Nota 3,0 Inconsistência emocional do roteiro e passagens desperdiçadas reduzem a obra

Um título bonito, trama
envolvendo crianças e nomes razoavelmente famosos constando nos créditos. Para
completar, aquela bela publicidade destacando um ambiente bucólico em tons
pastéis. Essa é a fórmula perfeita para um drama chamar a atenção,
principalmente quando ele é lançado diretamente em DVD. As cores claras parecem
um atestado de qualidade e se destacam em meio aos montes de filmes expostos
nas prateleiras de lojas e vitrines virtuais, mas é triste constatar que nem
sempre a receita dá certo como no caso de
Em Busca da Felicidade, produção
ligeira feito um rastilho de pólvora. A trama escrita e dirigida por Brad
Isaacs tem boas intenções, mas sua realização é difícil de engolir, ainda que
para espectadores menos exigentes o longa seja merecedor de elogios. Ben
(Cayden Boyd) é quem narra a sua própria história de vida. Prestes a completar
13 anos, ele já se sente em condições de fazer uma avaliação de tudo o que
viveu até então e o saldo é extremamente negativo. Para começar, ele afirma que
seu pai (Matthew Modine) e sua mãe (Lara Flynn Boyle) jamais deveriam ter se
casado, tampouco ter um filho. O garoto que recebe pouca atenção dos pais
nasceu de um encontro casual entre um homem que só pensa em cuidar do seu
barco, mesmo estando no Oeste do Texas a muitos quilômetros do mar, e de uma
mulher apaixonada pelas estrelas hollywoodianas, tanto que, ao que tudo indica,
trai o marido com tipos inspirados em personagens de filmes. Curiosamente, sua
família acaba aceitando em casa a presença de Cassie (Anna Sophia Robb), uma
garota que perdeu os pais em um acidente ocorrido bem na frente do restaurante
deles. Os dois pré-adolescentes insatisfeitos com suas vidas resolvem se unir e
fugir em busca de um plano de vida. Durante a trajetória, eles resolvem
reforçar a união em um casamento simbólico e vão seguindo em frente graças a
caroneiros que os ajudam e assim eles vão chegando cada vez mais perto da casa
dos tios de Cassie, vividos por Heather Graham e Dylan McDermont (os parentes
tanto da menina quanto do garoto não tem nomes mencionados), duas figuras um
tanto atípicas e sem padrões rígidos de comportamento, detalhe relevante já que
tudo indica que as ações se passam em meados da década de 1960 e em região
interiorana e tradicionalista.

A premissa simplória poderia
render sim um bom filme, ainda que previsível, mas o problema é que Isaacs
levou ao pé da letra o significado do termo “road movie” e realmente meteu o pé
no acelerador. Desde o início do filme já sentimos que a narrativa flui aos
trancos e barrancos, não segue uma cadência de emoções e manda as favas
qualquer comprometimento em desenvolver os personagens. Cassie é madura demais
para sua idade e parece não se importar com a perda dos pais e nem mesmo uma
justificativa capenga dada mais adiante nos fazem simpatizar com o drama da
garota. A ingenuidade que poderia existir no ato do casamento simbólico entre
os dois pré-adolescentes também não surte efeito positivo, pois não sentimos
aquela emoção da criança brincando de ser adulto, mesmo que para cada novo
indivíduo que cruze o caminho deles uma nova mentirinha seja contada. Não há
doçura nas interpretações do elenco juvenil e quanto aos adultos infelizmente
nem dá tempo para que eles cativem o espectador. Muitos personagens secundários
interpelam o roteiro, alguns inclusive que não agregam nada à narrativa, e
assim talento de pessoas como Val Kilmer são desperdiçados em participações
vazias. Pior ainda, nenhum desses estranhos oferece perigo algum aos menores e
tampouco questionam o motivo de estarem sozinhos vagando pelas estradas. São
como anjos celestiais que têm como missão encaminhá-los até o tal plano de
vida, termo que se torna chato de tanto que é repetido. É bastante incômodo
assistir uma produção que acaba ofendendo a inteligência do espectador.
Percebe-se que as intenções eram as mais ternas possíveis, realmente submergir
o espectador em uma trama onírica e edificante, mas um mínimo de realismo é
sempre necessário. Quem conseguiu achar
Em Busca da Felicidade um filme
razoável ou mais certamente é porque é adepto de obras açucaradíssimas ou se
apegou a lição de moral que serve como cereja de bolo, mas para quem já tem um
olhar crítico minimamente mais apurado a frustração é uma realidade logo pelos
dez minutos iniciais da projeção. Em tempo: lançado em meados de 2007, o título
é uma descarada tentativa de pegar carona no sucesso contemporâneo de Will
Smith,
À Procura da Felicidade.
Quantas pessoas acabaram comparando gato por lebre neste caso?
Drama - 86 min - 2007
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