quinta-feira, 5 de agosto de 2021

72 HORAS


Nota 7 Apesar de reciclar clichês, longa prende atenção com ritmo ágil e trama de cunho emotivo


Tudo que é demais uma hora enjoa. Filmes que misturam ação e suspense hoje em dia dificilmente surpreendem ou podem ser classificados como excelentes. A reciclagem de temas e até a estagnação de certos atores repetindo papéis nestes gêneros levaram as produções do estilo para o limbo. Felizmente, vez ou outra, surge algum nome em potencial para dar uma sacudida nesse cenário e quem sabe trazer de volta os bons tempos em que perseguições e tiroteios rendiam elogios e não eram apenas um amontoado de cenas carregadas de adrenalina, mas sem propósitos definidos. Um nome quente para o reestabelecimento da saúde deste campo era o de Paul Haggis que viu sua carreira ascender de forma meteórica depois de se envolver em projetos sérios e premiados, como Crash - No Limite e No Vale das Sombras. Seja como roteirista, diretor ou ainda acumulando as duas funções, este profissional decidiu se aventurar em algo no melhor estilo hollywoodiano: um filme que entretém, com um enredo interessante, um ator de peso encabeçando o elenco, no entanto, algo facilmente esquecível. Assim é 72 Horas, um thriller de ação cujo enredo gira em torno de um homem comum que se mete a cometer verdadeiras loucuras para fazer justiça com as próprias mãos, ou melhor, com o próprio cérebro, já que seus planos são um tanto mirabolantes. 

O professor universitário John Brennan (Russell Crowe) levava uma vida perfeita até que sua esposa Lara (Elizabeth Banks) foi presa acusada de um crime que alega não ter cometido. Após três anos de vários recursos negados pela justiça, a mulher acaba desenvolvendo tendências suicidas por não suportar a distância de seu filho que está crescendo longe dela. Brennan percebe que só há uma saída: tirá-la da prisão custe o que custar. Ele então aprende, por exemplo, a arrombar carros e abrir fechaduras de segurança e até consegue conversar com o ex-prisioneiro Damon Pennington (Liam Neeson) que escapou inúmeras vezes da carceragem e lhe dá dicas do que vai ter de enfrentar. É um caminho sem volta e é preciso estar disposto a tudo, inclusive a matar. Agora, Brennan e Lara terão apenas 72 horas para fugir e tentar ir o mais longe possível levando com eles o filho. A julgar pelo tom dramático inicial, com uma discussão do casal, é difícil imaginar o caminho que o roteiro irá seguir, a ponto de culminar em um último ato cheio de adrenalina para deixar os espectadores se contorcendo e torcendo por um final feliz para a família, até porque quando tem criança envolvida o lado piegas e sentimental das plateias fala mais alto.  


Crowe foge (ou quase) dos estereótipos do herói que passa por poucas e boas e sempre escapa ileso. Seu objetivo de reunir a família facilita a identificação com o espectador. Com seus medos e equívocos, Brennan se aventura por um mundo desconhecido para ele até então no qual precisa aprender truques e segredos que certamente não gostaria jamais que seu próprio filho tomasse conhecimento. Sempre com olhares desconfiados, transparecendo a sensação de um indivíduo que sabe que suas ações são erradas e que a qualquer momento pode ser pego pela polícia, muitos podem considerar uma interpretação menor no currículo do astro, um papel aquém de suas possibilidades. A escolha do ator se deve a sua versatilidade, já ter demonstrado vulnerabilidade em trabalhos mais dramáticos e apreço por projetos de ação de suspense. Se para Crowe o longa pode ser simplista demais, para Banks significou a grande chance de sua carreira até então mais focada no humor e sem grandes destaques. Aqui ela tem alguns momentos interessantes, segura bem a adrenalina quando preciso e empresta a emoção e a sensibilidade necessárias para também transformar sua criação em algo crível e não apenas uma coadjuvante bonita ao lado do galã da história. O restante do elenco secundário é usado praticamente de enfeite, sem perfis bem desenvolvidos e tramas que não chegam a lugar algum, como a insinuação de que Brennan poderia se relacionar com uma mãe solteira ou alguns policiais e detetives que surgem para dizerem frases tolas ou de efeito. 

É até difícil acreditar que esta era a primeira vez que Haggis experimentava um gênero mais popular, conseguindo trabalhar com um roteiro que transita do drama para o suspense quase que perfeitamente, já que a introdução é um tanto apressada, mas nada que afugente o espectador. O argumento não é original, mas o diretor não quis trabalhar com qualquer roteiro capenga visando lucros rápidos acompanhados de críticas negativas. Para sua estreia como diretor no campo de ação, a qual também se encarregou do roteiro, optou por basear-se no thriller francês Tudo por Ela. O resultado da versão americana atinge com eficácia as pretensões do cineasta que consegue a proeza de conduzir o crescente clima de tensão sem se esquecer do desenvolvimento dos personagens centrais, deixando assim a trama bem mais empolgante do início ao fim. Entretanto, obviamente a produção não fica livre dos clichês, como as diversas vezes em que o casal quase é capturado, mas sempre conseguindo escapar ileso, o que gera algumas sequências inverossímeis. 


A opção por um final mais trágico ou inesperado contribuiria para a obra se tornar marcante e até combinaria melhor com a narrativa que até então prevalecia, mas por ser o primeiro trabalho destinado a um grande público Haggis foi esperto e não quis se arriscar. Não que isso desmereça seu trabalho, pelo contrário, mas o cineasta poderia ter trabalhado um viés que acabou sendo esboçado, mas morreu em questão de minutos: Lara em certo momento na prisão se mostra descontrolada e reclamando a respeito do marido e filho,  o que poderia gerar o gancho da dúvida se depois de tanto trabalho para livrar sua esposa Brennan teria o amor dela de volta. Esse questionamento é bem mais a cara de uma história escrita por um profissional que desde o início da carreira demonstrou interesse por roteiros que exploram as relações e sentimentos humanos. De qualquer forma, 72 Horas é um daqueles filmes que você começa a assistir sem grandes pretensões e acaba surpreendido positivamente encontrando uma obra madura, bem conduzida e muito envolvente apesar da embalagem aparentemente descartável.

Suspense - 122 min - 2010

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9 – 10 Excelente, praticamente perfeito do início ao fim
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Um comentário:

renatocinema disse...

Achei um bom filme. Ação e drama na medida agradável.

Recomendo