Ao
longo do período de existência de um hotel imagine quantos hóspedes podem
passar por ele e a quantidade de histórias que eles deixam lá dentro. Momentos
felizes, outros de emoção, algumas tristezas e até mesmo mortes. Impossível
todas essas memórias não virem a tona vez ou outra pelos funcionários, mas
principalmente quando o empreendimento está prestes a fechar as portas para
sempre isso é inevitável. Esse interessante argumento é completamente jogado
fora em Hotel da Morte cujo
simplório título poderia esconder histórias de arrepiar. Quem não se lembra da
aterrorizante experiência de Jack Nicholson no isolado e vazio hotel que tomou
conta em O Iluminado? Talvez o diretor Ti West, então já se
especializando em fitas de horror, mas estilo filmes B, devesse ter visto um
bom punhado de vezes esse clássico para lapidar melhor seu filme que
justificadamente foi lançado sem alardes e permaneceu obscuro ao público.
Buscando
não cair na mesmice, o hotel do título não está abrigado em um casarão isolado
de tudo e de todos e tampouco é um luxuoso resort. Trata-se de uma construção
de pequeno porte incrustada em um subúrbio e que a um bom tempo vive
praticamente às moscas recebendo poucos hóspedes que estão de passagem e
desejam passar poucas ou uma única noite. Desnecessariamente dividida em
capítulos, a trama se passa no último fim de semana de funcionamento do local,
quando o terceiro andar já havia sido esvaziado e apenas dois recepcionistas
foram recrutados para trabalhar. Entediados, Claire (Sara Paxton) e Luke (Pat
Healy) passam o tempo jogando conversa fora e um dos assuntos prediletos é
falar sobre almas penadas. O rapaz afirma que já viu algumas vezes no hotel o
fantasma de Madeline O'Malley (Brenda Cooney), uma antiga hóspede que se
suicidou em um dos quartos poucas horas após ser abandonada no altar pelo
noivo. Isso instiga sua colega que sugere que aproveitem o tempo livre para
tentar captar por áudio evidências de que há um espírito preso dentro do
imóvel.
A brincadeira de caça-fantasmas fica mais séria (ou assim deveria ser) com a chegada de Leanne Rease-Jones (Kelly McGillis), uma ex-estrela de um seriado de TV que agora ganha a vida como médium e está na cidade para uma palestra. A trama escrita pelo próprio West é desenvolvida em ritmo lento, quase parando, e conforme o tempo passa mais temos a certeza de uma coisa: não chegaremos a lugar nenhum. Muitas expectativas são criadas, mas nada de fato assustador acontece. Percebe-se que a intenção era fugir do trivial não oferecendo sustos clichês a cada cinco minutos, mas neste caso sentimos falta de sermos surpreendidos pelo que teoricamente já estamos preparados. Queremos ver a tal assombração a espreita dos personagens, sua presença sentida por meio de passos e portas batendo e ver sua sombra em relances estratégicos.
West
nos oferece parcos momentos do tipo e ainda falha grotescamente em uma
sequencia em que Claire, com olhar impressionado, diz estar vendo o fantasma
atrás do amigo que a essas alturas já sujando as calças. No entanto, ele está
com o corpo colado a uma parede ou móvel, sem condições para que a tal Madeline
sequer encoste nele. A claridade excessiva do cenário também diminui as
expectativas de que um vulto surpreenda os personagens a qualquer momento e até
a usual queda de energia é dispensada. Quando finalmente resolve manifestar em
imagens todo o mistério discorrido em uma grande quantidade de diálogos
sonolentos, West não consegue arrepiar nem nosso dedo mindinho e não entendemos
o porquê da assombração então passar a caçar Claire. O diretor desperdiça ao
menos um momento que poderia ser realmente assustador quando a moça a vaga
pelas dependências do hotel munida de um aparelho sensível a captura de sons. A
cena é longa, mas nada de realmente significante acontece.
Para ajudar a encher linguiça, temos uma mãe (Alison Barlett) mau humorada e ríspida com seu pequeno filho que em nada influenciam no roteiro e o surgimento quase na reta final de um senhor de idade (George Riddle) que se hospeda com a desculpa de reviver pela última vez as memórias de sua lua-de-mel que passou em um quarto específico e justamente um dos já desativados. Mesmo assim ele insiste em passar a noite nele, o que planta a dúvida se ele teria assassinado a tal Madeline e voltado no intuito de causar novas mortes. Antes West tivesse optado por este caminho. Hotel da Morte desperdiça uma boa oportunidade oferecer bons sustos mesmo apoiando-se sobre sustos e situações manjadas. As vezes é bom não tentar reinventar a roda e recorrer aos ensinamentos da cartilha do gênero.
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