segunda-feira, 21 de março de 2022

SENTENÇA DE MORTE


Nota 7 O tema justiça pelas próprias mãos ainda rende bons filmes quando bem justificado


O cinema em geral, mas principalmente o feito em Hollywood, parece adorar o tema vingança, um assunto que rende desde produções medíocres até elogiados trabalhos, tudo depende do viés do enredo. Fazer justiça com as próprias mãos, mesmo sem ter bons argumentos para tanto, eram características comuns dos filmes protagonizados antigamente por brucutus como Dolph Lundgren e Steven Seagal. Uma faísca qualquer era o suficiente para que um bombadão saísse por aí distribuindo pancadas, chutes e tiros e assim fazer a alegria dos fãs do estilo. Hoje em dia tramas do tipo já não contam com um público-alvo expressivo e a maioria são execradas pela crítica, mas salvam-se aquelas apoiadas em algum tipo de alicerce dramático e nada melhor que um sofrimento familiar para captar a atenção e o emocional do espectador.  É com uma premissa do tipo que Sentença de Morte consegue ser um produto acima da média em sua seara. 

Na trama acompanhamos a transformação de Nick Hume (Kevin Bacon), um cidadão comum que levava uma vida tranquila ao lado da esposa Helen (Kelly Preston) e de seus dois filhos, o caçula Lucas (Jordan Garrett) e o adolescente Brendan (Stuart Lafferty). A felicidade da família é destruída quando o filho mais velho é assassinado na frente do seu próprio pai pela gangue de Billy Darley (Garrett Hellund). O assassino, Joe (Matt O'Leary), um jovem que precisava demonstrar sangue frio e cometer um crime relevante apenas para ser introduzido ao bando, acaba sendo preso, mas Hume não se contenta com a sutil sentença que foi dada ao rapaz. Assim, com o intuito de proteger sua família e vingar a morte gratuita de seu filho, ele decide fazer justiça por conta própria. Mais violento e com espírito vingativo aguçado, ele promete matar qualquer criminoso que de alguma forma esteja envolvido na morte de Brendan, todavia, Darley não vai acompanhar tal plano de vingança de braços cruzados e parte para o contra-ataque com tanta sede de vingança quanto seu rival.


O diretor James Wan pode não ter inovado no clima de tensão como em seu trabalho anterior, o surpreendente terror Jogos Mortais, mas conseguiu criar um filme de ação acima da média aproveitando muito bem o roteiro de Ian Mackenzie JeffersIan Mackenzie Jeffers que começa a trama apresentando uma feliz família de modo bem simplificado e rápido, recurso necessário para estabelecer uma conexão entre espectador e personagens, certamente o grande deslize da maior parte das produções que visam mexer com a adrenalina da plateia. Dessa forma, todos os eventos posteriores ao assassinato do adolescente ganham uma intensidade maior e a passagem do protagonista de bom pai de família para um frio assassino torna-se totalmente justificável e aceitável, jamais o enxergamos como um vilão mesmo com seus atos torpes. 

Com os altos índices de violência atuais, nada mais natural que nos imaginarmos no lugar de Hume e nos questionarmos se em uma situação do tipo nos conformaríamos com a decisão judicial branda ou se também deixaríamos aflorar nosso lado vingativo. Como já tido, o gancho familiar inserido faz toda a diferença para destacar este filme de ação entre tantos outros com enredos similares. Aliás, esta é uma adaptação do best-seller homônimo de Brian Garfield escrito em 1975 após o autor se aventurar pelo gênero em outros trabalhos que originaram os vários longas da série Desejo de Matar, estrelada por Charles Bronson. As mesmas produções também abriram caminho para os filmes de Arnold Schwarzenegger, Jean-Claude Van Damme, Sylvester Stallone e companhia que faturaram alto durante as décadas de 1980 e 1990 distribuindo tiros e sopapos. 


Ainda bem que Bacon tenha mais tutano e sensibilidade que todos esse fortões citados juntos, assim soube compor um personagem crível, astuto e violento, mas ao mesmo tempo cheio de dúvidas e remorsos. Em algumas sequências ele até nos remete ao clássico Taxi Driver, sendo uma das referências mais óbvias quando Hume raspa a cabeça no ápice de sua loucura tal qual o icônico personagem vivido por Robert De Niro. Sentença de Morte reúne os melhores clichês dos filmes de ação, porém, consegue dar um novo tempero à receita com movimentos de câmera interessantes e edição caprichada, mas principalmente por focar seu enredo na degradação de um homem correto, um tiro certeiro para atingir não só quem busca simplesmente diversão, mas também para quem deseja tirar algum proveito reflexivo.

Ação - 110 min - 2007

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