sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

ELE ESTÁ LÁ FORA


Nota 7 Tensão crescente e ambiente claustrofóbico garantem interesse em trama previsível


Uma casa confortável, cercada por uma vegetação abundante e isolada de tudo e de todos. Muitos sonham com um retiro do tipo, mas o que não faltam são filmes de terror e suspense para levar a se pensar duas ou mais vezes nesse ideal utópico. Ele Está Lá Fora é mais um a engrossar a lista de suspenses sobre moradias vigiadas e invadidas, mesmo exigindo bastante boa vontade do espectador para acreditar em tudo o que acontece à uma família em uma única noite. Planejando alguns dias de descanso no campo, Laura (Yvonne Strahovski) parte com as duas filhas pequenas, Kayla e Maddie (as irmãs na vida real Anna e Abigail Pniowsky), para uma bela casa de aluguel à beira de um lago. Ela é recebida por Owen (Julian Bailey), o segurança da residência que conta que os proprietários foram embora depois que o filho portador de problemas mentais sumiu. Como todo suspense com cara de telefilme que se preze, tudo é bem mastigadinho e então já temos a dica de que o tal desaparecido pode não estar tão longe e só estava a espera de visitas indesejadas. 

Ter ainda no início informações sobre o antigo morador da casa não é spoiler algum, afinal o título já diz tudo. O importante é saber quais as táticas de ataque do psicopata e o roteiro de Mike Scannell facilita bastante as coisas para o vilão. Cada passo das vítimas encaixa-se perfeitamente a seus propósitos e, diga-se de passagem, para alguém tachado como insano o cara é inteligentíssimo e arma em tempo recorde armadilhas mirabolantes. A primeira delas evoca o popular conto de João e Maria com as garotinhas sendo atraídas para dentro da floresta e encontrando uma mesa arrumadinha e com dois bolinhos apetitosos e coloridos. Maddie, a mais nova, é a única que come e a noite preocupa a mãe com uma sequência de vômitos. Em uma das golfadas surge um pequeno pedaço de fita onde há escrita uma saudação e quando Laura parte o outro doce encontra mais uma fita, esta com a palavra adeus grafada. Essa é a deixa para o vilão encapuzado surgir próximo a uma árvore e ser observado por mãe e filhas através de janelas totalmente desprotegidas, mas ele não quer simplesmente atacá-las. 


O grande interesse do criminoso é amedrontar esta família ao máximo como forma de alimentar sua própria perversão, assim usa e abusa de aparições relâmpagos, provoca barulhos e faz questão de se mostrar onipresente através de armadilhas e fazendo uso de macabros bonecos esculpidos em madeira representando as viítimas. A essa altura Shawn (Justin Bruening), o patriarca da família, já está a caminho, mas o psicopata também está ciente e bolando uma forma de impedi-lo de chegar à  casa, mas os personagens masculinos não ganham muita atenção do roteiro, entretanto, também não ficamos sabendo o motivo das mulheres serem as principais vítimas. E o filme se resume a isso, uma sucessão de ataques à família que não fica apenas na intenção. Se agarre no ditado popular que diz "há louco para tudo" e embarque nessa montanha russa proposta pelo diretor Quinn Lasher em seu trabalho de estreia. Seguindo um estilo próximo ao usado em Os Estranhos, partindo da tortura psicológica e gradativamente introduzindo a violência explícita, sua intenção é aterrorizar os poucos personagens a ponto de deixar o espectador roendo os tocos de unhas e se contorcendo a cada novo susto que são oferecidos em doses cavalares. 

A ambientação claustrofóbica (embora a casa por fora seja gigantesca, são poucos os cômodos explorados dando a impressão de ser um chalé) também colabora para aumentar a tensão e vale destacar que o diretor usa uma boa iluminação deixando sempre às claras o que está acontecendo, até mesmo quando faz tomadas noturnas externas. A trama busca traçar um paralelo entre o pesadelo vivenciado pela família e as situações propostas por uma lenda infantil pouco conhecida, mas nada que impeça a compreensão. O que incomoda é a ridícula justificativa aos atos do psicopata. Como alguém perturbado, ele nem precisaria dar explicações, mas se o roteiro se propõe ao menos respeite a inteligência do público. Contudo, Ele Está Lá Fora não veio para dar explicações e muito menos confundir. Seu único objetivo é assustar e isso faz com propriedade. Mesmo que as situações possam ser premeditadas, o interesse não cai e existe identificação com o conflito. 


O ponto forte da produção é a atmosfera conquistada pelo conjunção de elementos técnicos que ajudam o espectador a ser transportado para dentro do do filme e a se sentir encurralado dentro daquela casa junto às personagens, ainda que as interpretações tenham alguns deslizes, chamando a atenção as diversas vezes que Laura se arrisca em vão e deixa as filhas sozinhas e a mercê da sorte. Sem ter como se comunicar com alguém para pedir ajuda e sabendo que o bandido é astuto o bastante para cercar todo o entorno da casa, o mais prudente seria tentar de todas as formas barrar portas e janelas e rezar muito, mas e quando inesperadamente a ameaça também pode ter acesso tranquilamente ao interior do imóvel? Realmente, é impossível ficar inerte ao pesadelo desta família e mesmo com alguns equívocos aqui e ali, em suma, a produção pode ser considerada acima da média entre os exemplares de sua seara. De quebra, o longa nos deixa uma indagação: como os pais das irmãs Pniowsky permitiram que elas participassem de algo tão perturbador? Pós-filmagens, haja analista.

Terror - 89 min - 2018

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