terça-feira, 5 de janeiro de 2021

COMO SE FOSSE A PRIMEIRA VEZ


Nota 7 Bela história de amor cativa e emociona, embora prejudicada por humor desnecessário


É inegável a química que existe entre Adam Sandler e Drew Barrymore. Pouco conhecidos quando estrelaram em 1998 Afinado no Amor e já alçados a rentáveis estrelas quando voltaram a se unir em Juntos e Misturados lançado em 2014, no meio do caminho eles firmaram mais uma parceria não só rentável, mas também a mais divertida, romântica e carismática das três. Como Se Fosse a Primeira Vez se tornou um clássico recente no melhor estilo sessão da tarde, aquele tipo de produção que você assiste repetidas vezes e que permanece como uma agradável opção de passatempo e até mesmo lembrança de algum período de sua vida. Parece estranho algo tão tocante sendo um filme protagonizado por Sandler, conhecido por fazer uso de um humor vulgar envolvendo piadas escatológicas e de duplo sentido, mas aqui ele está mais comedido que de costume encarnando a figura do sujeito sangue bom, perfil tão característico em seu currículo, porém, de forma bastante natural e dotada de sentimentalismo. 

Sandler interpreta Henry Roth, funcionário de um aquário e que tem o privilégio de morar no paradisíaco Havaí, assim nas horas vagas ganha alguns trocados entretendo e servindo de cicerone para turistas. Seu serviço extra também lhe dá a oportunidade de se divertir sem compromisso com muitas mulheres que estão por lá apenas de passagem, mas tudo muda quando ele conhece por acaso Lucy Whitmore (Barrymore), uma habitante local, e apaixona-se à primeira vista e parece ser correspondido já que ela aceita encontrá-lo novamente no dia seguinte. Contudo, o inesperado acontece. Ele encontra a moça no local e horário combinados, mas ela simplesmente sequer lembra de tê-lo conhecido, assim tratando-o com certa indiferença. Roth então descobre que a jovem é portadora de uma rara síndrome de perda de memória recente que a faz esquecer completamente tudo o que vivenciou no dia anterior. Após um evento traumático, seu cérebro agora só armazena eventos do passado até uma data em específico, melancolicamente justamente o dia do aniversário de Marlin (Blake Clark), seu pai.


Todas as noites enquanto Lucy está dormindo, seu pai junto com Doug (Sean Astin), o irmão da moça, tem uma difícil e estressante tarefa: recriar o dia que que passou nos mínimos detalhes para que ela possa revivê-lo e assim evitar um choque emocional ou psicológico caso descubra o que aconteceu em sua vida. As cenas que revelam este segredo apenas para o espectador são especialmente tocantes e ao mesmo tempo divertidas. Dia após dia eles devem ter um novo bolo de aniversário na mesa, pintar uma parede de branco para que ela posso refazer um belo painel colorido e o nível do shampoo na embalagem deve ser o mesmo diariamente assim como eles mantém um estoque de abacaxis congelados para que a fruta nunca falte na cozinha. Há ainda uma grande tiragem de jornais impressos do fatídico dia estocados e a família precisa fingir que foi surpreendida com o final de O Sexto Sentido cuja fita fora o presente de Lucy para seu pai. Dentro de casa, tudo é muito bem administrado para a proteção da jovem, mas o mundo do lado de fora não para e nesse sentido a insistência de Roth em tentar viver um romance com ela revela-se uma ameaça.

Completamente apaixonado, Roth então aceita o desafio de todos os dias reconquistar a garota que ama enquanto tenta descobrir uma forma de ajudá-la mesmo a contragosto da família dela. É nesse ponto que temos o pulo do gato de Sandler, mostrando seu lado romântico como poucas vezes antes havia demonstrado, embora as piadas de mal gosto ainda encontrem espaço no roteiro do então estreante George Wing. Todavia, as partes constrangedoras ficam a cargo de alguns coadjuvantes como Astin, um bombadinho cuja idiotice parece ser fruto do excesso de anabolizantes, e de Rob Schneider, fiel colaborador de Sandler, na pele do nativo Ula, um personagem desnecessário inserido apenas para fazer gracinhas e assim quebrar o clima de romantismo. Menos exagerados, ainda temos Lusia Strus como Alexa, colega de trabalho do protagonista e que diverte deixando a dúvida no ar se é mulher ou homem; Amy Hill como Sue, personagem que trata a esquecida jovem como se fosse sua filha; e ainda Dan Aykroyd em uma pequena ponta como um médico. Isso sem falar na participação de uma enorme morsa e de graciosos pinguins que conseguem ser mais talentosos e divertidos que muito ator de carne e osso. 


Estrondoso sucesso nos EUA, Como Se Fosse a Primeira Vez parte de uma premissa ficcional, a tal doença de Lucy é inexistente na vida real, mas o tema de reviver um mesmo dia várias vezes já rendeu outros filmes, sendo o mais conhecido Feitiço do Tempo. A semelhança temática entre as duas produções acaba diminuindo a relevância do longa dirigido por Peter Segal, que já havia trabalhado com Sandler em Tratamento de Choque. Infelizmente, o cineasta não consegue equilibrar harmonicamente o romance, predominante, e a comédia marcada por momentos isolados e geralmente não envolvendo diretamente os protagonistas. Apesar de não ser perfeita, esta despretensiosa produção surpreende ao contar uma das mais belas histórias de amor que o cinema já apresentou. Como um diamante bruto, só faltou ser melhor lapidada. Embora reprisado aos montes na TV, para quem por ventura ainda não viu uma dica: esqueça todas as comédias com Sandler que já assistiu e, sem trocadilhos, assista a este filme como se fosse a primeira vez que tivesse contato com seu trabalho.

Comédia romântica - 99 min - 2004

COMO SE FOSSE A PRIMEIRA VEZ - Deixe sua opinião ou expectativa sobre o filme
1 – 2 Ruim, uma perda de tempo
3 – 4 Regular, serve para passar o tempo
5 – 6 Bom, cumpre o que promete
7 – 8 Ótimo, tem mais pontos positivos que negativos
9 – 10 Excelente, praticamente perfeito do início ao fim
Votar
resultado parcial...

Um comentário:

GustavoPeres99 disse...

Adoro esse filme, a química entre o Adam Sandler e a Drew Barrymore é incrível, fora que a história é linda.