Nota 3 Tecnicamente apurado e com astros de peso, drama é arrastado e soa ultrapassado
Um filme estrelado por dois dos astros mais badalados dos anos 2000 sob a batuta de uma cineasta premiada e admirada no circuito alternativo. Sucesso e Oscar à vista? Errado! Serena é uma grande decepção que só chegou a ser lançado, diga-se de passagem, após estrear somente em serviços de streaming mesmo nos EUA e ainda com atraso (um mal sinal), justamente por conta da ascensão meteórica de Jennifer Lawrence e Bradley Cooper. Baseado no romance do escritor americano Ron Rash lançado em 2009, o épico envolto em aura sombria rapidamente chamou a atenção de produtores e em pouco anos já ganharia sua adaptação cinematográfica. Em meados da década de 1930, em plena depressão econômica, os recém-casados Serena (Lawrence) e George Pemberton (Cooper) deixam a cidade de Boston para viverem em uma propriedade nas regiões montanhosas da Carolina do Norte onde pretendem se dedicar à exploração de madeira.
Todavia, o local está sob ameaça de ser transformado em um parque federal, assim eles querem tirar o máximo proveito das terras para enfim poder vir ao Brasil onde acreditam que seus negócios serão mais prósperos (doce ilusão). Tais planos já estavam na cabeça do rapaz antes mesmo de conhecer sua esposa, uma jovem que perdeu os pais ainda criança e posteriormente os irmãos em um incêndio. Desde então ela vive de favores e perambulando de um lado para outro sem destino certo. A paixão entre eles é instantânea e rapidamente estão casados, com ela assumindo não apenas a posição de primeira-dama da empreiteira do marido, mas também se posicionando como uma verdadeira líder, interferindo em praticamente tudo da empresa. Apesar de ter sido educada sob os preceitos da época, Serena demonstra um talento para os negócios incomum e o casal então consegue construir um império que cresce ano após ano na contramão da realidade e suas ambições não tem limites.
Tal relação obstinada aos poucos começa a se mostrar autodestrutiva apresentando reflexos negativos quando faz de Buchanan (David Dencik), o sócio do casal, a primeira vítima. Desde que o conheceu, Serena implica a ponto de fazer a cabeça do marido a assassinar seu melhor amigo em uma emboscada. E assim, pouco a pouco, os Pembertom começam a se indispor com todas as pessoas que cruzam seus caminhos e que possam de alguma forma representar algum tipo de ameaça à vida perfeita que idealizavam, mas a felicidade do casal é colocada em xeque definitivamente quando ela sofre um aborto e descobre que não poderá mais engravidar. Tal situação descontrola a moça e lhe desperta uma raiva que automaticamente é direcionada para o filho bastardo do companheiro, fruto de uma relação anterior ao casamento com Rachel (Ana Ularu). Se pessoas como Campbell (Sean Harris), um operário de confiança, ou até mesmo o xerife McDowell (Toby Jones) não representam grandes ameaças, a rival e seu rebento merecerão atenção especial da vingativa mulher que não se furta em bolar planos para se livrar deles com a ajuda de Galloway (Rhys Ifans), um capanga que lhe deve favores.
Christopher Kyle, roteirista do estranho O Peso da Água e da massacrada biografia Alexandre com Colin Farrell, ganha aqui mais um fracasso para seu currículo. Sua trama exagera na lentidão e apresenta protagonistas rasos. Cooper compõem um personagem passivo ao extremo ao passo que Lawrence carrega nas tintas de sua mulher perturbada não conseguindo atingir as nuances necessárias para nos convencer que ela sofre de problemas psicológicos. Fica muito mais latente um rancor por conta das adversidades que a vida lhe impôs na juventude. O roteiro perde ao se esquivar de questões mais sérias e históricas abordadas pelo romance original, como a ocupação das regiões centrais dos EUA em nome de um progresso desenfreado, assim, apesar da esmerada produção de época, o longa se resume a um passatempo tolo que não emociona em momento algum.
A premiada diretora dinamarquesa Susanna Bier, do vencedor do Oscar de filme estrangeiro Em Um Mundo Melhor, parece não estar muito a vontade no comando de uma produção americana. Foi escolhida pelos bons serviços prestados ao cinema da Dinamarca, que então ganhou relevância internacional, e parece ter ciência do que a indústria hollywoodiana esperava ao lhe oferecer esta oportunidade, todavia, sua preocupação em acertar acaba lhe atrapalhando. Sua mão pesada é sentida até mesmo na condução do elenco, apesar da química entre Cooper e Lawrence mais uma vez surpreender (o longa foi feito depois que atuaram em O Lado Bom da Vida). Serena engana com seu jeitão de dramalhão clássico, mas só deve levar o espectador às lágrimas por raiva e frustração.
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