quinta-feira, 14 de outubro de 2021

A RECRUTA HOLLYWOOD


Nota 3 Comédia tenta reciclar clichê da milionária que precisa se adaptar a uma vida mais dura


Uma das receitas mais batidas do humor é a adaptação forçada de um milionário a uma vida paupérrima a qual é submetido repentinamente. A Recruta Hollywood segue este velho argumento trazendo como único diferencial o fato de tirar uma dondoquinha de seu universo cor-de-rosa para jogá-la em um mundo mais masculinizado. O roteiro de April Blair e Kelly Bowe nos apresenta à Megan Valentine (Jessica Simpson), uma estrela de cinema riquíssima acostumada a paparicos e futilidades. Seu estilo para se vestir, a la Barbie para maiores, tira do sério seu empresário, Nigel Crew (Michael Hitchcock), que acredita que a imagem da atriz fora das câmeras influencia diretamente em sua vida profissional. Não é uma estrela pornô, mas também está a anos-luz de ter talento para o drama, assim construiu sua fama em cima de comédias de gosto duvidoso. Para se ter noção do tipo de sua audiência, só como exemplo, a jovem foi considerada a melhor intérprete na premiação concedida pelo voto popular dos detentos de uma penitenciária. 

Megan ainda namora o metidinho Derek O’Grady (Bryce Johnson), seu par no mais recente lançamento nos cinemas e é óbvio que o relacionamento chama mais a atenção que o filme em si. Só é difícil saber quem sairia mais beneficiado desta relação, ou seja, quem teria a carreira alavancada. No entanto, uma sucessão de eventos acaba em uma única noite levando a garota à bancarrota. Deslumbrada, ela jamais cuidou de suas finanças e confiou sua contabilidade a um primo que pouco a pouco desviou toda a sua fortuna, assim até sua luxuosa casa ela perderia para quitar dívidas que deixaram de ser pagas. Neste momento, nada melhor que a atenção de uma pessoa que se goste muito, mas Megan se surpreende ao flagrar o namorado na cama com seu próprio empresário. Desorientada, ela acaba batendo o carro, mas não sofre ferimentos, apenas fica sem saber para onde ir. 


Vagando sem rumo, a moça  amanhece na porta da sede do alistamento do exército e pede para usar o banheiro. Na recepção, ao ver vídeos de mulheres fardadas e demonstrando autoconfiança, magicamente a estrelinha sente vontade de pertencer àquele mundo, algo reforçado pelo soldado que a atendeu que lhe vende a ideia que a corporação oferece novos horizontes. Tal qual nos filmes em que atuava, onde suas personagens sempre tinham um final feliz, Megan acreditava que a rotina militar transformaria sua vida. Bem, sem dúvidas muita coisa mudou, mas não da maneira como ela sonhava. Nada de cama macia, lençóis de seda, acordar depois do almoço ou banhos de espuma. Logo no primeiro dia ela bate de frente com Louise Morley (Vivica A. Fox), a Primeiro-Sargento, que a humilha perante as outras recrutas. Desesperada, ela começa a fazer corpo mole durante os treinamentos torcendo para que o mais rápido possível fosse expulsa da corporação, mas de acordo com a papelada que assinou ela teria que cumprir todo o treinamento e só teria o veredito a respeito se fica ou se vai ao término da maratona. 

Inicialmente, Megan ainda mantém a birra e seu comportamento atrapalha as demais candidatas que acabam submetidas a castigos, uma forma de psicologicamente coagir a novata a entrar na linha, mas é óbvio que nesse período forçado ela vai aprender que realmente tem a chance de mostrar algum valor, principalmente para si mesma. Além de se livrar um pouco da vaidade e da futilidade, ela percebe que todas as suas colegas de alojamento também tem seus dramas pessoais e justificativas para almejarem a carreira militar. A atriz até descola um paquera, o Sargento Mills Evans (Ryan Sypek), mas quando tudo parece estar entrando nos eixos a imprensa libera notas a respeito das primeiras e negativas impressões de Megan sobre o exército e, para aumentar a fofoca, afirmam que ela só está no treinamento para se preparar melhor para um novo e desafiante filme. 


Bem previsível, A Recruta Hollywood é o tipo de produção que proporciona um ou outro sorriso tímido, mas no geral oferece ao espectador uma comédia que desperdiça um argumento razoável, ainda que nada original. Até a entrada de gaiata da protagonista no exército, todo seu universo fútil é resumido em poucos minutos e as piadas a seguir se restringem a brincar com sua adaptação ao novo estilo de vida. E quem conseguiria se alistar literalmente da noite para o dia sem fazer qualquer tipo de exame prévio? Só mesmo em Hollywood. No final, os produtores e o diretor Steve Miner, cujos trabalhos mais célebres são Sexta-Feira 13 - Parte 2 e Halloween H20, ficaram tão constrangidos com o resultado que não fizeram questão alguma de lançamento nos cinemas, nem mesmo nos EUA. Diretamente para consumo doméstico o vexame seria bem menor. Coincidência ou não, este foi o último filme da curta carreira cinematográfica de Simpson, cujo talento limitado encontrou espaço em séries e programas de TV, com personagens ou como ela mesma.

Comédia - 95 min - 2008

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