domingo, 3 de outubro de 2021

A HERANÇA DE MR. DEEDS


Nota 6 Refilmagem de longa de Frank Capra aposta no humor popular e carisma do protagonista


Basta ser rico para ter o mundo a seus pés. Essa ideia não é balela, infelizmente é a mais pura e patética realidade, mas ao mesmo tempo em que podemos comprar e fazer tudo o que queremos podendo esbanjar a vontade também é preciso saber lidar com os aproveitadores de plantão, principalmente quando o milionário em questão é um tanto ingênuo e despreparado. Essa é a premissa básica de A Herança de Mr. Deeds, mais uma comédia estrelada por Adam Sandler que na época já garantia um alto faturamento para os estúdios. Ele interpreta Longfellow Deeds, um rapaz muito simples, amigável e de bem com a vida que vive na pequena cidade de Mandrake Falls onde faz sucesso com sua pizzaria e tem como hobby fazer cartões com mensagens altruístas, embora seus versos passem longe de serem inteligentes. Mesmo com tanta popularidade, ele nunca encontrou alguém por quem realmente se apaixonasse, contudo, sua pacata vida muda completamente quando recebe a visita de alguns executivos que lhe trazem uma notícia inesperada. 

Um tio com quem nunca manteve contato veio a falecer e lhe deixou uma grande fortuna, além de uma porção de investimentos, como uma empresa de comunicação que simplesmente é a maior do mundo todo. Contudo, Chuck Cedar (Peter Gallagher), o atual presidente da empresa, deseja o controle acionário e não vai medir esforços para enganar o jovem que então segue à Nova York para assumir sua herança, diga-se de passagem, aprendendo ligeirinho a lidar com a bufunfa, a seu modo, é claro. Nesse momento surge em seu caminho Babe Bennett (Winona Ryder), uma moça que banca o tipo caipira e doce, mas na verdade é a astuta repórter de um programa de TV sensacionalista que é encarregada de se aproximar do mais novo milionário do pedaço, observar seu cotidiano de perto e levar notícias e fofocas quentinhas ao público. O problema é que ela acaba se apaixonando por Deeds e é correspondida, mas precisa continuar como informante e as coisas se complicam quando as informações que ela capta passam a ser deturpadas pela produção do programa.


O tema dos milionários despreparados para lidar com a malícia e ganância predominante na sociedade já rendeu diversas comédias, como A Família Addams e A Família Buscapé, só para ficar em alguns exemplos práticos nos quais fica fácil identificar os motivos que levam tais pessoas a caírem na lábia de vigaristas. Quer ir mais a fundo no baú de memórias? Esta própria comédia é uma refilmagem de uma produção datada da década de 1930, O Galante Mr. Deeds, estrelada pelo astro Gary Cooper e com direção de Frank Capra, conhecido como o cineasta da crise. Boa parte de seus melhores filmes, como o clássico A Felicidade Não Se Compra, foram feitos em épocas de guerras e repressões e conseguiam injetar otimismo ao combalido cotidiano dos norte-americanos que então viviam uma das piores crises econômicas de toda sua História. Contudo, a mensagem de tais produções eram universais e porque não dizer ainda atemporais. 

Hollywood sempre gostou de refilmagens, inclusive muitas vezes mudando a tônica das produções como uma maneira de atualizar o conteúdo e conectá-las ao público do momento. No caso de A Herança de Mr. Deeds a escolha de Sandler como protagonista também envolve a popularidade do ator entre todas as faixas de idade, não a toa o longa arrecadou uma considerável bilheteria e é um campeão de reprises na TV, mesmo com a fraca direção de Steven Brill, repetindo a parceria com o ator testada no abominável Little Nicky - Um Diabo Diferente. Somam-se a esse histórico uma reunião de clichês, como os vilões que se fingem de bonzinhos para enganar o matuto e as sequencias em que ele se mete em brigas e sai ileso, tudo bem ao estilo inofensivo de comédias pastelão. Certamente a intenção do roteirista Tim Herlihy não era criar um novo clássico, mas apenas um passatempo ligeiro e cheio de boas intenções, como reforçar a moral de que sempre devemos falar a verdade, que o crime não compensa, seguir o coração e por aí vai. 


Como de costume nas produções estreladas por Sandler, piadas de humor físico e as boas tiradas de seu verborrágico personagem batem ponto, porém, o ator está mais comedido que de costume alternando momentos de deslumbramento pela riqueza que Deeds tem em mãos, quase como uma criança se divertindo com um brinquedo novo, e outros em que ele parece não ter ideia da fortuna que herdou, assim exaltando a vida simples que levava e deseja continuar. A produção ganha pontos com uma edição ágil, trilha sonora recheada de hits populares, um bom time de coadjuvantes e, principalmente, pela química entre Sandler e Ryder, ela então fazendo as pazes com o cinema após um período de problemas com a justiça e escândalos. Uma diversão simpática, embora não perceba-se resquício algum do original de Capra. Seria pedir demais. Em tempo: preste atenção na sequência em que Deeds ajuda uma senhora a salvar seus gatos de um incêndio, sem dúvidas a mais divertida do filme. O resgate por si só já é dotado de uma deliciosa comicidade, mas ganha ainda mais relevância com a forma manipulada que a notícia é dada pelo telejornal.

Comédia - 96 min - 2002 

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2 comentários:

renatocinema disse...

Vejo esse como um belo sessão da tarde.

Dou risada e não levo muito a sério.

Ramon Pinillos Prates disse...

Esse aí sem dúvidas entra na lista de filmes legais de Adam Sandler.