sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

ATERRORIZADA

 

Nota 6 Previsível e sem grandes sustos, longa ainda gera interesse graças ao empenho do elenco

John Carpenter é responsável por clássicos de suspense e de horror como, por exemplo, Halloween - A Noite do Terror, A Bruma Assassina, Fuga de Nova York e O Enigma do Outro Mundo. Com um extenso currículo, é louvável que o cineasta tenha construído uma carreira sólida permanecendo fiel aos estilos que o consagraram, contudo, conforme sua idade foi avançando, a quantidade de filmes assinados por ele foi diminuindo no mesmo compasso que público e crítica passaram a não valorizar seus trabalhos. Após o lançamento sem repercussão do suspense apocalíptico Fantasmas de Marte, parecia que o diretor teria optado pela aposentadoria, mas após um hiato de quase uma década eis que ele volta aos sets de filmagem para comandar Aterrorizada, produção que frustra seus fãs aos entregar uma obra previsível e nem a pretensa reviravolta do ato final consegue salvar o conjunto.

O roteiro da dupla Michael e Shawn Rasmussen se passa em meados da década de 1960, quando a jovem Kristen (Amber Heard) é internada em uma instituição psiquiátrica após incendiar uma velha residência. Não fica clara a razão dela ter cometido tal ato, mas os hematomas evidentes em seu corpo sugerem que ela teria sido vítima de agressões físicas. A moça não se recorda do que lhe aconteceu e não entende a razão de ter sido internada, mas rapidamente percebe que há algo de errado no hospital. Tanto o seu passado quanto o do local parecem esconder algum terrível e sombrio segredo e não demora para que ruídos misteriosos e aparições de uma garota passem a atormentar a novata. Não é preciso muito para termos a certeza de que uma das pacientes foi morta no hospital e agora está sedenta por vingança. Convicta disso e tentando desvendar o caso, Kristen acaba se tornando alvo do Dr. Stringer (Jared Harris) que parece querer esconder um sórdido episódio da instituição e para tanto tenta convencê-la de que seu grau de insanidade requer tratamentos mais radicais como a terapia de eletrochoque.


A trama, pouco original, se desenvolve de maneira entediante em diversos momentos, especialmente quando são inseridos alguns flashbacks explicativos (até demais) que minguam qualquer expectativa de que algo possa vir a surpreender. Sem uma atmosfera de tensão consistente, os sustos são dosados e geralmente acerca da aparição do espectro da garota morta que não tarda a revelar que deseja eliminar as pacientes do instituto, mais especificamente o grupo envolvido com seu assassinato, contudo, até a própria Kristen que chegou ao hospital tempos depois do fatídico episódio está na mira. Emily (Mamie Gummer), Sarah (Danielle Panabaker), Zoey (Laura-Leigh) e Iris (Lyndsy Fonseca) são as companheiras de clausura da protagonista que num primeiro momento passam a impressão que elas mesmas serão seu pior pesadelo transformando sua estadia em um inferno, mas logo elas estão unidas, seja para derrotarem o espectro que assombra o local ou para escaparem dos métodos de cura de Stringer que em alguns momentos parece não querer que nenhuma interna possa voltar para casa.

Para bom conhecedor de suspenses, os créditos iniciais destacando o estilhaçamento de espelhos já pode matar a charada encontrando um elo com o filme Fragmentado entre tantos outros que abordam o problema das múltiplas personalidades. Vendo por esse lado, o ato final gera confusões na mente de quem assiste. A figura de Kristen que acompanhamos ao longo de todo o filme não existe? E as demais meninas do sanatório também são imaginárias? E a tal fantasma seria uma alegoria aos medos e traumas da real protagonista da trama? Ficam muitas dúvidas no ar, mas a essa altura já não temos mais fé do filme vir a surpreender e acompanhamos com certo tédio o desfecho que ainda reserva uma cena final pretenciosa, mas que só serve para concluirmos que o roteiro é dos mais clichês possíveis. Mesmo com vários defeitos, o longa se beneficia do elenco enxuto e afinado. Todas as garotas convencem, mas vale um destaque para o trabalho de Heard, que consegue de certa forma esconder o real problema de sua personagem até o clímax, e para Gummer que constrói um tipo sarcástico e dúbio, as vezes parecendo alguém em sã consciência e disposta a ajudar a protagonista e outras revelando um lado perverso torturando as colegas com falas que evidenciam que uma vez dentro do sanatório a clausura será para todas a vida.


Situado quase totalmente no sanatório, com exceção da cena inicial, o filme em alguns momentos precisa reforçar tal fato com a presença de enfermeiros e aplicações de ansiolíticos, pois além do grupo citado não temos a presença de nenhuma outra interna perambulando pelos escuros corredores. Isso prejudica bastante a construção do clima de tensão. Faz falta ouvirmos os gritos, murmurinhos ou sandices de outras pacientes, o que poderia reforçar a dúvida se a tal fantasma realmente existe ou é um delírio coletivo das garotas incentivado pelo próprio ambiente soturno e convívio tóxico umas com as outras. Entregando pistas sobre o mistério muito antes do esperado, Carpenter acaba por oferecer um filme que, embora prenda a atenção, está longe de parecer uma obra com sua assinatura e que se afunda em clichês. Ainda assim, Aterrorizada é um produto acima da média dentro de sua seara e ciente de suas limitações tanto narrativas quanto financeiras. Não há cenas aleatórias para encher linguiça. Tudo que é apresentado é importante para compreendermos a situação problema e as personalidades dos envolvidos.

Suspense - 99 min - 2010

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