Nota 7,0 Road movie tem ares setentistas e usa o suspense psicológico para prender atenção
Histórias sobre estradas mal
assombradas existem aos montes em qualquer lugar do mundo, mas muito mais
aterrorizante que almas penadas vagando por ai é pensar que sádicos assassinos
de carne e osso podem estar no veículo que está na frente do seu carro, te
vigiando no que vem logo atrás ou ainda o cercando pelas laterais. Pior ainda
ter a nítida percepção de que por vezes está sendo vigiado por uma figura
onipresente que pode te surpreender a qualquer momento não importa o lugar. É
essa sensação de claustrofobia a céu aberto que temos assistindo Perseguição - A Estrada da Morte, um suspense
com pegada jovem, mas muito acima da média do que geralmente é oferecido aos
adolescentes, assim tornando-se uma boa opção também para adultos, isso desde
que você não leve tão a sério o enredo que por vezes soa inverossímil. Faz
parte da diversão. Os protagonistas, na época em início de carreira, seguram
bem as pontas e apresentam desempenho infinitamente superior a muitos outros
jovens que se aventuram em fitas do gênero, mas isso não os livra de dar vida a
personagens estereotipados. O roteiro de Clay Tarver e J. J. Abrams (sim o cara
que lançou a série "Lost") acompanha a viagem do jovem Lewis
Thomas (Paul Walker) que vai atravessar
os EUA rumo ao Colorado para encontrar uma amiga que é a mulher de seus sonhos,
Venna (Leelee Sobieski), mas os seus planos românticos mudam quando ele precisa
primeiro buscar seu irmão mais velho, o arruaceiro Fuller (Steve Zahn), que
está saindo da prisão. Mesmo após a reclusão o rapaz não muda seu jeito e
continua aprontando confusões e acaba envolvendo o irmão em uma perigosa
brincadeira com um caminhoneiro através de um rádio antigo usado por motoristas
para trocarem informações. O homem misterioso se apresenta como Parafuso (no
original é chamado de Rust Nail) e cai na conversa dos rapazes na qual Lewis
finge ser uma mulher, a Docinho de Coco (ou Candy Cane), e marca um encontro em
um motel de beira de estrada. O que eles não imaginavam é que o destino se
encarregaria de transformar essa travessura em um tremendo pesadelo que só
viria a piorar quando Venna também cai no radar do sádico.
Mesmo sem ter fantasmas, monstros
ou assassinos mascarados, podemos dizer que esta fita do diretor John Dahl se
enquadra perfeitamente na definição de filme B: uma produção simples, eficiente
quanto a entretenimento e que transforma a falta de recursos em qualidades ao
optar por um tom mais realista, mas sem abandonar certos absurdos. A ideia
principal, um misterioso caminhoneiro que persegue motoristas por estradas
desertas, lembra muito a premissa de um dos primeiros filmes dirigidos por
Steven Spielberg, Encurralado, mas o
roteiro ainda bebe na fonte do sucesso A
Morte Pede Carona e o próprio diretor já havia se aventurado pelo terreno
dos road movies em Morte Por Encomenda.
Parafuso não está interessado em fazer picadinho de suas vítimas, mas sim
aterrorizá-las aproveitando-se de sua facilidade para surgir de onde menos se
espera e revelar detalhes particulares das ações dos jovens. Equilibrando
tensão, bons sustos, reviravoltas e os corriqueiros clichês e momentos de
alívio cômico, é praticamente impossível não roer as unhas com as diversas
cenas de perseguição e se arrepiar a cada nova aparição do imponente caminhão
acompanhando de uma perturbadora buzina. Explorando o campo do thriller
psicológico, Dahl constrói com perfeição o crescente clima de tensão em estar
na mira de um desequilibrado e conta com a ajuda de uma excelente parte
técnica, principalmente de edição, que injeta adrenalina na dose certa, e de
fotografia, que precisa driblar as dificuldades das cenas de perigo, a maioria tomadas
noturnas. Filmagens em ambientes escuros nem sempre geram bons resultados e
podem deixar o filme monótono, mas neste caso a iluminação e os ângulos de câmeras
foram escolhidos a dedo para criar a ambientação de uma estrada deserta, na
penumbra, e ainda assim oferecer nitidez aos espectadores. Contudo, não espere
ver em detalhes características do vilão. Sua identidade fica em segredo, mas o
roteiro peca ao não apresentar coadjuvantes suspeitos para instigar o espectador a brincar de detetive.
Sem apelar para sangue e violência gráfica, Perseguição
- A Estrada da Morte garante diversão de qualidade, ainda que
caminhe por uma estrada previsível e o final decepcione por deixar dúvidas no
ar.
Suspense - 96 min - 2001
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