições-teste e quando o filme finalmente recebeu sinal verde para lançamento acabou arremessado diretamente em serviços de streamings e mídia física.

Pobre Fisher que apostou suas fichas seduzida pela vaga de protagonista. Até então ela só havia ocupado tal posto na divertida comédia Os Delírios de Consumo de Becky Bloom que no fundo não lhe exigia tantos esforços. Já neste thriller a atriz precisaria se empenhar bem mais para convencer como uma mulher perturbada, mas aparentemente ela própria estava tão desmotivada pelos rumos do projeto que se limitou a fazer caras e bocas risíveis. Nem é tanto por sua culpa. O próprio roteiro não lhe oferece material necessário para desenvolver sua personagem e não há nem mesmo química entre ela e Mount, este particularmente apático, para torcermos por um final feliz para o casal. Os demais coadjuvantes também só estão em cena para encher linguiça. Jim Parsons como o Dr. Mathison e Eva Longoria como Eileen, respectivamente o médico e a melhor amiga da protagonista, estão em cena apenas para servirem de ouvintes passivos das lamúrias da moça enquanto Joanna Cassidy com sua Helena é descartada sem rodeios a certa altura mesmo tendo papel crucial nas revelações do enredo. 


Por fim, temos também Gillian Jacobs como Sadie, vizinha de Eveleigh que coincidentemente (ou não) também está grávida, mas cuja personalidade sofre uma alteração tão brusca que fica difícil engolir a justificativa. Aliás, a trama como um todo é difícil de conquistar, acompanhamos tudo com total distanciamento e nem as sequências de sustos conseguem despertar interesse. Tudo é muito artificial e Greutert parece perdido sem saber o que fazer com um enredo tão sem pé e nem cabeça. Com seu final supostamente surpreendente, mas ao mesmo tempo confuso e fantasioso, A Última Premonição tropeça justamente por querer ser mais do que pode. Falta identidade ao filme que se arrasta em uma colcha de retalhos de sustos previsíveis e enfadonhos e um clímax que parece ter sido escrito de última hora no próprio set de filmagens. Apesar da curta duração, não chega a uma hora e meia, a fita ainda assim parece durar uma eternidade.

Suspense - 83 min - 2015

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