quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

A FACE DA MORTE


Nota 1,5 Com trama chata e péssimas atuações, longa tenta em vão manter o estilo slasher vivo


Os slashers movies, os filmes protagonizados por assassinos mascarados, tiveram seu auge nos anos 1980 e ganharam sobrevida na década seguinte, mas já faz algum tempo que o subgênero nada contra a maré para não ser extinto. A Face da Morte é mais um título que tentou reavivar o estilo e quem sabe emplacar uma franquia, mas não deu certo. A trama nos apresenta à Ashley (Caitlin Gerard), uma jovem com pinta de nerd que está tentando superar a morte da mãe e ingressando na faculdade. Ela passa então a dividir uma casa com Proxy (Melanie Papalia), uma garota animada e espirituosa que logo de cara a convida para uma festa que nem ela mesma conhece os convidados. Ou melhor, ela conhece a maioria, só que apenas pelos seus apelidos que usam em bate-papos na internet. É assim que elas conhecem Binder (Shane Dawson), um rapaz que lhes conta sobre uma lenda urbana envolvendo um serial Killer apelidado de Smiley que ataca quando invocado em um site de webchat. Na tal página os usuários não conhecem uns aos outros previamente e, motivados pela curiosidade, não perdem a chance de comprovar se o boato é verdadeiro, assim digitam por três vezes consecutivas a frase "eu fiz isso pela risada". Essa é a deixa para que o assassino surja do nada e mate o receptor das mensagens diante da câmera para deleite ou desespero do emissor, tudo depende do perfil do curioso. 

Ashley e Proxy então decidem tirar a prova dos nove imediatamente após voltarem da festa e, como diz o ditado popular, quem procura acha. Um rapaz começa a bater papo com as moças e de fato é assassinado ao vivo após elas lançarem a tal frase. O criminoso usa um capuz de pano que tampa todo seu rosto e remete a imagem de um emotion de felicidade, embora com olhos e bocas bordados como se fossem rasgados com faca. Smiley chega a encarar a câmera para observar as reações de quem está do outro lado da tela, assim Ashley, que já tinha um histórico de depressão e transtornos mentais, entra em parafuso e encasqueta que o tal assassino está em seu encalço. As mortes de pessoas próximas a ela só reforçam a paranoia. A premissa está longe de ser original, sendo apenas uma variação do jogo de perseguição proposto por qualquer filme da seara, seja para o criminoso se livrar de testemunhas de seus atos ou em nome de um falso moralismo buscando castigar aqueles que para seu próprio prazer desejaram a desgraça de outro. Como de costume, o longa já inicia com o assassinato de um personagem que desconhecemos totalmente apenas para já introduzir o mote principal da fita. Smiley mata os destinatários das mensagens como diz a lenda, mas também pode querer se livrar daqueles que o evocam e se tornam testemunhas de assassinatos. E  isso vira um círculo vicioso. 


O roteiro tenta ser mais inteligente do que realmente pode nos fazendo crer que a protagonista está apenas transtornada pela sensação de culpa que passa a carregar, pois ninguém acredita em seu pânico e nem mesmo há provas dos ataques que diz sofrer, mas mesmo se isso explicasse seu medo de estar sendo perseguida, como justificar a morte que presenciou on-line? Para sustentar a dúvida seria preciso nos importarmos com Ashley, entretanto, Gerard é uma péssima atriz e em nenhum momento nos convence do drama de sua personagem. Já começa mal mostrando uma ridícula inocência para alguém que está entrando na universidade, um passo que para ela parece apenas significar que a partir de agora pode fazer o que quiser e leva isso ao pé da letra entregando-se à drogas e bebidas e lembrando de seus problemas psicológicos somente quando lhe convém, deixando inclusive de tomar suas medicações. O contato com vícios é comum entre jovens em busca de aceitação em grupos sem pensarem nas consequências e obviamente não seria este pobre filme que viria dar lições de moral e fazer alertas. Assim, todo o elenco irrita pela superficialidade dos perfis que defendem, não salvando nem mesmo as atuações dúbias de Andrew James Allen como o estudante Zane, o organizador da tal festa de internautas que parece saber muito mais do que diz sobre a lenda do assassino, e tampouco de Roger Bart como Clayton, um professor que filosofa em suas aulas sobre ética e razão de maneira um tanto enigmática.

Na época de lançamento do filme os internautas, ávidos por novidades sempre, já consideravam os bate-papos tradicionais ultrapassados e já tratavam de lançar uma nova moda. A ideia para o longa surgiu da própria função do chatroulette, um sistema de conversas on-line que conecta um usuário a outro aleatoriamente, basta estar no chat no exato momento esteja em qualquer parte do mundo, mas a conversa pode ser interrompida sem mais nem menos e um novo internauta  assumir o lugar de algum participante. Com opção de mensagens escritas e imagens em tempo real via webcam, a ideia não é criar amizades ou fomentar namoros, mas sim apenas divertir sem compromisso com o contato com estranhos que querem apenas passar o tempo contando piadas, desabafando, fazendo coisas estranhas diante da webcam ou tentando enganar quem se conecta a ele, o popular trolar. A ferramenta então seria perfeita para pervertidos e tresloucados satisfazerem suas ansiedades teoricamente sem medo de arrependimentos ou problemas futuros. 


Embora o sistema chatroulette seja datado e o filme tenha sido produzido para aproveitar a modinha, a problemática que é levantada ainda se conecta com a realidade mesmo passado alguns anos. A internet oferece ferramentas que são pensadas para trazer conforto, diversão e suprir necessidades dos seres humanos, mas as vezes as concepções dos projetos não levam em consideração as consequências negativas que eles podem oferecer. O roteiro escrito por Michael J. Gallagher, que também dirige a fita, comprime o amplo universo alcançado por tal ferramenta e o restringe as imediações do campus da faculdade da protagonista para deixar o conflito mais intenso. Dessa forma, o longa assume o estilo de Pânico ou Lenda Urbana, por exemplo, com um vilão tendo facilidade para ceifar vidas próximas de sua vítima principal a fim de amedrontá-la até o encontro decisivo. Todavia, a contagem de cadáveres é insignificante e A Face da Morte acaba sendo uma cópia de tudo  que há de pior no gênero slasher, apoiando-se em sustos gratuitos e manipulados com o auxílio de uma edição frenética e sons estridentes nas sequências de tensão. Mais do mesmo e ainda mal feito.

Terror - 99 min - 2012

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