quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

OS CAVALEIROS DO APOCALIPSE


Nota 2 Boa premissa é desperdiçada em suspense que se acovarda na proposta de chocar


Morte é um estado físico e a guerra é um estado mental. Tal pensamento é repetido várias vezes ao longo de Os Cavaleiros do Apocalipse, um título que poderia sugerir um filme épico, mas na realidade trata-se de um thriller contemporâneo que tem como base a lendária história dos quatro cavaleiros do apocalipse, os homens que foram enviados ao mundo para deflagrar o Mal segundo consta na Bíblia. A trama nos apresenta à Aindan Breslin (Dennis Quaid), um investigador criminal que recentemente ficou viúvo e que no momento está passando por uma crise para se relacionar com seus filhos, principalmente com Alex (Lou Taylor Pucci), seu primogênito que não perdoa o fato de seu pai estar ausente quando sua mãe faleceu. Muito dedicado ao trabalho, agora o detetive está ocupando todo o seu tempo analisando alguns casos envolvendo mutilações e torturas que parecem estar relacionados ao mito dos cavaleiros bíblicos. Seguindo as escrituras, quatro pessoas deveriam ser sacrificadas, mas até então o quarto escolhido ainda não fora encontrado e  não se sabe nem mesmo se ele já foi submetido a algum tipo de tortura. 

Todas as vítimas parecem ter sido alvos de um mesmo criminoso, cujas suspeitas recaem sobre a jovem Kristen (Ziyi Zhang), a filha adotiva de um dos assassinados, e conforme avança nas investigações Breslin descobre que sua própria família pode estar correndo risco. Buscando uma narrativa ao melhor estilo de Seven – Os Sete Crimes Capitais, pelo fato das investigações apontarem para coincidências bíblicas entre os homicídios, o diretor Jonas Akerlund foi ambicioso em seu trabalho de estreia nos cinemas. Ex-baterista e especializado na área de videoclipes, mostrou-se conectado com o público jovem ao realizar as cenas de assassinatos com requintes de crueldade e sadismo bem aos moldes da franquia Jogos Mortais, ainda que não investindo em emboscadas mirabolantes. Aqui os crimes apresentados são praticados através da técnica da sustentação, um ato masoquista realizado geralmente por tatuadores e aplicadores de piercings em seus estúdios que atendem uma seleta clientela, pessoas com boas profissões e condições financeiras que pagam por alguns minutos de tortura em uma espécie de gaiola onde os corajosos ficam dependurados por potentes ganchos presos à pele.


A bizarra atividade, embora prazerosa para alguns, no filme ganha ares de atos demoníacos, já que aparentemente existem pessoas sentindo prazer em ver outros indivíduos sofrendo até a morte reféns desses instrumentos que no caso tornam-se armas mortais. No entanto, o filme não chega a impressionar ou causar náuseas, pois tudo que apresenta já é de se esperar e, diga-se de passagem, o cinema já mostrou coisas bem mais impactantes. Após a sequência inicial, na qual vemos os dentes da primeira vítima já arrancados e postos em uma bandeja, imaginamos que a produção vai seguir um caminho sem pudores, mas a sequência é apenas um falso indício do que o longa poderia adotar como estratégia para se sobressair em meio a tantos suspenses capengas. O preguiçoso roteiro de David Callaham, de Doom – A Porta do Inferno, já prepara o espectador para todas as pretensas surpresas que estão por vir e a certa altura parece revelar o mistério muito antes do clímax, mas o filme segue em frente mesmo sem manter a tensão no ar. 

Apresentando o ponto de virada precocemente, a narrativa irremediavelmente começa a ficar cansativa e se perde buscando oferecer explicações e pistas falsas desnecessariamente, além de serem inseridos arbitrariamente alguns personagens para confundir o espectador, mas no fundo que em nada agregam à trama. Durante o primeiro ato a fita chama a atenção pela violência explícita e uma trama que parece competente, mas as coisas desandam com a entrada de Zhang que oferece uma robótica atuação e trazendo revelações à tona. Existe também a intenção de ligar os crimes à família do detetive, mas graças aos péssimos diálogos nada parece muito crível. Aliás, a falta de originalidade de Os Cavaleiros do Apocalipse é perceptível principalmente na construção dos perfis dos personagens, uma coleção de estereótipos tais como o policial atormentado por uma tragédia, o filho problemático, o parceiro não muito confiável, o psicopata influenciado por alguma questão religiosa e por aí vai. 


O final obviamente não faz jus à premissa e as justificativas para todos os assassinatos é das piores. O resultado é que mais uma vez um bom argumento foi desperdiçado a favor de uma obra de quinta categoria e que por vezes nos enoja ou ofende, não só intelectualmente, mas principalmente visualmente, mas como há gosto para tudo tem sempre alguém disposto a assistir bobagens do tipo. Bem, no caso aparentemente não teve quem embarcasse nessa fria. Até os produtores parece que não botavam fé na fita a julgar pela curta duração. Se o que foi editado é o que havia de melhor do material filmado isso justifica o porque deste suspense ter passado em brancas nuvens pelos cinemas americanos e jogado nas prateleiras das locadoras sem publicidade alguma em dezenas de países. Hoje o longa deve encontrar espaço em algum canal de streaming, aliás tem todo o estilo de produção pífia capitaneada aos montes por tais serviços para inflar seus catálogos.

Suspense - 90 min - 2009

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