quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

SHOW BAR


Nota 4 Com trama batida, longa se segura com carisma e sensualidade do elenco feminino


Músicas agitadas, danças provocativas e mulheres bonitas em trajes minúsculos ou colantes. Essa é a base de sustentação de Show Bar que abusa da paciência e inteligência do espectador para contar a história de Violet (Piper Perabo), a típica jovem do interior repleta de sonhos e força de vontade que vai para a cidade grande tentar a sorte em carreira artística como compositora. Em Nova York, munida de uma fita demo com suas gravações, ela cai na real e vê que as coisas não são nada fáceis na cidade que nunca dorme. Ela então deixa suas aspirações profissionais de lado quando recebe a proposta para trabalhar como atendente em um bar chamado Coyote Ugly (homônimo ao título original da fita). Lil (Maria Bello), a inteligente e rígida proprietária, comanda um grupo de lindas e sensuais garotas que não servem apenas bebidas, mas interagem com os clientes dançando e fazendo performances sensuais em cima do balcão.  Contudo, o local não é um antro de prostituição e tem como principais regras as meninas nunca levarem seus namorados ou ficantes ao bar, assim como não devem sair com os clientes e saber a hora de dizer basta a eles.

Mostre-se disponível, mas jamais se faça disponível, esse é o lema seguido pela paqueradora Cammie (Izabella Miko), a truculenta Rachel (Bridget Moynahan) e a campeã de arrecadação de gorjetas Zoe (Tyra Banks). As Coyotes, como são carinhosamente chamadas as atendentes, levam dezenas de rapazes descompromissados todas as noites para assisti-las e passam a chamar a atenção até mesmo da mídia, principalmente com a chegada de Violet, a novata tímida que logo se adequa ao estilo do grupo. Mais que aprender a realizar bem o serviço, a garota consegue dar um passo além. Com uma linda voz, mas sempre sem coragem de segurar em um microfone, certa noite ela surpreende a todos quando sobe no balcão e começa a cantarolar a música que estava tocando, tornando-se a nova sensação do bar. Porém, quando já está acostumada à rotina como bartender e dançarina, surge em seu caminho Kevin (Adam Garcia), um jovem que se encanta à primeira vista por ela, e junto com o rapaz também chega a oportunidade da jovem realizar seu real objetivo quando se mudou de cidade.


O Coyote Ugly não foi uma invenção do diretor David McNally, então um estreante atrás das câmeras. O bar realmente foi fundado em 1993 e rapidamente fez sua clientela fixa. O sucesso foi tanto que a imprensa passou a divulga-lo e foi justamente em um artigo de uma revista que o enredo do filme foi baseado. Sem muita história para contar, o experiente e cultuado Kevin Smith tentou salvar o pouco que dava  e reescreveu o roteiro sem ser creditado após o texto passar pelas mãos de nada menos que oito roteiristas. Por fim, a autoria acabou sendo registrada em nome de Gina Wendkos que escreveu a primeira versão do enredo. Se o seu rascunho absolutamente não prima pela originalidade ou criatividade e mesmo assim levou a melhor já se tem uma ideia do nível das tramas redigidas pelos demais que se aventuraram na empreitada. Em nenhum momento o filme se envergonha de ser esquemático ao extremo e repleto de clichês, talvez por isso mesmo consiga entreter e exalar charme e energia.

Perabo segura bem as pontas com seu carisma, embora sua personagem seja um tanto ingênua, mas faz um belo par com Garcia. Mesmo assim, o romance construído entre os dois está longe de ser envolvente, parecendo mais um relacionamento fadado a acabar quando o encanto sexual entre eles cessar. Das outras garotas não espere mais que caras e bocas e belos corpos em movimentos sinuosos, afinal nem mesmo personalidades bem definidas elas tem. Com a chegada da novata que logo rouba as atenções, era de se esperar que as demais garotas fariam de tudo para eliminá-la das noitadas e que no máximo uma delas pudesse lhe oferecer uma sincera amizade. Com Lil fazendo o papel de uma espécie de chefe-matriarca, algumas rusgas até surgem entre o grupo, mas logo são apaziguadas e nenhum conflito realmente interessante acontece para ao menos sentirmos pena da aspirante a cantora. Nem por isso é deixado de lado o estereótipo da gata borralheira para a personagem. Lá pelas tantas algo irá acontecer para forçá-la a escolher pelo brilho dos holofotes ou voltar a sua simplória vida.


O produtor Jerry Bruckheimer, famoso por conceber produções barulhentas e repletas de efeitos especiais como Armageddon e Piratas do Caribe, aqui se aventurou por um outro caminho e certamente escolheu o elenco feminino a dedo mais pelos dotes físicos e beleza. Talentosas ou não, elas convencem no que se propõem a fazer. Destaque mesmo merece Bello com uma personagem enérgica, que tenta vencer na vida por seus próprios méritos e comanda com pulsos firmes suas meninas e o bar. Pena que seu perfil não seja mais aprofundado, pois a julgar por seu comportamento no presente certamente deveria ter uma história de vida bem mais interessante que a da mocinha. Contando ainda com a participação de John Goodman como Bill, pai de Violet, para incluir uma pitadinha de sentimentalismo à trama, Show Bar é um passatempo indolor e, contrariando expectativas, agrada ao público feminino tanto quanto o masculino.

Drama - 94 min - 2000

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