quarta-feira, 11 de agosto de 2021

AMOR AOS PEDAÇOS


Nota 5 Apesar de um casal diferenciado, longa aposta na receita básica das comédias românticas


Você já foi a uma doceria e sentiu vontade de provar pelo menos um pedacinho de cada tipo de doce, mas acabou escolhendo o mesmo sabor de sempre? Pois é, da mesma forma que muitos podem se deliciar sempre com a mesma sobremesa apesar das várias opções, não falta quem aprove e deseje repetir da boa e velha receita de uma típica comédia romântica. Detalhe: quanto mais açucarada a mistura melhor. Com o sugestivo título de Amor Aos Pedaços (o batismo nacional involuntariamente faz uma pequena propaganda grátis para uma famosa rede de docerias), esta produção modesta é devorada de forma rápida e prazerosa, mas infelizmente sem deixar um gostinho de quero mais. O ponto de partida é bastante simplório. A trama gira em torno de Kate Welles (Famke Janssen), uma jornalista que está frustrada com seu trabalho já que é obrigada a escrever matérias fúteis para uma revista feminina e que em nada lhe inspiram a continuar na profissão. Contudo, ela novamente se sente motivada quando tem a chance de preparar uma reportagem sobre as diferenças entre o amor e o sexo em tempos em que os relacionamentos são desenvolvidos através da comunicação à distância e para o prazer a dois (ou até mesmo em grupo) não é necessário sequer identificação, basta estar disponível a essa aventura. 

Para ajudar em seu trabalho, Kate passa a relembrar antigos casos amorosos de sua vida, desde o primeiro namoradinho de infância até seu mais recente parceiro, Adam Levy (Jon Favreau), que a dispensou há três anos e agora está fazendo de tudo para reatar o relacionamento, mas ela está cheia de dúvidas quanto a essa volta. Valeria a pena oferecer uma segunda chance a um cara que já lhe magoou uma vez? A roteirista  e cineasta Valerie Breiman, que estreou como atriz no açucarado Ela Vai Ter Um Bebê, mostra que gostou da receita e após anos como diretora de séries e telefilmes resolveu arriscar-se no comando de um longa-metragem. Escrito em apenas três semanas, embora a ideia do argumento tenha sido amadurecida por cerca de seis longos anos, o texto não traz inovação alguma em relação a centenas de outras comédias românticas produzidas desde meados da década de 1980 e o sabor de repeteco é inevitável. Mesmo assim, o roteiro chegou até a ser indicado ao Independent Spirit Awards, o Oscar dos filmes independentes. Breiman se inspirou em uma passagem de sua própria vida quando questionou a seriedade de um relacionamento que a satisfazia naquele momento, mas o que será que o futuro lhe reservaria? Assim, ela se dedicou a contar uma história a respeito do que é preciso para se encontrar o verdadeiro amor depois de uma série de decepções e, principalmente, como manter essa chama acesa, todavia, o argumento não é nada original. 


Entregar a proposta de realizar uma matéria sobre relações amorosas para uma jornalista decepcionada com o amor, mas cheia de ambições profissionais, não era nenhuma novidade. Pouco antes deste lançamento, por exemplo, Drew Barrymore deu vida a uma repórter que voltava aos tempos do colégio em Nunca Fui Beijada justamente para analisar os relacionamentos entre os jovens contemporâneos (lembrando que é uma produção de 1998). Praticamente lançado na mesma época que o trabalho de Breiman, Alguém Como Você trazia Ashley Judd na pele de uma produtora de TV que também passou a investigar as relações amorosas comparando o comportamento masculino ao dos bovinos (oi?). A diferença entre estes trabalhos é que aqui Janssem vive conflitos mais maduros e conta com um parceiro realmente interessado em um compromisso sério, mas em contrapartida dessa vez é a mocinha da fita quem encontra mil e um empecilhos para viver esse amor. Mesmo com sua pegada de cinema alternativo, a obra não arrisca totalmente e recorre aos clichês do gênero, intercalando momentos de ternura com outros de dúvidas se o casal vai conseguir se entender, afinal Kate e Levy estão longe de formar um par romântico inesquecível.

Será que o perfil dos personagens não cativam realmente ou seus intérpretes é que não conseguem conquistar o público? Para muitos as duas coisas podem ser apontadas como problemas neste caso, no entanto, para a diretora aparentemente tudo saiu melhor do que o esperado. Sua intenção era escalar atores que não formassem um casal óbvio, uma dupla que fugisse dos estereótipos desse tipo de produção. Janssem, na época em evidência como uma das mutantes de X-Men, interpreta a protagonista com convicção, mas lhe falta alguma coisa para conquistar a atenção do espectador. Ela não consegue transmitir com perfeição a sensação de uma moça vivenciando intensos problemas amorosos, pelo contrário, as atitudes e visual de Kate correspondem melhor ao perfil de uma mulher totalmente segura de si e de seus atos. Era justamente isso que Breiman desejava: quebrar paradigmas. Apesar de Kate parecer forte e intimidadora, no fundo é sentimental e está confusa quanto a seus próprios desejos e com sua porção romântica mais aflorada do que nunca. 


Favreau, por sua vez, também foge do arquétipo do típico galã. Ele surge um pouco fora de forma, não tem cara de modelo, mas é aquele tipo de cara boa praça que cativa e faz amizades em um estalar de dedos. Será que o público quer ver gente comum nas comédias românticas no lugar dos manjados e visualmente perfeitos personagens que infestam o gênero? Bem, Amor Aos Pedaços passou em brancas nuvens pelos cinemas e locadoras e hoje seria perfeito para preencher horários na TV. Até é possível encontrar o título bem escondidinho em algum serviço de streaming, mas parece que o longa está fadado ao eterno ostracismo injustamente. Mesmo não tendo uma Cameron Diaz ou um Ashton Kutcher para chamar a atenção, esta é uma obra despretensiosa que certamente deve agradar aos amantes do gênero que devem se deliciar com o final... Totalmente feliz como manda a receita básica das comédias românticas.
 
Comédia romântica - 82 min - 2000

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