quarta-feira, 30 de março de 2022

GOLPE DE GÊNIO


Nota 4 Longa sobre jovens inventores que conquistaram sucesso peca pelo ritmo irregular


Existem alguns filmes baseados em fatos reais cujas tramas parecem absurdas, mas para todos os efeitos aconteceram realmente. Um desses casos é o longa Golpe de Gênio que narra a trajetória profissional de dois jovens inventores que ganharam muito dinheiro e fama, ao menos em solo americano, idealizando bugigangas. Matt (Dallas Roberts) é um inventor fracassado que comanda junto com Sam (Jeremy Renner), seu amigo e sócio e vendedor, uma empresa especializada em brindes e presentes, mas os negócios vão de mal a pior. Mesmo assim eles não param de ter novas ideias, acreditam que suas criações têm algum potencial, só faltam serem descobertas pelo público e investidores, e procuram lidar com otimismo a todas as adversidades que cruzam seus caminhos. 

Entre invenções tolas, como uma escova de dentes para apressadinhos, a sorte parece bater na porta da dupla quando eles criam um relógio para cachorros no qual os números são substituídos por desenhos que indicam as necessidades do animal, uma forma de ajudar os seus donos a administrarem melhor o seu dia sem se esquecer dos bichanos. Como para muita gente o animal de estimação é como uma pessoa da família, eles acreditam que há demanda para o produto e empolgados com a criação começam a contar aqui e ali sobre a novidade até que caem na lábia de um inescrupuloso investidor que no final das contas rouba a ideia dos rapazes e os pega de calça curta quando repentinamente lança o produto em um programa de vendas da TV. A ingenuidade, mas também a força de vontade de Matt e Sam é que compõem a fina linha que prende a atenção do espectador à frágil narrativa criada pelo roteirista estreante Mike Cram, um ex-profissional da área de marketing e inventor amador nas horas vagas. 


O roteirista se inspirou em sua própria história de vida profissional para escrever o enredo, inclusive diversas invenções que aparecem no longa são suas, como o relógio loteria da sorte, artefato dotado de uma roleta parecida com a de máquinas de jogatinas que cada vez que é acionada oferece uma nova sequência de números para o apostador (essa poderia fazer sucesso). Apesar de em geral serem tolas e desnecessárias, foram as vendas das invenções de Cram que financiaram o projeto cuja direção ficou a cargo de Jeff Balsemeyer, mas não basta ter dinheiro para tirar uma ideia do papel, é preciso ter talento. Infelizmente o longa tem uma narrativa extremamente irregular e que custa a fisgar a atenção do espectador. Em geral as histórias reais são classificadas como dramas, mesmo quando o final é feliz, mas neste caso são forçados momentos de humor com diálogos desinteressantes e as próprias invenções estapafúrdias da dupla tratam de injetar ironia à trama. 

Além de não darem uma bola dentro, os protagonistas ainda por cima são imaturos, sendo irresponsáveis gastando o pouco dinheiro que possuem em apostas e corridas de animais. O vício nos jogos de azar é bem explorado pelo roteiro, mas não chegamos a sentir dramaticidade nem neste gancho. Do início ao fim a sensação é que estamos diante de uma comédia que comete o principal pecado do gênero: não ter graça. Ironicamente, é justamente de um momento banal que a grande criação deles irá surgir. Durante um bate-papo em um bar regado a cervejinha gelada, Matt tem a ideia de um abridor de garrafas que dialoga com o usuário, como se fosse uma boneca que você aperta a barriga e ela emite algumas frases, mas com o detalhe de que as vozes de tal bugiganga seriam de personalidades e personagens famosos. 


Sem spoliers, a própria publicidade do longa não omite que as desventuras de Matt e Sam tiveram um final feliz e lucrativo. Beleza, os abridores venderam aos montes, muito dinheiro gerou, mas o que eles fariam quando as vendas do produto caíssem, uma realidade inegável a curto ou longo prazo? Bem, isso é assunto para um outro filme já que Golpe de Gênio mal dá conta de apresentar satisfatoriamente esta trajetória que vai literalmente do lixo ao luxo. De qualquer forma, mata um tempo livre sem danos e há quem consiga absorver a mensagem edificante da obra. Pequenas ideias, grandes negócios, contudo, nem sempre é assim como prova a própria pífia repercussão do filme. Definitivamente não foi um bom negócio.

Drama - 87 min - 2009 

Leia também a crítica de:

Nenhum comentário: