Nota 1,5 Mais uma vez atrelado a um carro, Paul Walker parece atuar em ponto morto

Curiosa, mas trágica. Assim se
pode definir a relação do ator Paul Walker com os automóveis. Catapultado ao
sucesso na lucrativa série
Velozes e
Furiosos na qual dirigia em alta velocidade e executava manobras radicais e
perigosas sobre quatro rodas, quem imaginaria que com apenas 40 anos de idade
sua trajetória seria interrompida de maneira brusca justamente em um acidente
de carro que culminou em explosão. Pouco antes deste triste episódio o ator
mais uma vez esteve à frente literalmente do volante do suspense
Veículo 19, thriller genérico que ele próprio
produziu e obviamente se encarregou de estrelar. Realizado a toque de caixa
durante o intervalo de filmagens do quinto e do sexto episódio da citada
franquia automobilística, somente a paixão por carros para justificar o
interesse de Walker em protagonizar uma trama que não passa de um amontoado de
clichês conduzidos de forma enfadonha e quase amadora pelo diretor e roteirista
Mukunda Micheal Dewill que elegeu uma cidade de sua terra natal, a África do
Sul, como cenário da ação. Sair dos manjados cenários da terra do tio San não
foi por acaso, mas certamente uma exigência de produtores locais a quem o cineasta
recorreu como última alternativa para conseguir financiamento para algo tão
descartável. Walker interpreta Michael Woods, um rapaz americano que viola sua
liberdade condicional para visitar sua namorada em terras africanas, mas
imediatamente se mete em uma nova arapuca. Ao alugar um carro para sua viagem, jamais
poderia imaginar que ganharia alguns brindes nada agradáveis. Além do modelo
não ser o mesmo solicitado, ele começa a receber estranhas ligações por meio de
um celular que estava dentro do veículo, além de encontrar documentos falsos e
um revólver. Se não fosse o bastante, escondida e amordaçada no porta-malas
está Rachel Shabangu (Naima McLean), testemunha-chave em um caso de corrupção
policial e que está sendo perseguida pelos fardados, assim o rapaz por tabela
também acaba na mira dos corruptos. Por estar ilegalmente em outro país ele não
pode recorrer às autoridades locais e acaba sendo forçado a ajudar a tal
mulher. Em meio a perseguições e ameaças ele ainda tem que se preocupar em
arranjar desculpas para a namorada que liga de cinco em cinco minutos desconfiada
de sua demora para encontrá-la.
Para se ter uma ideia da
confiança que este filme despertava entre seus realizadores basta dizer que seu
lançamento nos cinemas no início de 2013 ocorreu apenas em alguns países asiáticos,
mas até mesmo nos EUA onde Walker contava com uma legião de fãs a fita foi
direto para o mercado de home vídeo, assim como aconteceu no Brasil sendo
apenas mais um título esquecível entre dezenas que desovavam mensalmente nas
locadoras (hoje eles entopem os sistemas on demand). Com sua ação se
desenvolvendo quase em tempo real e praticamente toda dentro de um
claustrofóbico cenário,
Veículo 19 até
tem um ou outro momento empolgante isoladamente, mas no geral fica com o pé
estagnado na embreagem. Walker leva o filme totalmente nas costas, ou melhor,
atrelado ao volante, mas a proposta exigiria os esforços de um ator mais
versátil em cena, alguém com perspicácia para usar os poucos recursos oferecidos
para alimentar sua interpretação. Sob pressão, nervoso, pensativo ou tentando
manter a falsa impressão de que está tudo bem, ele não muda suas expressões e
parece distante do universo de seu personagem, um comportamento no mínimo estranho
para quem se envolveu até com questões de bastidores para a realização da fita.
No piloto automático, Dewill também não encontra o tom certo para seu trabalho
e deixa o carro morrer abrindo mão da ação em vários momentos para dar espaço a
diálogos tolos e que forçam certa dramaticidade para transmitir a sensação da
angústia de um estrangeiro perdido e encurralado em local desconhecido. Pior ainda,
para manter o protagonista atrelado ao tal veículo do título, a trama é repleta
de situações inverossímeis e estúpidas que culminam em uma conclusão sem
combustível algum. Ainda bem que depois Walker conseguiu realizar boa parte do
cronograma de filmagens do sétimo episódio da saga que lhe deu fama, caso
contrário teria encerrado sua breve carreira com uma produção que passa longe
de fazer jus a uma promessa do cinema de ação que estava em vias de se
concretizar.
Suspense - 85 min - 2012
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