terça-feira, 26 de janeiro de 2021

ARMADILHA


Nota 6 Nada é o que parece neste thriller de ação, mas que promete mais do que realmente cumpre


O ladrão de casaca é um dos personagens mais charmosos e corriqueiros da História do cinema. Muitos atores já emprestaram seu charme e elegância à imagem do larápio cheio de classe e estilo que não levanta qualquer tipo de suspeita, assim conseguindo entrar de fininho em joalherias e museus e passar a mão em joias e telas valiosíssimas sem chamar atenção e dispensando o uso de armas de fogo ou objetos perfurantes. Em Armadilha, inesperado sucesso do final da década de 1990, tal papel caiu como uma luva para o saudoso Sean Connery, o eterno agente James Bond que já há alguns anos não participava de uma produção com repercussão junto ao público. Aqui o então quase septuagenário galã ainda ganhou o bônus de formar par romântico com Catherine Zeta-Jones, atriz em ascensão na época por conta do sucesso de A Máscara do Zorro. 

O argumento é muito simples. Gina Baker (Zeta-Jones) é uma agente de segurança que está no encalço e se aproxima com segundas intenções do larápio Robert MacDougal (Connery), aparentemente o responsável pelo roubo de uma valiosa obra do pintor holandês Rembrandt. Ainda há dúvidas quanto a autoria do furto? Para rechear um longa de quase duas horas, os roteiristas Ronald Bass e William Brouyles Jr., respectivamente dos aclamados Amor Além da Vida e Apollo 13, tiveram que inventar mil e umas situações para tentar confundir o espectador quanto as intenções do coroa e até mesmo da mocinha que, embora arme um plano para colaborar com o criminoso a fim de prendê-lo no flagra, também pode ou não ter certo interesse pessoal nessa aproximação. Contudo, o flerte entre os personagens acaba não decolando, afinal ação e suspense refinados era o que foi prometido ao público a julgar por certa cena repetida à exaustão no trailer e demais materiais de divulgação.


A sequência mais emblemática do longa é quando a bela morena usando uma roupa que cobre totalmente seu corpo, porém, justíssima delineando perfeitamente suas curvas, executa um orquestrado balé em câmera lenta para escapar de raios laser e não ativar um alarme. Contudo, no conjunto, a cena é rápida e seu êxtase se esvai em poucos minutos diante da duração excessiva da fita. Preocupados em armar uma cama de gato capaz de prender a atenção do início ao fim, mas tendo que lidar com duas figuras hipnóticas e capazes de sobressair à narrativa, os roteiristas acabaram esquecendo de desenvolver personagens secundários e interessantes como Aaron Thibideaux (Ving Rhames), que acabou ficando com pouco tempo de tela e cujas ações obviamente também podem ou não ser o que aparentam. Até o último ato o espectador fica na dúvida sobre quem é vilão e quem é mocinho, o que não é necessariamente uma qualidade da narrativa quando o mistério é sustentado por ações repetitivas.

Mesmo não acrescentando nada à seara dos filmes sobre roubos praticados por ladrões de estirpe, como o clássico Crown - O Magnífico, diga-se de passagem, refilmado também em 1999 sob o título Thomas Crown - A Arte do Crime, como distração genuína e de qualidade Armadilha funciona oferecendo ao menos três grandes momentos: o citado roubo do quadro na introdução; a tal sequência no museu protegido por laser; e, ainda, a cena passada em um banco cujo cenário certamente deve ter feito Connery relembrar seus tempos como agente 007. Todavia, embora divertido e envolvente, falta ousadia ao longa assinado pelo cineasta Jon Amiel, de Copycat e várias outras produções nas quais oferecia boas cenas de ação. Aqui ele parece trabalhar com o freio de mão puxado ou talvez estivesse encabulado de ter que dar ordens à Connery, uma lendária figura do cinema e cujo prestígio foi capaz de descredenciar o primeiro diretor, Antoine Fuqua, por divergências de ideias quanto a condução do filme. 


Se falta adrenalina, o público masculino, costumeiro alvo das fitas do gênero, não tem do que reclamar já que não bastasse a beleza facial de Zeta-Jones, seu corpo curvilíneo e elástico também é fotografado com esmero pela câmera de Amiel, mas sem vulgaridades. Por outro lado, para a plateia feminina, tem todo o charme e elegância de Connery na pele do anti-herói que seria seu último papel relevante antes da aposentadoria anunciada alguns anos depois. Teoricamente, repulsa deveria ser o sentimento despertado pelo personagem, mas é quase impossível detestar um gentleman desses. Contudo, como diz o ditado, beleza não se põe na mesa e no caso não compensa totalmente a irregularidade da narrativa que arma um roubo espetacular em sua primeira metade, mas desanda para um manjado e dispersivo jogo de gato-e-rato no último ato.

Suspense - 112 min - 1999

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3 – 4 Regular, serve para passar o tempo
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9 – 10 Excelente, praticamente perfeito do início ao fim
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