sábado, 16 de outubro de 2021

HUSH - A MORTE OUVE


Nota 7 Apesar da ideia batida, fita ganha fôlego com limitações da mocinha e vilão sem escrúpulos


A Netflix virou a casa das pequenas fitas de horror e suspense. Pequenas em todos os sentidos. Além do baixo orçamento, são produções de durações enxutas, roteiro engessado e elenco com no máximo três pessoas, sem contar um ou outro que surge em poucas cenas e em nada agregam. Contudo, é preciso constatar: a maioria resulta em excelentes passatempos. Claro que isso se você não for muito exigente e tiver boa vontade para engolir certos exageros e devaneios e Hush - A Morte Ouve não foge à regra, apesar da premissa curiosa e os primeiros minutos serem instigantes.  O que uma pessoa surda, muda e solitária faria para se defender no caso de ser perseguida por um psicopata? Mantida para causar impacto, a palavra em inglês do título significa silêncio e isso é ao que basicamente se resume a vida da escritora Maddie (Kate Siegel) que perdeu a audição e a capacidade de falar ainda muito jovem por conta de um problema de saúde.

Como a maioria dos profissionais da área, a moça escolheu viver isolada em uma casa de campo onde poderia se inspirar e criar com mais tranquilidade, tendo como único contato pessoal a vizinha Sarah (Samantha Sloyan). Certa noite, surge em sua porta um criminoso (John Gallagher Jr.) disposto a não violentá-la sexualmente, mas sim psicologicamente e até a morte. O diretor Mike Flanagan não enrola e logo coloca vítima e algoz frente a frente, mas não sem antes usar a técnica da câmera fazendo as vezes da visão de um personagem. O psicopata, mascarado e armado com flechas, não mantém certa distância para observar seu alvo. Ele literalmente se põe a observar Maddie plantado em sua porta e ainda ousa a provocar com batidas no vidro, uma maneira de se divertir antes de entrar em ação, afinal de contas fizesse o barulho que fosse ela nem se daria conta por causa de sua deficiência. 


O bandido consegue entrar com facilidade na casa, mas não ataca a jovem de imediato. Primeiro surrupia o seu iphone para através de fotos evidenciar sua presença e quando a moça se dá conta que está em perigo consegue a tempo prender o bandido do lado de fora, mas na verdade é ela quem está presa em uma armadilha em sua própria casa. Com tudo meticulosamente calculado, o criminoso trata de furar os pneus do carro de Maddie e cortar a energia elétrica, assim são apenas os dois em um jogo travado em limitado espaço físico e sob a penumbra da noite. Se o vilão consegue entrar na casa e se aproximar da vítima facilmente, por que não fez o que pretendia de uma vez? Muitos podem questionar a estupidez do psicopata e reclamar das tentativas ridículas da moça em tentar fugir, todas obviamente a colocando em risco eminente, mas não há explicações plausíveis para atos de pessoas cruéis e insanas assim como na hora da tensão dificilmente alguém seria capaz de bolar um plano brilhante de fuga com todos os riscos calculados. 

A oportunidade faz o ladrão da mesma forma que encoraja quem está em perigo. O negócio é não se preocupar com detalhes facilmente percebidos por quem está de fora da situação e embarcar no jogo de gato e rato proposto pelo roteiro escrito pelo diretor em parceria com sua protagonista. Casados na vida real, o argumento surgiu de uma despretensiosa conversa entre os dois divagando sobre os perigos de uma mulher viver sozinha em um ambiente distante de tudo e de todos, ainda com o acréscimo dela ter certas limitações para levar uma vida completamente normal, o que traz certo frescor ao tema já bastante explorado e desobriga a produção de recorrer a recursos sonoros estridentes. Se já é assustador ouvir sinais de que está em perigo, imagine não poder identificar sons e depender apenas da visão ou tato. Dessa forma, Flanagan explora bastante as aparições repentinas do algoz assim como a vigília da vítima à expectativa de algum momento de descuido dele para fugir. 


Gravado em tempo recorde e com um mínimo de diálogos, sendo os de Maddie legendados, Hush - A Morte Ouve claramente tem inspiração em outros filmes da mesma seara como, por exemplo, o francês Eles e o hollywoodiano Os Estranhos, nos quais ataques domiciliares são realizados sem motivos aparentes, o que pouco implica quando o que está em jogo é o grau de tensão que a trama quer alcançar. Nesse ponto, a produção se sobressai com um crescente clima nervoso ativado pelas excelentes atuações. Gallagher passa boa parte do tempo com seu rosto exposto, revelando o grau de insanidade ou audácia de seu vilão que não se importa em ser identificado, afinal tem a certeza que sua vítima não escaparia com vida. Já Siegel equilibra-se entre o pavor e a coragem e demonstra sensibilidade ao compor uma deficiente longe do estereótipo de coitadinha e mais próxima do que esperamos do perfil de uma heroína. Só é uma pena que a conclusão seja extremamente previsível, mas o importante é ser surpreendido pelos caminhos que levaram a tal clímax.

Suspense - 87 min - 2016

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