Nota 6 Longa procura quebrar preconceitos contra anões, mas esbarra na superficialidade
Um rapaz bonitão e de estatura alta esconde da namorada que sua família é composta por nanicos, mas será forçado a contar a verdade em nome de um bem maior. Por esta sinopse simplificada é bem provável que muitos torçam o nariz ou façam comentários irônicos, mas o conflito destacado no drama Tip Toes - Na Ponta dos Pés merece respeito e reflexão. Obviamente a trama escrita por Bill Weiner aborda o preconceito praticado contra os anões, um mal que pode existir até mesmo dentro de um núcleo familiar. Steven (Matthew McConaughey) é um homem bem sucedido profissionalmente, bonito, de porte atlético e que está feliz da vida namorando a jovem e carismática Carol (Kate Beckinsale), mas ele evita falar de seus parentes alegando que eles são problemáticos. O casal se entende tão bem que nem rola ciúmes quando ele sai para passear e deixa a companheira em casa, mas ele não vai a procura de diversão com outras garotas.
Com mais de 1m80 de altura, Steven inevitavelmente chama a atenção quando comparece a festas familiares, uma espécie de comemorações particulares entre anões, ocasiões onde ele pode reencontra seu irmão gêmeo Rolfe (Gary Oldman – com seu tamanho impressionantemente reduzido e crível). Apesar de esconder suas origens, Steven tentava viver em harmonia com seus parentes e amigos baixinhos, mas as coisas tomam outro rumo quando descobre que sua garota está grávida. Ao receber a visita surpresa de seu desconhecido cunhado, Carol demonstra educação e compreensão, tanto que decide por conta própria se encontrar com a família do namorado, mas não consegue esconder sua preocupação em dar a luz a uma criança que possa herdar tal genética. A família de Steven leva numa boa as dúvidas e preocupações da mais nova participante do clã, afinal por mais bem resolvidos que sejam eles sabem que o mundo é preconceituoso e até a aconselham a procurar tratamentos para reduzir as chances do bebê herdar o fardo genético. O problema é convencer o pai que existe essa possibilidade.
Steven até tenta encarar a situação com maturidade em nome do amor que sente pela companheira, mas não seria o nascimento de um filho que o faria superar anos de assuntos mal resolvidos, uma espécie de bloqueio que o impede de aceitar totalmente o nanismo de sua família. Admitindo que preferia que a gravidez fosse interrompida e substituída pela adoção de um bebê livre de qualquer tipo de anomalia, o protagonista perde um pouco seu impacto pelo fato do diretor Matthew Bright não explorar seus inegáveis traumas de infância e adolescência, assim seus medos ganham ainda mais a conotação de atitudes preconceituosas. Mesmo com profundo conhecimento de causa, não sentimos aquela preocupação sincera de um pai que só quer a felicidade do filho, mas sim a intenção de escapar de ser apontado nas ruas como o responsável pela criação de um tipo de aberração, digamos assim. Carol também não é um perfil bem construído. Sua preocupação de mãe é perceptível, porém, por mais descolada que fosse, sua integração com o universo dos pequeninos acontece muito rapidamente, principalmente a amizade com Rolfe.
O enredo até tenta criar uma tensão de ciúmes entre os protagonistas a certa altura, no entanto, a sensação no conjunto é de uma relação insossa que se sustentava apenas apoiada na ideia de liberdade que o casal vivia antes de descobrir que teriam um laço para toda a vida. Paralela à trama principal, acompanhamos outras curiosas histórias de amor. Em um filme sobre anões obviamente não poderia faltar a participação de Peter Dinklage, talvez o mais bem sucedido ator com nanismo de todos os tempos. Ele dá vida a Maurice, que confiante de si e fazendo o estilo pegador, está louco para transar com Lucy (Patricia Arquette), mas na hora H de o sonho de estar com uma gostosona se realizar ele acaba ficando nervoso e falha. Com muitos homens isso acontece, mas para ele a humilhação é ainda maior, como se dependesse de sua libido para ter sua dignidade respeitada
O filme também aborda as dificuldades físicas e psicológicas dos anões. Seus órgãos costumam ser maiores que seus frágeis esqueletos podem suportar, o que lhes acarreta severos problemas precoces, e a vontade de se sentir fazendo parte da sociedade acaba rendendo situações constrangedoras. Sally (Bridget Powerz), ex-namorada de Rolfe, mesmo com seu diminuto tamanho conseguiu atrair a atenção de um marmanjão, mas este claramente a deseja pelo que ela pode lhe oferecer financeiramente. Este gancho mostra como o a pessoa que se sente excluída é suscetível a aceitar se rebaixar a qualquer um que lhe estenda a mão sem analisar suas reais intenções. Com toques de humor, Tip Toes - Na Ponta dos Pés é um drama que sugere vários temas a serem refletidos e debatidos, mas é uma pena que eles sejam desenvolvidos de forma superficial. Dá a impressão de que o próprio diretor tinha medo de ser dramático demais ou acabar ridicularizando a temática e simplesmente jogou os assuntos na tela.
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