Nota 5 Capricho da parte técnica imprime a tensão que romance proibido fica devendo
Um filme assumidamente romântico casa bem com o gênero dramático e vice-versa, tanto que é bem difícil classificar produções do tipo, mas trabalhar aspectos pertinentes a estes dois universos somando-se a eles características típicas do suspense não é uma tarefa fácil e geralmente cineastas que tentam fazer tal junção acabam criando obras no máximo medianas, sendo a maioria esquecível e típicas produções para preencher as madrugadas dos canais de TV. Coincidentemente, temáticas sexuais são as preferidas de quem se aventura neste caminho. Paixão Sem Limites em sua premissa prometia algo bom, mas na prática decepciona principalmente por não criar vínculos concretos entre personagens e espectadores. A história roteirizada por Patrick Marber e Chrysanthy Balis se passa nos anos 50, na Inglaterra, quando o médico Max Raphael (Hugh Bonneville) é nomeado supervisor de uma remota clínica psiquiátrica. Para assumir o cargo, ele precisa estar presente na instituição dia e noite e por isso se muda para uma casa nas imediações junto com a esposa Stella (Natasha Richardson) e o filho, o pequeno Charlie (Gus Lewis).
Logo que inicia suas atividades, Max já percebe que terá que lidar com um possível rival profissional, o Dr. Peter Cleave (Ian McKellen) que já trabalhava no sanatório há muitos anos e esperava ser o escolhido para ser um dos chefes do local, porém, o principal desafio do médico talvez seja manter a harmonia em seu núcleo familiar já que se dedica demais ao trabalho. Stella sente-se entediada com o cotidiano do lugar no qual é obrigada a se reunir com as mulheres de outros funcionários e desiludida ela acaba não dando tanta atenção ao filho tal qual o marido faz. Dessa forma, Charlie cada vez mais se apega a Edgar Strak (Marton Csokas), um dos internos que matou a esposa e foi diagnosticado como portador de um severo distúrbio de personalidade. O rapaz dedica muito mais atenção ao garoto que o próprio pai dele e ao mesmo tempo ele desperta o interesse de Stella que pouco a pouco se aproxima dele sem dar bola para seu passado de caráter duvidoso ou seu problema psiquiátrico, se atirando literalmente em uma paixão sem limites, mas que chega a um ponto que se torna enfadonha aos olhos do espectador.
Baseado no romance "Asylum", de Patrick McGrath, o diretor David Mackenzie mais uma vez utiliza um argumento ligado ao prazer sexual como fio condutor assim com fez em seu trabalho anterior, o drama Pecados Ardentes. Além do amante e do marido que em determinado momento fatalmente desconfiará da esposa, Stella também se vê na mira do Dr. Cleave que demonstra ter interesse na relação dela com Edgar como um estudo de caso, uma análise sobre patologias sexuais visto que o rapaz sofre pelo ciúme doentio, quadro que o levou a esquartejar a esposa, e a sua nova paixão parece sentir-se atraída pelo perigo inerente nessa relação. Os primeiros minutos até que captam a atenção do espectador, mostrando o desejo latente que existe entre os amantes, a rotina de desilusão em que a personagem feminina está inserida e o clima de rivalidade que existe entre os dois médicos principais da clínica. Contudo, o desenrolar da trama deixa a desejar.
O principal fator negativo é que a certa altura o adultério já não convence mais, principalmente porque o diretor economiza nas cenas de intimidade, mas poupa na mesma proporção os diálogos entre Stella e Edgar, assim não se tornam compreensíveis os motivos que levariam esta mulher a arriscar o casamento aparentemente perfeito que tem. Geralmente quando há criança envolvida no enredo ao menos este gancho consegue fisgar a atenção, mas nem isso salva a produção neste caso tamanha a frieza que existe no relacionamento entre mãe e filho. O longa só empolga mesmo quando McKellen entra em cena trazendo em seus diálogos um pouco do mistério e do veneno prometidos pela sinopse e no momento em que Edgar revela seu lado psicótico, mas no geral a trama é levada a fogo brando e sem a fervura esperada, sendo que o clímax é previsível e conduzido de forma apressada.
Para salvar alguns pontos a obra, pelo menos a ambientação é adequada e imprime um clima melancólico e deixa no ar certa tensão, mas, no geral, Paixão Sem Limites tem em sua essência a fórmula de um telefilme, tanto que os pudores perceptíveis na edição, que reduzem ainda mais as possíveis curtas cenas de violência e tensão sexual, são vícios de filmes feitos para a TV, embora este aqui tenha sido lançado nos cinemas, ainda que de forma tímida. Todavia, com seu ar requintado de produção europeia, esta é uma opção que serve para um programa caseiro sem causar danos.
Drama - 90 min - 2005
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