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NOTA 7,0 Explorando a temática de golpes, mas praticados por gente do bem em busca de justiça, comédia ganha simpatia por conta de elenco |
Podem reclamar quanto a
qualidade, mas é inegável que Eddie Murphy marcou época com filmes que mesclam
humor e adrenalina em doses generosas como Um
Tira da Pesada. Talvez buscando resgatar o espírito nonsense de produções
do tipo é que o diretor Brett Rainer investiu seus esforços na realização de Roubo nas Alturas, fita razoavelmente divertida,
bem-feita, mas que não resgata o prestígio do citado ator, embora ele roube a
cena toda vez que apareça com seu jeito malandro característico. Todavia, o
cabeça do elenco, ou no caso da quadrilha, é Ben Stiller. Ele não deixou de
fazer o tipo bom moço de sempre, mas as circunstâncias levaram seu personagem
Josh Kovacs a enveredar pelo mundo do crime. Ele é o administrador do Tower
Heist, um luxuoso edifício incrustado em Nova York, local frequentado por
pessoas endinheiradas, exigentes e que prezam por sigilo, assim ele trabalha
exaustivamente e impõe regras quase militares para seus subordinados e para si
próprio. Contudo, tanta dedicação é em vão. O equilíbrio do local é quebrado
quando surge a notícia da caça do FBI ao investidor Arthur Shaw (Alan Alda), um
dos inquilinos e um vigarista de mão cheia. Suas dezenas de negócios entram em
colapso, autoridades o acusam de fraude e da noite para o dia sua fortuna some.
Poderia ser apenas um problema pessoal do empresário, mas o gerente acaba sendo
surpreendido com o roubo de seu fundo de pensão que havia confiado ao executivo
para aplicações no mercado financeiro. O mesmo aconteceu com alguns colegas de
trabalho de Kovacs que então se unem para aplicar um golpe no magnata que está
sob regime de prisão domiciliar, mas desfrutando dos luxos de sua cobertura
cinco estrelas. Não bastasse a revolta por conta do golpe, o gerente ainda quer
vingança por causa do suicídio de um de seus amigos que entrou em desespero ao
saber que perdeu suas economias. Que dramático! Mas calma, lembre-se que é
Stiller quem chefia o bando, assim os risos estão garantidos. Não basta ter a
intenção de roubar, é preciso ter talento para a coisa, tudo que falta à Kovacs
que se junta aos também fracassados, porém, todos de bom coração, Sr. Fitzhugh
(Matthew Broderick), ex-morador do arranha-céu e acionista falido, Enrique
Dev’Reaux (Michael Peña), um ascensorista não muito inteligente, Charlie Gibbs
(Casey Affleck), seu cunhado e antigo recepcionista, e Odessa (Gabourey
Sidibe), uma camareira literalmente de peso e a única com certa habilidade para
golpes devido a seu traquejo para abrir fechaduras.

Filmes que exploram a
arquitetação de elaborados planos de roubos é quase um subgênero e em geral
atraem elenco de peso. Nos anos 2000 tivemos exemplares de sucesso como a
trilogia iniciada por Onze Homens e um
Segredo e Prenda-me se For Capaz,
roteirizados respectivamente por Ted Griffin e Jeff Nathanson que em Roubo nas Alturas somam seus conhecimentos a
respeito do mundo golpistas. A temática passou por uma evolução com O Plano Perfeito e chegou ao ápice (até
então) com o luxuoso Truque de Mestre. Guardada
as devidas proporções, até o Brasil se rendeu ao estilo com Assalto ao Banco Central. Contudo, se já
é difícil segurar as rédeas de uma intricada trama de golpe, imagine as
dificuldades para fazer o mesmo paralelamente ao desejo de fazer o público rir.
Hollywood lança comédias a baciadas anualmente, mas poucas realmente são
divertidas e Ratner infelizmente fica
só na intenção apesar do potencial do material que tinha em mãos. Não é a comédia
besteirol que evoca a união de seus astros principais, mas também não explora
todas as possibilidades de uma espécie de reinvenção do conto de Robin Hood. Stiller
está mais contido que de costume e os picos de humor ficam a cargo de Murphy
com seu manjado estilo ancorado por caretas bastante características. Fazia
tempo que o astro da comédia não tinha um papel tão apropriado e o veterano
Alda também aproveita a chance de compor um personagem dúbio, dócil e ao mesmo
tempo odiável. Broderick, marcante com suas comédias adolescentes ícones da
década de 1980, é quem acaba decepcionando como um executivo que tinha tudo e
de uma hora para a outra tornou-se um acumulador de dívidas. Embora habitué do
gênero, o ator, que parece dormir no formol conservando seu rosto de menino e
corpo franzino, tem um desempenho inexpressivo e é ofuscado até mesmo por
Affleck que começa pouco tímido, mas logo entra no ritmo. Temos também a
participação de Téa Leoni como a agente do FBI Claire Denham, inerente
interesse amoroso de Kovacs, embora vivam uma relação levemente diferenciada.
Curiosamente a atriz também atuou em As
Loucuras de Dick e Jane ao lado de Jim Carrey, fita bem mais divertida que
também aborda a crise econômica pelo viés de inocentes que caem em um golpe. De
qualquer forma, mesmo se entregando a inverossimilhança quando entra no ritmo
de adrenalina do último ato, inclusive tomando diversas licenças criativas que
abusam até das leis da física em função da diversão, é o talento do elenco
aliado a um roteiro que foge da mesmice do gênero que garantem um programa
acima da média.
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