Nota 5 Pegando referências em obras de sucesso, terror acerta na nostalgia e por se assumir trash
Pegando carona literalmente em obras como Olhos Famintos e Perseguição - A Estrada da Morte, além de certa inspiração em Pânico na Floresta, o diretor e roteirista Michael Davis nos brinda com uma pérola do cinema de horror trash. Monster Man resgata a estranha sensação de claustrofobia causada por uma gigantesca e árida ambientação que parece isolada do mundo, a adrenalina por estar sendo observado e perseguido por alguém onipresente e o medo do desconhecido e de lidar com algum ser irracional e movido por ódio. Esses já seriam elementos suficientes para chamar a atenção do público-alvo da obra e a elevar de patamar, sendo desnecessária o forçado humor adicionado. Quando estamos tomados pela tensão, somos surpreendidos por momentos típicos de comédias adolescentes e por vezes ficamos na dúvida se estamos acompanhando uma paródia dos filmes que sem sombra de dúvidas inspiram a produção. Um virgem, um rapaz despachado e desbocado e uma boazuda perambulando pelo deserto são os personagens principais e por aí já podemos imaginar as situações que podem surgir, mas se focar a atenção nas partes de suspense é nítido o potencial do argumento que fora desperdiçado.
Os amigos Adam ( Eric Jungmann ) e Harley (Justin Urich) dirigem por uma vasta estrada deserta a bordo de um carro velho rumo a um casamento, mas para interrompê-lo. Guardando sua virgindade para perdê-la com aquela que julga ser o grande amor da sua vida, Adam está disposto a pedir uma nova chance a sua ex-namorada, mas graças a seu parceiro a viagem que poderia ser agradável e tranquila transforma-se em um pesadelo que os obriga a ficar com os nervos à flor da pele em tempo integral. Quando param em um bar para descansar, a dupla vê passando na TV um rali de monster truck, uma corrida de carros enormes como tratores, e Harley zomba das pessoas que assistem. Quando colocam o pé na estrada novamente não demora muito para serem perseguidos por um desses amedrontadores veículos, quase como um tanque de guerra que não oferece visão de quem o dirige. Os amigos tem certeza que na cola deles está alguém que estava no bar e ficou ofendido, mas em paralelo também se sentem perseguidos por um carro preto de vidros escuros que cruza seus caminhos algumas vezes.
Quando os veículos somem da estrada, os rapazes respiram aliviados, mas isso dura pouco. Notam tarde demais que o carro está sem gasolina e param no meio do mais absoluto nada. Caminhando um pouco eles avistam um trailer aparentemente abandonado e resolvem pegar um pouco de gasolina numa cena que insere uma desnecessária dose de humor visto que a sequência oferece um cenário de arrepiar. Dentro do veículo está um corpo mutilado e ao redor de onde está estacionado rastros de um caminhão desenharam um pentagrama que pelas evidências obviamente tem conotações ocultistas. Os amigos, mais preocupados em conversar sobre sexo e zoar, só vão perceber do que se aproximaram mais tarde quando estão descansando em um quarto de hotel e ficam sabendo pelo noticiário que no trailer rolou um crime brutal. O autor certamente é o mesmo que dirige o tal monster truck e é óbvio que ele está seguindo Adam e Harley que resolvem fugir no meio da noite. É nesse momento que os rapazes ganham companhia para a viagem.
Sarah (Aimee Brooks) é uma jovem sedutora com quem os amigos já haviam se deparado pedindo carona na estrada deserta e que reencontraram dormindo dentro do carro. Agora, os três precisam fugir do furioso motorista que se revela um ser desfigurado movido por ódio e sede de sangue. O filme então revela-se desprovido de criatividade, mas oferece o básico para os amantes de perseguições em estradas desertas. A sensação de estar sendo observado a todo momento e de que o perigo pode surgir quando menos se espera garantem o interesse por este terror, isto desde que você releve as vexatórias situações de humor que giram em torno de questões sexuais e escatológicas. O personagem Harley parece pinçado da comédia Um Parto de Viagem, ocupando a vaga do brincalhão que coloca o parceiro de rolê em situações problemáticas. Adam e Sarah também estão longe de serem personagens interessantes e são prejudicados pelo fraco ato final que adiciona feitiçaria ao roteiro que já é uma baita colcha de retalhos.
Se pouco nos importamos com o destino dos jovens e aos poucos a trama vai perdendo fôlego, principalmente pelas situações que sempre se encaixam perfeitamente aos planos do vilão, qual motivo para dar uma chance à Monster Man? O longa prende a atenção pelo espírito e sequências que remetem aos títulos destacados no início do texto. A estrada vazia, a ambientação desértica, as poucas construções que parecem abandonadas ou paradas no tempo, o medo de dirigir na escuridão da noite, a sensação de ser acompanhado por alguém que parece distante, mas ao mesmo tempo muito próximo e atento... Todos esses elementos geram uma sensação de conforto ao espectador. São situações conhecidas e, mesmo que não tragam nada de novo, agradam aos apreciadores de suspenses estilo road movies por tocar na nostalgia provocada por esses medos desbloqueados no passado. Mesmo quando descobrimos que o vilão é uma criatura bizarra que parece fruto de uma experiência genética mal sucedida, ainda sentimos interesse para saber até onde vai a perseguição. Assumidamente trash, divertindo por não negar seu orçamento precário ou a falta de criatividade de seu realizador, infelizmente a produção derrapa nos minutos finais oferecendo uma conclusão ridícula e que destoa do que fora apresentado ao longo do filme.
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