terça-feira, 5 de outubro de 2021

BREAKDOWN - IMPLACÁVEL PERSEGUIÇÃO


Nota 7 Mesmo repetindo clichês, longa se beneficia com protagonista e conflitos verossímeis


Um cenário desértico por si só já é bastante perturbador, um lugar onde as regras não existem e só os mais fortes sobrevivem. Agora imagine como é estar no meio do nada e ainda se sentir encurralado. Breakdown - Implacável Perseguição trabalha com eficiência e bastante objetividade uma das maiores fobias que o ser humano enfrenta: o medo de encarar sozinho uma situação de extremo perigo, além de inesperada e inexplicável. O conflito vivido por Jeff Taylor (Kurt Russell) é passível de acontecer com qualquer um e intima o espectador a refletir sobre o que faria se vivenciasse situação parecida. Em meio a um gênero tão combalido já na década de 1990, quando todos os clichês de ação possíveis já haviam sido usados e reciclados em abundância, destaca-se o trabalho do então estreante diretor Jonathan Mostow que prova que sabia muito bem o que apresentar em seu debute no cinema. 

Dividindo o roteiro com Sam Montgomery, a partir de seu próprio argumento, o cineasta desenvolveu de modo direto uma história simples e que prende a atenção sem precisar apelar para reviravoltas mirabolantes. Ponto positivo também para a escolha do protagonista. Russell na época tinha predicados para se portar tanto como galã  quanto justiceiro e o diretor tira o melhor proveito disso, mas felizmente nunca alçando o personagem a condição de super-herói. Taylor é um cidadão comum e vulnerável que na companhia da esposa Amy (Kathleen Quinlan) está de mudança para a Califórnia buscando recomeçar sua vida profissional. Esperançosos, o casal atravessa vastas paisagens desérticas, mas no meio do caminho o carro quebra e o celular, para variar, não funciona quando é preciso. Esse parece ser o prenúncio de um pesadelo que de fato irá se concretizar. Eis que surge Red (J.T. Walsh), um caminhoneiro que oferece uma carona até o posto mais próximo de onde poderiam pedir ajuda. 


Relutante, Amy o acompanha até o local e o marido fica na estrada para tomar conta do veículo. Com tantas notícias e causos de criminosos que se aproveitam de turistas incautos, difícil compreender como o casal dá um mole desses. Fica a dica: sempre esteja acompanhado em locais do tipo, há loucos para tudo. Com a demora, o próprio Taylor dá um jeito no carro (era um suspeito cabo solto no motor) e vai até o tal posto onde ninguém diz ter visto alguém com as características de Amy e, para sua surpresa, inclusive Red, antes simpático e prestativo, nega que tenha oferecido carona a ela. Quando se dá conta que sua esposa simplesmente desapareceu de uma hora para a outra, a câmera vai se distanciando aos poucos do protagonista até chegar a uma tomada aérea que evidencia o quão pequeno ele é diante de fatos que escapam de seu controle. 

Taylor se vê indefeso em meio a dúvidas e acuado mesmo estando em um cenário que inspira liberdade. Desse ponto em diante, Mostow coloca o pé no acelerador e a adrenalina não para mais. Sequências de ação e suspense se entrelaçam com destaque para as situações-limite desenvolvidas no meio da estrada, a maioria com veículos em movimento, um deleite para os amantes do gênero. Além da edição de cenas e sonorização caprichadas, merece também destaque a trilha sonora tensa que colabora para deixar o espectador ainda mais nervoso e inquieto.  O protagonista, apesar de despreparado para enfrentar problemas em um ambiente tão estranho e hostil, até que se sai bem em perseguições, espreitando e bolando armadilhas, mas também sofre um bocado sob sol escaldante. Mesmo repetindo ideias de outros filmes, sendo a referência mais óbvia Encurralado, um dos primeiros filmes de Steven Spielberg, o roteiro consegue manter o clima de tensão constante e crescente.


Palmas para Russell que injeta vulnerabilidade e verossimilhança a um perfil que tinha tudo para descambar para a caricatura do homem pacato que repentinamente demonstra força e coragem. O ator soube cadenciar as emoções do personagem de modo a não comprometer o clímax. E se engana quem pensa que Russell teve uma rotina estressante durante as filmagens. Boa parte do orçamento foi gasto com viagens de helicóptero para que o ator voltasse para casa todos os dias para ficar com a família e descansar, regalias que os astros geralmente conseguem quando estão em evidência. Apesar de envelhecido, Breakdown - Implacável Perseguição continua sendo uma catarse de primeira linha e que deixa o espectador de olhos vidrados até os créditos finais. Divertido e provocador, como poucas fitas de ação de hoje em dia, o longa é uma aula de como injetar adrenalina sem subestimar a inteligência do público. Existe vida inteligente apreciadora de filmes de ação.

Ação - 95 min - 1997

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