Nota 7 Respeitando mais a essência dos desenhos, segundo longa aposta na nostalgia e mistério
Hollywood adotou por questões financeiras que um filme bem sucedido nas bilheterias obrigatoriamente deve ter uma sequência a curto ou longo prazo, não importa. Todavia, dificilmente as continuações conseguem superar seus filmes matrizes, então o que dizer quando o original é um sucesso comercial, mas fracasso de críticas? Scooby-Doo era aguardado há tempos e atingindo a curiosidade das novas gerações e a nostalgia do público adulto as salas de cinema ficaram lotadas e o longa também bombou no comércio de vídeo, mas os elogios não acompanharam a curva ascendente das cifras. Scooby-Doo 2 - Monstros à Solta contraria as expectativas e revela-se ligeiramente mais interessante que o primeiro longa, principalmente pelo fato do diretor Raja Gosnell desta vez ter bebido diretamente na fonte do seriado animado. Também foi mantido James Gunn no roteiro, apesar dos deslizes do anterior, e o elenco principal topou o desafio de tentar resgatar a essência de seus personagens. Fred (Freddie Prinze Jr.), Daphne (Sarah Michelle Gellar), Velma (Linda Cardelini), Salsicha (Matthew Lillard) e Scooby-Doo, este com visual aprimorado, agora voltaram a se unir para reativarem a Mistério S/A e são os convidados de honra de Patrick Wisely (Seth Green) para a inauguração de um museu em Vila Legal, cidade natal dos detetives, que conta um pouco da história do grupo a partir dos disfarces dos bandidos que conseguiram capturar ao longo dos anos
O clima sombrio dos desenhos animados está de volta e por falta de um vilão que lembrasse aos dos antigos episódios, uma das inúmeras bolas foras de Gosnell no primeiro longa, desta vez temos vários inimigos em cena. No meio da festa de lançamento da exposição, todos são surpreendidos com as fantasias ganhando vida própria e voltando a atacar. Um fantasma com poder de eletrocutar, um enorme pterodáctilo, esqueletos cíclopes e o espectro de um sinistro mergulhador, esses são alguns dos algozes que os detetives terão que capturar mais uma vez. Quem está por trás de tudo isso é um vilão mascarado que conta com um grande aparato científico que processa uma substância capaz de dar vida aos monstros sem a necessidade de corpos humanos vestirem as fantasias. Agora, a turma de investigadores deve provar novamente que são profissionais competentes e agora contam com a ajuda de modernos e sofisticados equipamentos para auxiliar em seus trabalhos, todavia, terão que enfrentar os ataques de Heather Jasper-Howe (Alicia Silverstone), uma repórter que manipula informações e entrevistas a fim de fazer campanha difamatória contra a Mistério S/A.
Sentindo-se especialmente culpados pela trapalhada ocorrida no museu, Salsicha e Scooby decidem iniciar uma investigação sozinhos para tentar se redimirem perante seus amigos do grupo, assim passam a procurar pistas que os levam até o sinistro Jeremiah Wickles (Peter Boyle), que no passado foi desmascarado pelos jovens ao fingir ser o Fantasma do Cavaleiro Negro, fato que o levou à prisão por muitos anos. Foi lá que ele conheceu o misterioso Dr. Jonathan Jacobo (Tim Blake Nelson), um cientista renegado pela comunidade científica por tentar criar vida artificial, e dado como desaparecido após a fuga do presídio. A partir dessas novas ameaças os jovens detetives passam a enfrentar seus medos interiores, conhecer melhor suas próprias personalidades e a reativar o espírito de equipe para recuperarem a popularidade. Embora o grande vilão seja alguém de carne e osso poderiam ter achado uma solução mais crível para a volta dos disfarces ameaçadores à ativa, mas do jeito que foi feito não compromete o longa. Os monstros, reproduzidos em computação gráfica de ponta e alguns manipulados por atores vestindo complexos figurinos, não foram criados exclusivamente para o cinema, mas sim pinçados de episódios clássicos da animação, o que é um deleite para os fãs reativarem a memória. Apenas um foi criado com exclusividade, o Bolha de Algodão Doce, que tem como rival principal o comilão Scooby-Doo por motivos óbvios.
Com o malho da crítica e público em cima da primeira aventura cinematográfica, poderia ser difícil conseguir reunir mais uma vez o elenco original, mas todos voltaram e dispostos a reverter a impressão ruim que deixaram. Lillard novamente rouba a cena com suas caras e bocas em parceria com Scooby-Doo criado digitalmente e com muito mais esmero e perfeição que antes, uma dupla perfeita, porém, ainda abusando do humor escatológico em alguns momentos, algo totalmente desnecessário. Também vale destacar o trabalho de Cardellini cuja personagem ganha mais espaço graças a uma trama romântica inserida que leva Velma a mudar seu visual e modos de agir. Já a sumida e ex-promessa de estrela Silverstone reaparecia, após muitos anos ausente do cinema, na pele de uma intrigueira repórter que faz de tudo para manchar a imagem do grupo de heróis perante a sociedade ao mesmo tempo em que destila seu veneno entre os membros da equipe com o objetivo de mais uma vez acabar com a Mistério S/A tal qual acontecia no filme anterior onde uma guerra de egos era o pivô da separação.
Bem mais cartunesco, com visual e enredo próximos às origens da série animada e com o elenco melhor entrosado e respeitando as características de seus personagens, Scooby-Doo 2 – Monstros à Solta é um excelente programa para as crianças e realmente aqui os adultos podem se divertir e recordar da infância com cenas de ação, mistérios e boas doses de humor. Por outro lado, exatamente como no filme anterior, incomoda a estrutura que se assemelha a um episódio estendido para muito além do tamanho necessário, com uma interminável sucessão de piadas e situações que, como artifício da vez, coloca Salsicha e Scooby tendo que provar a seus amigos que eles não são obstáculos ao sucesso do grupo e que são muito competentes, embora geralmente acertem na base da sorte. Há alguns exageros como quando o magricela resolve beber alguns líquidos desconhecidos que tem a capacidade de alterar fisicamente quem os ingere, assim transformando o atrapalhado detetive num belíssimo corpo de mulher ou até mesmo dotá-lo de volumosos músculos. Entre um escorregão aqui e ali, de qualquer forma Gosnell conseguiu limpar sua barra com os fãs da série, mas não foi o suficiente para credenciá-lo a dar continuidade a franquia. Outras produções com elenco diferente e lançadas diretamente para consumo doméstico surgiram, mas só servem para entreter a molecada e nada mais.
Aventura - 93 min - 2004
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