segunda-feira, 8 de novembro de 2021

VEÍCULO 19


Nota 2 Mais uma vez atrelado a um carro, Paul Walker atua em ponto morto em obra descartável


Curiosa, mas trágica. Assim se pode definir a relação do ator Paul Walker com os automóveis. Catapultado ao sucesso na lucrativa série Velozes e Furiosos, na qual dirigia em alta velocidade e executava manobras radicais e perigosas sobre quatro rodas, quem imaginaria que com apenas 40 anos de idade sua trajetória seria interrompida de maneira brusca justamente em um acidente de carro que culminou em explosão. Pouco antes deste triste episódio o ator mais uma vez esteve à frente literalmente do volante de Veículo 19, thriller de ação genérico que ele próprio produziu e obviamente se encarregou de estrelar. Realizado a toque de caixa durante o intervalo de filmagens do quinto e do sexto episódio da citada franquia automobilística, somente a paixão por carros para justificar o interesse de Walker em protagonizar uma trama que não passa de um amontoado de clichês.

O longa é conduzido de forma enfadonha e quase amadora pelo diretor e roteirista Mukunda Micheal Dewill, este que elegeu uma cidade de sua terra natal, a África do Sul, como palco da ação. Sair dos manjados cenários do território norte-americano não foi por acaso, mas certamente uma exigência de produtores locais a quem o cineasta recorreu como última alternativa para conseguir financiamento para algo tão descartável. Walker interpreta Michael Woods, um rapaz americano que viola sua liberdade condicional para visitar sua namorada em terras africanas, mas imediatamente se mete em uma nova arapuca. Ao alugar um carro para sua viagem, jamais poderia imaginar que ganharia alguns brindes nada agradáveis. Além do modelo não ser o mesmo solicitado, ele começa a receber estranhas ligações por meio de um celular que estava dentro do veículo e ainda encontra documentos falsos e um revólver. Se não fosse o bastante, escondida e amordaçada no porta-malas está Rachel Shabangu (Naima McLean), testemunha-chave em um caso de corrupção policial e que está sendo perseguida pelos fardados.


Por tabela Woods também acaba na mira dos policiais corruptos, mas por estar ilegalmente em outro país ele não pode recorrer às autoridades locais e acaba sendo forçado a ajudar a tal mulher. Em meio a perseguições e ameaças, ele ainda tem que se preocupar em arranjar desculpas para a namorada que liga de cinco em cinco minutos desconfiada de sua demora para encontrá-la. Para se ter uma ideia da confiança que este filme despertava entre seus realizadores basta dizer que seu lançamento nos cinemas no início de 2013 ocorreu apenas em alguns países asiáticos, mas até mesmo nos EUA onde Walker contava com uma legião de fãs o longa foi direto para o mercado de home vídeo, assim como aconteceu no Brasil sendo apenas mais um título esquecível entre dezenas que desovavam mensalmente nas locadoras (hoje eles entopem os sistemas de streaming e são figurinhas fáceis nos canais fechados). 

Com sua ação se desenvolvendo quase em tempo real e praticamente toda dentro de um claustrofóbico cenário, Veículo 19 até tem um ou outro momento empolgante isoladamente, mas no geral fica com o pé estagnado na embreagem. Walker leva o filme totalmente nas costas, ou melhor, atrelado ao volante, mas a proposta exigiria os esforços de um ator mais versátil em cena, alguém com perspicácia para usar os poucos recursos oferecidos para alimentar sua interpretação. Sob pressão, nervoso, pensativo ou tentando manter a falsa impressão de que está tudo bem, ele não muda suas expressões e parece distante do universo de seu personagem, um comportamento no mínimo estranho para quem se envolveu até com questões de bastidores para a realização da fita. Os demais integrantes do elenco também oferecem o básico que se espera de um filme pequeno em todos os sentidos, do baixo orçamento a curta duração.


No piloto automático, Dewill também não encontra o tom certo para seu trabalho e deixa o carro morrer abrindo mão da ação em vários momentos para dar espaço a diálogos tolos e que forçam certa dramaticidade para transmitir a sensação da angústia de um estrangeiro perdido e encurralado em local desconhecido. Pior ainda, para manter o protagonista atrelado ao tal veículo do título, a trama é repleta de situações inverossímeis e estúpidas que culminam em uma conclusão sem combustível algum. Ainda bem que depois Walker conseguiu realizar boa parte do cronograma de filmagens do sétimo episódio da saga que lhe deu fama, caso contrário teria encerrado sua breve carreira com uma produção que passa longe de fazer jus a uma promessa do cinema de ação que estava em vias de se concretizar. 

Ação - 85 min - 2012

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