sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

LÁ VÊM OS PAIS

 

Nota 5 Típico filme sobre reuniões familiares é prejudicado por personagens desinteressantes

Filmes de comédia sobre reuniões familiares costumam não gerar grandes bilheterias, mas são produções de longa vida garantindo inúmeras reprises na TV, tendo como grandes exemplos Férias Frustradas e suas diversas continuações e a trilogia Entrando Numa Fria. Confusões, dramas rasos, constrangimentos e a boa e velha lição de moral que apesar de todos os problemas a família é o que temos de mais importante na vida fazem parte da receita que renova seu público passando de geração para geração. Qual adulto não guarda uma lembrança especial de Esqueceram de Mim e faz questão de revivê-la na companhia de filhos, netos, sobrinhos ou até mesmo com amigos ou com as próprias pessoas que possam estar ligadas a essa boa memória? Produção original da Netflix, Lá Vêm os Pais tem a proposta de manter os filmes literalmente família em alta, ainda que seu humor apelativo e carregado de preconceitos e piadas de duplo sentido as vezes possa causar situações embaraçosas. Dentro do estilo de humor praticado por Adam Sandler a temática se faz presente, seja aos trancos e barrancos, como em Cada Um Tem a Gêmea Que Merece, ou com os amigos do peito fazendo as vezes de parentes, como apresentado em Gente Grande

Nesta variação do argumento, o astro interpreta Kenny Lustig, um dedicado pai de classe média que decide seguir a tradição e se responsabiliza por organizar e arcar com todos os gastos do casamento de sua filha Sarah (Alisson Strong) com Tyler (Roland Buck), mesmo podendo contar com a ajuda financeira do pai do noivo, Kirby Cordice (Chris Rock), um prestigiado médico. Orgulhoso, o responsável pela festa talvez não imaginasse o tanto de problemas que iria ter que enfrentar. Além do dinheiro curto, ele ainda tem que lidar com os vários parentes que se hospedam em sua casa que não é lá muito grande e ainda acomodar com todo o conforto possível os familiares do futuro genro em um hotel. O filme então envereda pela clássica sucessão de trapalhadas envolvendo os preparativos de um grande evento, assim abre-se um leque de possibilidades para o roteiro trabalhar situações grotescas envolvendo deficientes, pessoas mal educadas e preconceitos com negros. O cerne do enredo é mostrar dois homens de personalidades e realidades completamente diferentes, assim como suas respectivas famílias, que precisam entrar em um consenso para conviverem pacificamente em prol da felicidade dos seus filhos no momento mais importante de suas vidas.


Dirigido por Robert Smigel, que também assina o roteiro em parceria com Sandler, o filme se divide em três partes mostrando os acontecimentos ao longo de uma estressante e aguardada semana. O primeiro bloco mostra a difícil missão de reunir a família, quando a parentada de ambos os noivos começam a chegar e atormentar com seus costumes e esquisitices. Depois temos a fase de preparativos finais para a festa, momento em que Kenny tem que lidar com uma avalanche de problemas de última hora. Por fim, temos a tão esperada cerimônia, mas até o último convidado se retirar tudo pode acontecer. As cenas mais divertidas se passam dentro de um precário hotel que a empresa do pai da noiva ajudou a reformar, mas ainda sobram problemas estruturais. É lá que a festa acontecerá e os parentes de Kirby irão se hospedar com os custos já embutidos no orçamento total do casamento. Para economizar um pouco, Kenny acolhe vários convidados da lista do seu lado familiar em sua casa, como o tio Seymour (Jim Barone), um idoso sozinho e sem as duas pernas. Já dá para imaginar o tipo de piadas em torno de tal deficiência. São vários os estereótipos que surgem na tela, como o vizinho que se ressente do casamento, a melhor amiga da noiva que na verdade é invejosa, o primo folgado, as tias fofoqueiras e tantos outros personagens manjados. O problema é que não conseguimos criar vínculos com essas tantas pessoas em cena e isso influencia diretamente em nosso envolvimento com o plot principal. 

As piadas em torno das trapalhadas que surgem dos preparativos do casório pouco a pouco vão minguando até que finalmente na hora da troca de alianças estamos saturados. E pior que mesmo após sacramentada a união dos pombinhos o roteiro ainda tenta tirar leite de pedra inserindo uma confusão para prolongar a festa. Ou melhor dizendo, o que sobrou dela. A bagunça que se desenrola do início ao fim (gritarias, brigas, costumes irritantes entre outras tantas coisas para tirar qualquer um do sério) é a principal aposta do longa, mas acabam surtindo efeito contrário ao esperado. Ao invés de gargalhar com as confusões o espectador acompanha tudo com um irritante distanciamento e a produção parece ter o dobro do tempo cronometrado. Colabora para tal sensação o fato de que, mesmo com tantos personagens em cena, é inegável que Sandler tomou Lá Vêm os Pais para si. Amado e odiado proporcionalmente pelo público e destroçado pela crítica (salvou-se raras vezes como aconteceu com Joias Brutas que cogitaram sua atuação para o Oscar) o astro se estabeleceu como intérprete de um personagem só, o americano de classe média desbocado, por vezes rude, mas de bom coração. É assim desde sua juventude e continua na maturidade. Suas participações em obras como Embriagado de Amor e Reine Sobre Mim sugeriam que ele tentava desvencilhar sua imagem das comédias pastelões, mas não foi o que aconteceu. Para cada filme sério que aceita fazer em contrapartida ele oferece mais uma dúzia de besteiras. 


Para não sofrer interferências em seu estilo, Sandler ainda em início de carreira conseguiu montar sua própria produtora e quase sempre divide os créditos dos roteiros. Com seu nome gabaritado, ousou abandonar os grande estúdios e lançamentos de cinemas para ser um ator exclusivo de produções para streaming, ambiente onde não sofre pressões por bilheterias e tem plateia cativa. O problema no filme em questão é que seria de bom tom também deixar Rock, seu colaborador em tantas outras produções, brilhar um pouco. Como um médico elitista e metido a garanhão, sua participação é irrelevante, ainda que seu perfil seja pintado com toques de vilania por ser um homem que nunca deu atenção aos filhos após se separar da mãe deles. Sem liberdade para impor seu humor característico, Rock faz o que pode para tentar aparecer em um tipo bastante limitado. Seu caso é diferente de Steve Buscemi que vive o folgado Charles, um dos membros do clã Lustig. Em nome da amizade de longa data com Sandler, está acostumado a fazer pequenos e patéticos papeis em suas produções. No conjunto, o filme desperdiça sentimentos e situações muito comuns em eventos familiares, assim como despreza intérpretes talentosos, mas nada que os fãs de Sandler já não estejam acostumados.

Comédia - 116 min - 2018

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