![]() |
NOTA 8,0 Com argumento simples e piadas inteligentes aliadas à escatologia leve, comédia é um registro dos teens pré-virada do milênio revelando seus anseios e dúvidas |
No início da década de 1980 a
comédia Porky's causou frisson por
ser uma fita voltada ao público adolescente e que com muito humor e
descaradamente falava sobre sexo, mais especificamente sobre a descoberta dele
por um grupo de jovens. Expectativas e frustrações em meio a muita confusão
marcaram toda uma geração, tanto que gerou mais duas continuações e influenciou
várias outras comédias teens como O
Último Americano Virgem e A Primeira
Transa de Jonathan. De sacanagem literalmente, em menor ou maior
intensidade, é que tais fitas se sustentavam. Para alguns puritanos certamente
era o apocalipse ver em cena jovens discutindo sem pudor sobre a necessidade de
perder a virgindade e a colocando em jogo como um prêmio de aposta. Com o tempo
a temática caiu em desuso, mas eis que as vésperas do novo milênio ela
ressurgiu com American Pie - A Primeira Vez é Inesquecível,
virando uma febre imediata entre os adolescentes, afinal entre dúvidas quanto a
profissão a escolher, arranjar um emprego ou convencer os pais a lhe dar um
carro, sem dúvidas a questão de até quando permanecer intacto é o que mais os
perturba. É esse o grande dilema vivido por Jim (Jason Biggs) que está naquela
fase em que só pensa naquilo. Ele tenta aliviar seu problema com constantes
sessões de masturbação, mas vive metendo os pés pelas mãos. Melhor dizendo, no
caso ele mete o pênis em meias, travesseiros e até dentro de uma suculenta e
macia torta de maçã, daí a justificativa do título, e quase sempre é flagrado
por alguém. O mesmo dilema vem tirando o sono de seus amigos Oz (Chris Klein),
Kevin (Thomas Ian Nicholas) e Finch (Eddie Kaye Thomas). Prestes a se formarem
no segundo grau (para nós o ensino médio) eles estão pouco se lixando para as
provas finais e firmam um pacto de que todos vão perder a virgindade, ou
alcançar o Santo Graal como gostam de dizer para dar um sentido mais nobre a
missão, até a noite do baile de formatura. Detalhe, tem que transar com o
consentimento das garotas, não podem ser prostitutas.
Garotões, cheios de disposição e
com muita lábia, na teoria seria fácil cada um levar ao menos uma garota para a
cama, porém, na prática a situação é complicada. Vários vexames, desencontros e
situações imprevisíveis vão ensinar que não se pode estipular prazos ou fazer
planos. Cada um tem sua hora para perder a virgindade, podendo ser um momento
inesquecível ou pavoroso. Tudo vai depender do clima que vai conduzir o
encontro, da parceira, da real vontade de dar esse passo por livre e espontânea
vontade... São vários fatores que influenciam esse importante momento, mas é
óbvio que a comédia assinada pelos irmãos Chris e Paul Weitz (este que viria a lançar o cult Um Grande Garoto) nunca teve pretensões
de oferecer um tratado profundo sobre o assunto. Ainda assim, é uma comédia
acima da média para a temática. Sem dúvida um dos pontos altos do roteiro é a
embaraçosa relação de Jim com seu pai, Nohan Levenstein (Eugene Levy), que após
flagrar algumas vezes o filho se masturbando lhe cai a ficha que o seu
garotinho cresceu e subitamente começa a puxar assuntos sexuais com ele.
Divertidíssima a cena em que presenteia o filhão com diversas revistas pornôs e
tenta dar uma aula sobre genitais e posições eróticas. Mal sabe ele que há
muito tempo Jim tem estudado tais assuntos, só não fez ainda suas aulas
práticas. Tal gancho é de fácil identificação com o espectador, afinal muitos
pais decidem conversar sobre sexo tardiamente ou se fazem de cegos e surdos
eternamente para evitarem constrangimentos, o que resulta nos típicos problemas
sociais de gravidez indesejada, doenças sexualmente transmissíveis,
promiscuidade e por aí vai. Claro que como puro entretenimento o texto de Adam
Herz, que viria a escrever o roteiro de outros seis filmes da série, descarta qualquer
possibilidade de levantar algum tema mais sério. O grande dilema dos rapazes é
conseguir ir para a universidade com fama de pegador.
Além das vexatórias cenas de
educação sexual com o papai e da já citada masturbação com uma torta, o rapaz
ainda se complica tentando azarar a siliconada Nadia (Shannon Elizabeth), uma aluna
de intercâmbio. A garota invade o quarto do virgem e sem saber que as imagens
estão sendo transmitidas pela internet aos alunos do colégio começa a se despir
com total desenvoltura. Jim entra em cena pronto para os finalmentes, mas ela
impõem como condição para levá-la para cama que também faça um sedutor
strip-tease. Desengonçado, franzino e com uma broxante samba-canção, tudo que o
cara consegue é virar piada na escola, ainda mais porque chega ao orgasmo sem
ao menos tocá-la. Como tal envolvimento é apenas um fetiche de adolescente,
mais tarde ele vem a se apaixonar por Michelle (Alyson Hannigan), que lhe
confessa também adorar se masturbar. Aliás, a participação feminina é um grande
ponto diferencial em relação as comédias do estilo da década de 1980. As
meninas não estão em cena apenas para enfeitar com seus peitos e bumbuns
durinhos e não basta estalar os dedos para levá-las para a cama. As meninas
pré-virada do milênio demonstravam ter as mesmas vontades dos garotos quanto ao
desejo de satisfazerem todas as suas vontades, porém, sabem dizer não quando
querem. O perfil dos rapazes também mudou. Se antes eram retratados como
machistas, obcecados por sexo e a insegurança passava longe para evidenciar virilidade,
aqui eles não tem vergonha de expor seus medos e anseios, não só quanto a
vontades sexuais, mas a respeito de tudo que envolve o amadurecimento . Até os
nerds sempre pintados como bobões quando o assunto é sexo aqui deixam os
garotões cheios de marra para trás, mesmo que alguns às custas de mentiras bem
boladas. Procedido por duas sequências diretas, mais quatro disponibilizadas
diretamente em DVD e ainda um último capítulo reunindo a galera da trilogia
original, diga-se passagem, todos de qualidade inferior, American
Pie - A Primeira Vez é Inesquecível ainda diverte e sem dúvida é
uma referência sobre o universo juvenil no final do século passado. Mesmo com
internet ainda não tão popular, redes sociais restritas e sem aplicativos para
celular, essa galera dava sempre um jeitinho de dar uma azarada. É certo que os micos dos personagens são melhores lembranças que seus triunfos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário