quarta-feira, 10 de junho de 2020

MALUCA PAIXÃO


Nota 3 Longa se apoia no carisma e repercussão de seus protagonistas, mas nem eles o salvam


Sandra Bullock e Bradley Cooper protagonizaram dois dos mais rentáveis e divertidos filmes lançados em 2009, respectivamente A Proposta e Se Beber Não Case, mas ironicamente foram unidos em um dos maiores vexames daquele mesmo ano, a comédia Maluca Paixão. Para o ator este seria apenas mais um equívoco em uma carreira que começava a dar esboços de um futuro promissor, mas para a eterna miss simpatia o projeto poderia acarretar pontos negativos. Várias atrizes recusaram o trabalho, mas sabe-se lá porque cargas d’água Bullock não só aceitou protagonizá-lo como também assinar como produtora executiva. Na trama roteirizada por Kim Braker, do também irregular Licença Para Casar, a atriz dá vida à Mary Horowitz, uma criadora de palavras cruzadas que com seu vasto vocabulário, inteligência e extroversão exagerada estava prestes a se tornar uma solteirona convicta, pois dificilmente um homem conseguiria aturá-la. A própria já era ciente disso, tanto que não botava fé no encontro às escuras que seus pais lhe arranjaram, mas para sua surpresa Steve (Cooper) é um bonitão e isso é o bastante para ela se animar. 

O entusiasmo é tanto que ela acaba assustando o rapaz com seu apetite sexual voraz, mas também o entediando com seu jeito de tagarela, contudo, nem percebe que tomou um fora em velocidade recorde, porém, de forma educada. Apaixonada e acreditando que existirão outros encontros, ela simplesmente resolve demonstrar seu amor criando uma cruzadinha sem sentido a respeito das sensações que teve nesse rápido encontro, o que lhe custa o emprego no jornal. De qualquer forma, a essa altura do campeonato isso pouco importa, pois está certa que encontrou o homem dos seus sonhos e o fato dele trabalhar no meio jornalístico como cinegrafista encara como uma prova de que o destino está a favor do casal. Steve está sempre viajando para gravar as matérias, mas agora com tempo de sobra Mary está disposta a acompanhá-lo para onde for preciso. Para piorar as coisas, o jornalista Hartman (Thomas Haden Church), com quem Steve disputa mais visibilidade na emissora, vai se aproveitar da situação para atrapalhar a vida do rapaz.


O início frenético até que não é um problema, afinal de contas a ideia é justamente contar a história de uma mulher que se apaixona literalmente à primeira vista e encasqueta que seu interesse é correspondido. O calcanhar de Aquiles são justamente as situações criadas para mostrar o desenvolvimento deste relacionamento. Se quando um não quer dois não brigam o mesmo vale para o amor. Mary é tão expansiva e entusiasmada que não percebe o papel de boba que faz, mas também não dá brecha para Steve se posicionar, assim o jeito é o cara tentar fugir, porém, ela parece farejá-lo esteja onde estiver. O bizarro romance ainda é alinhavado a uma crítica ao sensacionalismo que impera no jornalismo. Entre as bombásticas notícias que Steve e Hartman (a roteirista é tão crua que nem mesmo se atentou que é costume dos americanos chamar os homens pelo sobrenome) correm atrás está o caso de uma criança que nasce com três pernas e prestes a fazer uma cirurgia causa uma revolta popular a favor dos diferentes. Perceberam o nível? O diretor Phil Traill, em sua estreia na direção, até tem boa vontade em tentar injetar algum conteúdo em um argumento tão tolo, mas não basta a intenção, é preciso também talento. Ele coloca o jornalista diante das câmeras para fazer da morte de um cavalo um episódio de comoção , aborda ligeiramente as disputas entre emissoras em busca de furos de reportagens e como os fatos são manipulados até chegar ao público, mas tudo é tratado de forma tão brejeira que não dá para levar a sério.

Na reta final, Traill leva sua trama literalmente para o buraco quando a protagonista cai em uma mina e descobre uma criança com deficiência auditiva e provavelmente há dias desaparecida. É hora de unir o útil ao agradável e assim dar uma grande notícia para Hartman trabalhar e forçar Steve a reconhecer que Mary no fundo mexe com ele e é uma mulher extraordinária. A destrambelhada amadurece num passe de mágica e tem seu momento glorioso após cerca de um pouco mais de uma hora de cenas patéticas.  Apesar de ser totalmente esquecível e sem graça, o grande trunfo do longa é justamente a presença de Bullock. Embora carregando nos trejeitos, é impossível não rir ao menos um pouquinho com sua personagem caminhando a passos miudinhos, falando bobagens sem parar em momentos inoportunos e ao ver seu bizarro visual que conta com um ridículo corte de cabelo, uma sombrinha a tiracolo e um chamativo par de botas vermelhas que usa seja dia ou noite, faça chuva ou faça sol. A figura excêntrica condiz com a vida pessoal desta mulher. Além da cultura digna de uma enciclopédia e da profissão que poucos valorizam ou almejam, ela é uma quarentona que parece ter se acostumado a ser diferente, ou seja, não trilhou o trivial caminho do casar, formar uma família, ser realizada profissionalmente (sabe que é competente no que faz, mas seu ofício está por um fio com novas e virtuais opções de passatempo) e por aí vai. 


Para completar o pacote, Mary ainda voltou para a casa dos pais temporariamente por conta de uma dedetização em seu apartamento, todavia, parece que essa é apenas uma desculpa para justificar sua carência afetiva que a impediu de buscar sua total independência. Contando seus segredinhos para um hamster de estimação, não é de se estranhar que seus pais tenham recorrido a um encontro às escuras para tentar desencalhar a filha, mas umas visitas a um psicólogo antes viriam a calhar. Será que o médico sobreviveria às sessões com a tagarela falando sobre origens de palavras em desuso, lembrando de personalidades que só para ela tem alguma importância ou sobre a forma correta de responder palavras cruzadas? Bullock se esforça para tornar crível sua personagem, mas nada parece a favor, falta inclusive química com Cooper cujo personagem acaba parecendo um mero coadjuvante. Maluca Paixão é uma grande decepção desde o argumento e só mesmo a confiança na força do nome de uma atriz que é sinônimo de diversão para ter tido sinal verde para sair do papel. Curiosamente, um dia antes de ganhar o Oscar pelo drama Um Sonho Possível, a bem-humorada Bullock fez questão de ir pessoalmente receber o Framboesa de Ouro, o grande prêmio anual dos fracassados no cinema, pelo papel de Mary. Com tal gesto de humildade a atriz conseguiu passar por esse vexame ilesa e sem danos à sua imagem. Ponta para ela.

Comédia Romântica - 98 min - 2009

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Um comentário:

GustavoPeres99 disse...

Esse filme eu racho toda vez minha cena favorita é quando ela reencontra o cara e vai até ele igual doida kkkk