terça-feira, 3 de agosto de 2021

AMIGOS, AMIGOS, MULHERES À PARTE


Nota 4 Longa se apoia em piadas de mal gosto e interpretações exageradas e nada convincentes


Comédias românticas são sempre a mesma coisa. Um casalzinho simpático passa o tempo todo se engalfinhando ou lutando contra as adversidades para no final ser feliz. O destino pode colocar alguns obstáculos no caminho dos amantes ou algum parente ou amigo invejoso faz o papel do diabinho na história. Para completar os coadjuvantes roubam a cena com seus tipos estereotipados como o homossexual bom amigo ou a garota desengonçada que acaba se dando bem na conclusão. Muita gente reclama dessa fórmula básica que sofre pequenas modificações em dezenas de produções do gênero que são lançadas anualmente, mas no fundo são todas iguais e com final anunciado antes mesmo de assistirmos um minuto sequer e ainda assim elas têm seu público fiel. As vezes é melhor que as coisas fiquem assim mesmo, pois mudanças muito drásticas tendem a render filmes extremamente irregulares como é o caso de Amigos, Amigos, Mulheres à Parte, um produto que passa longe de ser considerado romântico e investe em um humor anárquico e quase sempre vexatório. 

Protagonizado por um triângulo amoroso tão desajustado quanto libertino, o longa começa nos apresentando a Tank (Dane Cook), um rapaz metido a garanhão que adora sair a cada dia com uma garota diferente e consegue encontros facilmente. Sua tática é conquistar a confiança da jovem, se divertir ao máximo com ela e no final da noite fazer com que a própria o dispense. Para tanto, ele passa a utilizar palavras de baixo calão, fazer críticas ofensivas à companheira, soltar frases sem noção e comprometedoras e até mesmo colocar para tocar no carro uma música para deixar qualquer moça decente com vontade de se enterrar no chão. Descobrindo que a embalagem não corresponde ao conteúdo, as moças reavaliam suas decisões e resolvem voltar para seus antigos namorados. Tank se sujeita a tais situações porque gosta de se divertir e manter a fama de conquistador, mas jamais pensou que chegaria a despertar a tenção de um homem desesperado. Dustin (Jason Biggs), seu melhor amigo, trabalha com Alexis (Kate Hudson) com quem chega a ter alguns encontros fora do expediente, mas a moça está decidida a curtir mais a vida e não tem pressa para encontrar o homem ideal. Decepcionado com o puxão de tapete, o rapaz recorre ao amante quase profissional para seduzir sua amada, usar seus truques para decepcioná-la e então finalmente ela descobrir que Dustin é o melhor namorado do mundo. Porém, o plano vai por água abaixo. 


Por trás da imagem de moça de família que Alexis aparentava se escondia uma verdadeira cachorra na expectativa que alguém a libertasse. Ela não se importa de ir para a cama com um desconhecido, tem curiosidade em aprender as danças das meninas que se apresentam em boates, bebe aos montes e vai ao delírio quando Tank toca a sua música proibida, a cartada qie até então era infalível para qualquer mulher o dispensar. O garanhão então se dá conta que finalmente encontrou a mulher ideal para ele e vice-versa, mas não poderia de forma alguma trair a confiança de seu amigo. Enquanto o casal safadinho vai tendo seus encontros, Dustin passa por diversas situações constrangedoras tentando formar sua imagem de pegador até que descobre a realidade: está em um dos vértices de um triângulo amoroso e se sente apunhalado duplamente. Então vem as dúvidas da mocinha, a revolta do rapaz enganado e no fim a redenção do vilão, digamos assim. Em resumo, parece até a clássica estrutura de uma comédia romântica, mas a enorme quantidade de palavrões, situações embaraçosas gratuitas e insinuações ao sexo desclassificam a fita em tal gênero.

Tecnicamente o filme é perfeito para os padrões da produção, mas seus problemas se concentram, além de no enredo, também nas interpretações. Hudson estourou no conceituado Quase Famosos, mas parece que resolveu seguir os passos da mãe Goldie Hawn e se enterrar em produções humorísticas bobinhas ou de gosto duvidoso, como é o caso. Biggs, famoso pela trilogia inicial de American Pie, é esforçado, já tentou o campo de humor de outras formas, inclusive já foi dirigido por Woody Allen, mas parece que o papel de bobalhão que não tem sorte com as garotas lhe cai como uma luva e somente convites de trabalho do tipo são oferecidos ao ator. Mas a grande bomba entre os intérpretes é Cook. No mesmo ano desta comédia ele também estrelou Maldita Sorte e Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada, sempre exagerando no gestual, caras e bocas e dando ênfase na fama de garanhão. Resultado: onde ele está no momento? Se expôs demais com papéis repetidos, nada carismáticos e se deu mal. Pelo menos é raro encontrar alguém favorável ao ator. Por fim, seu desempenho criticável nesta comédia ganha um empurrãozinho a mais para o abismo com a ajuda de Alec Baldwin, em uma interpretação canastrona como o pai do rapaz. As cenas em que os dois falam abertamente sobre suas aventuras e conquistas amorosas são um tanto inverossímeis e parecem até brincadeiras de bastidores que o diretor Howard Deutch resolveu aproveitar para espichar o roteiro que tinha em mãos. 


Amigos, Amigos, Mulheres à Parte é um filme para se assistir desencanado e sem pretensões de se emocionar, alho bastante simples em seu conjunto, mas difícil para ser analisado sem preconceitos e até mesmo para dar uma nota justa. O irregular roteiro de Jordan Cahan é engraçado em diversos momentos, alguns nos fazem gargalhar forçosamente, mas o texto e as piadas oferecidas são extremamente questionáveis e o caráter machista da produção que reduz a mulher a um objeto descartável acentua o sentimento ambíguo do espectador que pena para se decidir entre o gostei e o não gostei. Se depender da conclusão a segunda opção vence. É uma pena, mas uma boa premissa foi descartada em troca de risos fáceis na base do mal gosto e depravação do ser humano.

Comédia - 101 min - 2008 

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2 comentários:

Equipe UOPM disse...

Ainda não vi esse filme, mas parece ruim mesmo. E olha que Kate Hudson já fez muita coisa boa...

Luís disse...

Kate Hudson já fez mesmo excelentes coisas, não sei porque está com o Jason Biggs, que nunca conseguiu ser nada senão o cara de American Pie, nem lembro o nome.

Passo longe desse filme, hein.