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NOTA 5,0 Refilmagem de terror japonês mantém muitos elementos da obra original, inclusive o próprio diretor |
Diga o nome de um filme de teror
que você não resiste em rever de tempos em tempos. Obviamente esta é uma
pergunta mais destinada aos fãs do gênero e certamente eles buscarão a resposta
lá no fundo do baú e dirão que o seu preferido é O Exorcista ou O Bebê de
Rosemary. Poderão também recorrer aos longas de monstros clássicos vividos
por Bela Lugosi ou Christopher Lee ou ainda irão dizer que o melhor dos últimos
tempos foi Jogos Mortais enfatizando
que só o primeiro da série vale a pena. Mas e algum título da safra dos remakes
orientais produzidos em Hollywood? Ah, aí o bicho pega e todo mundo tem
vergonha de assumir que pelo menos uma vez na vida ficou de pernas bambas ao
ver uma assombração de olhinhos puxados. O período mais fértil dos remakes de
horror orientais marcou os primeiros anos do século 21, um movimento
cinematográfico que gerou milhões, mas fatalmente chegou à saturação
principalmente quando os longas originais conseguiram brechas para serem
exibidos nos cinemas e chegarem às locadoras ocidentais. Tudo que é demais
cansa e a qualidade das produções declinou tanto do lado ocidental quanto do
oriental. É certo que nenhuma delas tem potencial de obra-prima, mas não
podemos negar que essas tais refilmagens em sua maioria são divertidas e
cumprem seus objetivos: causar sustos, arrepios, gritarias e serem esquecidas
rapidamente (ou não, depende de cada um).
O Grito é um bom exemplo desse tipo de produção objetiva. Logo
no início tomamos conhecimento de uma crendice japonesa. Quando alguém morre em
um momento de raiva nasce uma maldição no local onde tal pessoa se encontrava
na hora da morte, assim quem entra em contato com o espaço acaba sendo
amaldiçoado e todos a sua volta correm o risco de morrer, inclusive o próprio
indivíduo desavisado. Em Tóquio encontramos a estudante americana Karen Davis
(Sarah Michelle Gellar) que foi morar lá para acompanhar o namorado Doug (Jason
Behr) e trabalha como voluntária em um centro social. Certo dia lhe é
solicitado que ela substitua uma jovem que não foi trabalhar e sumiu
misteriosamente. Sua tarefa é cuidar de Emma Williams (Grace Zabriskie), uma
senhora de idade que sofre de letargia associada à demência. Quando chega ao
local, Karen encontra essa mulher sozinha demonstrando um comportamento
estranho, muito calada e com olhos assustados, enquanto o resto da casa parece
abandonado. A voluntária trata de Emma e tenta dar um jeito na bagunça da casa,
mas sentindo uma vibração negativa e ouvindo barulhos estranhos ela passa a explorar
melhor o local e ao abrir um armário acaba liberando uma maldição que até então
desconhecia. Agora ela precisa tentar salvar sua vida e a de outras pessoas com
quem convive, mas para cortar este mal de vez talvez só mesmo tomando medidas
drásticas.

O bacana deste roteiro,
co-escrito por Stephen Susco, é que ele não enrola e desde os créditos
iniciais, embalado por uma sinistra trilha musical, já estamos tomados pelo
sentimento de medo. Aqui não tem enrolação. É difícil encontrar algum filme de
terror que surpreenda, mas ainda assim seus diretores queimam os miolos para
tentar envolver o espectador e disfarçar ao máximo a previsibilidade de suas
histórias. Já Shimizu em poucos minutos de filme coloca na mesa boa parte de
suas cartas, mas não deixa o jogo esfriar. Se a maldição é aparentemente sem
fim, a todo instante nos indagamos qual será o final de Karen? Talvez seja esse
o diferencial que fez a fama das produções de horror orientais. Segundo
escritores nipônicos, o mal apresentado sem forma definida é o que impacta o
espectador, afinal de contas lidar com o desconhecido desperta a curiosidade e
o medo naturalmente. Neste caso, por exemplo, o fantasma de Toshio não está
totalmente preso à tal casa amaldiçoada e tem livre arbítrio para ir buscar
suas vítimas em outros endereços, porém, é algo indestrutível, oferece outro
tipo de perigo que um ser humano ou um animal selvagem, não sabemos como lidar
com um espírito. Todavia, se o diretor capricha nas cenas de mortes e nos
sustos, porém, jogou fora a oportunidade de elevar sua obra a um patamar mais
elevado. Uma das regras básicas de uma produção de terror é tentar criar em
pouco tempo uma relação entre espectador e personagens para que seja possível
sofrer com seus dramas, mas Shimizu arriscou-se ao simplesmente criar um frágil
elo entre os coadjuvantes (em rápidas participações) e a protagonista, contudo
não é que deu certo? Sarah Michelle Gellar tem carisma suficiente para levar a
história adiante, mas é bacana ver que até os personagens menores que somem
rapidamente de cena receberam uma atenção especial. Quando eles estão em foco,
nem nos lembramos da mocinha. É muito fácil dizer que O Grito é um filme ruim,
mas em uma análise mais profunda é possível perceber que este trabalho
transforma a previsibilidade e a rapidez em seus aliados. Não há
sentimentalismo barato, o clima de claustrofobia é constante e não há
preocupação em surpreender o espectador nas sequências de morte, apenas
saciá-lo recorrendo aos clichês típicos. Shimizu deve ter uma fórmula mágica
para fazer o público sentir medo, só assim para explicar como ainda nos
amedrontamos neste caso com um silêncio perturbador rasgado por um estridente
efeito sonoro, com barulhos estranhos acompanhados do piscar de luzes, com
relances de sombras em paredes e espelhos e com uma trilha sonora macabra
estrategicamente adicionada. Bem, se ele tinha algum truque para fazer o
público embarcar na sua fantasia macabra, o efeito durou pouco. Ele também
assumiu a inevitável continuação, mas tal filme nem vale uma crítica de tão
ruim que é. Ainda foi realizado um terceiro longa da série, mas deste até
Shimizu pulou fora. É melhor ficar com o original, e neste caso pode ser o “original”
americano que é tão bom quanto o japonês.
Terror - 91 min - 2004
Um comentário:
Tem muito tempo que eu vi esse filme, mas na época não lembro de ter curtido muito não.
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