segunda-feira, 6 de julho de 2020

VIREI UM GATO


Nota 3,5 Receita da troca de corpos é adaptada para um vencedor do Oscar encarnar em um felino


Existe a crendice de que atores premiados com o Oscar acabam reféns de uma espécie de maldição. De fato, depois de agraciados com a famigerada estatueta dourada, muitos não voltaram a receber bons roteiros e passaram a colecionar fracassos e críticas negativas. Para alguns o fundo do poço realmente é o destino enquanto outros tentam se equilibrar como podem para se manterem na ativa. Cuba Gooding Jr. e Kim Basinger são alguns exemplos de carreiras que estagnaram após o prêmio. E quem disse que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar? Kevin Spacey foi vencedor do Oscar em duas ocasiões, mas as coisas se complicaram. Seu nome continuou em evidência graças a série de TV "House of Cards", já que o cinema não lhe foi tão generoso. Contudo, é difícil imaginar o que o levou a aceitar protagonizar Virei Um Gato, comédia estritamente infantil. Acostumado a papéis densos e controversos, nada contra buscar projetos mais leves e até mesmo voltados às crianças para dar uma relaxada, mas no filme do diretor Barry Sonnenfeld definitivamente o ator não se encaixa. 

Na verdade, Spacey fica pouco tempo em cena, ao menos em carne e osso. Ele dá vida à Tom Brand, um ricaço dono de um império imobiliário conhecido por sua agressividade verbal e megalomania. Empenhado em construir o mais alto arranha-céu da América do Norte, sua ambição é tão grande que praticamente o impede de conviver com sua esposa Lara (Jennifer Garner) e a filha Rebecca (Malina Weissman), esta que carente de atenção deseja ganhar um gato de estimação como presente de aniversário. Embora deteste animais, Brand vai até a loja do excêntrico Felix Perkins (Christopher Walken) e compra um bichano, o Sr. Bola de Pelos, mas antes de ir para casa entregá-lo decide ir até o tal prédio em construção. Estressado com o engenheiro que coloca empecilhos quanto a realização de uma torre tão grande, o empresário se desequilibra durante uma tempestade de raios e acaba caindo do topo, mas milagrosamente tem sua vida salva. Ou quase isso. Seu corpo é levado para o hospital onde fica em coma, mas sua alma e consciência estranhamente foram transferidas para o gato, cujas ações e pensamentos são apenas entendidas pelo dono do pet shop que passa acompanhá-lo em sua via-crúcis.


A troca de personalidades, embora neste caso o humano não passe a se comportar como um felino, é um tema já bastante explorado pelo cinema e bastante nostálgico, característico de clássicos no melhor estilo sessão da tarde como Se Eu Fosse Minha Mãe e até o Brasil já experimentou a receita com Se Eu Fosse Você. Contudo, o roteiro impressionantemente escrito por um batalhão (Matt Allen, Dan Antoniazzi, Gwyn Lurie, Ben Shiffrin e Caleb Wilson) trata o mote do filme com displicência, sem oferecer qualquer explicação para o evento sobrenatural que serve apenas como uma desculpa para o protagonista ter algumas lições, descobrindo o quanto é importante para a família e o que os seus colegas de trabalho verdadeiramente pensam a seu respeito. Entre eles está seu ambicioso assistente, Ian Cox (Mark Consuelos), que deseja convencer a todos que o melhor para Brand seria ter os aparelhos que o mantém vivo desligados e assim não correr riscos de impedimentos quanto a venda da construtora. 

Contudo, David (Robbie Amell), o primogênito do empresário fruto de seu primeiro casamento, está disposto a impedir que o patrimônio do pai seja passado adiante, mas claro que como manda a cartilha desta espécie de subgênero das comédias, o rapaz resolve se mexer tarde demais, praticamente ao mesmo tempo que o Sr. Bola de Pelos resolve mostrar as garras, literalmente inclusive . Pensando nas crianças, o enredo não é o grande problema. Especialista em filmes famílias, Sonnenfeld, que usou e abusou de efeitos especiais em MIB - Homens de Preto, desta vez se complicou com o uso da computação para materializar façanhas impensáveis para um felino, visto que são animais de difícil adestramento. Assim, o conjunto todo ficou bastante artificial, já que a fita depende quase em sua totalidade das peripécias do gato. Quando não está em cena, os diálogos entre os humanos são bastante desinteressantes, mas para as crianças o que importa mesmo é ver o bichano. Bom, neste caso, também deve ser o único interesse dos adultos que as fizerem companhia.


Como qualquer filme-família que se preze, aqui fica também uma lição de moral, tanto para preparar os pequenos para o futuro quanto tentar corrigir os adultos do presente. A mensagem é clara: ambição combinada com obsessão não traz felicidade. Brand estava perdendo os melhores momentos de sua vida em família e a oportunidade de cativar amizades verdadeiras focado em seu objetivo de ser reconhecido profissionalmente, mas após ver de pé o seu tão famigerado maior edifício até então construído o que lhe restaria? Embarcaria em mais uma aposta para superar limites ou correria contra o tempo para recuperar tudo o que perdeu, como ver mais de perto seus filhos crescerem? Infelizmente, pode ser tarde demais para vivenciar certas coisas. Se não fosse tão infantilizado, Virei Um Gato poderia ser um daqueles filmes edificantes que perpetuam sua fama não importa o quanto envelheça com o bônus de usar o lúdico para passar seu recado. No entanto, o produto entregue é apenas um passatempo inofensivo e ligeiro a ser esquecido rapidamente.

Comédia - 87 min - 2016

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Um comentário:

Set cinema e entretenimento disse...

Grande crítica parabéns.Achei que o filme deveria ter sido mais bem escrito e com mais humor e sem Kevin Spacey.☺