quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

PASSE LIVRE


Nota 6 Longa investe no anarquismo equilibrado com certa dose de sentimentalismo e reflexão

Comédias enfocando adolescentes em busca de aventuras sexuais existem aos montes desde que se popularizaram na década de 1980 e até hoje conta com um público cativo, mesmo que renovado de tempos em tempos, afinal jovens que só pensam naquilo é o que não falta independente da época. Dos anos 2000 em diante temos observado que uma espécie de novo subgênero tem ganhado força, uma corrente que investe em tramas divertidas tendo como pano de fundo relacionamentos amorosos, porém, abusando dos palavrões, escatologia e situações embaraçosas. Adam Sandler, Vince Vaughn e Seth Rogen, por exemplo, não ficariam eternamente jovens e passaram a encarnar com certa regularidade personagens maduros em termos de idade, mas com os espíritos tomados pelos sonhos e alegrias típicos da juventude, porém, já precisando se preocupar com o futuro, seja para viverem sozinhos ou formando uma família. Owen Wilson também faz parte deste seleto grupo que precisou se readaptar a uma nova linha de humor para se manter em atividade. Em Passe Livre, o loiro forma uma impagável dupla com Jason Sudeikis parecendo amigos de infância usando o trabalho como desculpa para voltarem a se reunir e se divertirem.

O enredo nos apresenta ao boa-praça Rick (Wilson) e ao impulsivo Fred (Sudeikis), dois grandes amigos que não tem mais idade para ficarem experimentando tudo o que a vida pode oferecer e estão colhendo o que plantaram com suas decisões do passado. Eles já são quase quarentões, aparentemente bastante comprometidos com suas famílias e estão acomodados em seus empregos como corretores. Contudo, nem mesmo uma noite a sós para namorar com suas respectivas esposas, Maggie (Jenna Fisher) e Grace (Christina Applegate), eles estavam conseguindo. Cansados da rotina do casamento e com os filhos, ambos viviam aprontando alguma para poderem se divertir, mas sempre as estripulias acabavam lhes trazendo problemas, mesmo não chegando aos finalmentes com nenhum rabo de saia. Eles apenas se divertiam dando closes pouco discretos em corpos femininos, apostando de brincadeira noitadas com alguma gostosa e fazendo reuniões machistas regadas a cerveja e carteado. Acostumadas a perceberem tudo isso com certa pena, suas esposas resolvem dar um basta com uma ousada atitude. Elas presenteiam os companheiros com uma semana de passe livre, ou seja, poderão fazer o que quiserem sem precisarem dar explicações. A intenção é que eles reflitam e decidam se querem continuar casados, mas para os maridos inicialmente o presente caiu dos céus e levam tudo na farra. Sete dias para esquecer seus compromissos com a família e irem curtir a vida com os amigos e conhecer algumas garotas era tudo o que eles desejavam a essa altura do campeonato. 


Em um primeiro momento, os rapazes se mostram animados e cheios de energia pra voltarem a paquerar como na juventude, mas as novas tentativas soam sempre frustradas e aos poucos eles se dão conta de que a vida de solteiro quando não se tem mais vinte e poucos anos não é tão fácil e que a convivência com suas respectivas esposas faz muita falta. E o filme se resume a isso, a uma única piada usada à exaustão. Só não se torna cansativa graças ao carisma do elenco e a expectativa de ver até que ponto a ousadia dos Farrelly chegará. E antes que as feministas se revoltem, fique claro que Maggie e Grace também terão oportunidades para aproveitar a semana de farra, diga-se de passagem, com muito mais êxitos que seus maridos que parecem ter medo do desamparo que pode esperá-los ao fim de tudo isso. Em tempos em que a instituição do casamento está em crise e muitos casais se unem por impulso, obrigados ou continuam a viver juntos por pura conveniência, a proposta da tal semana do livre arbítrio pode ser tentadora, mas ao mesmo tempo, aos mais conservadores, é uma total irresponsabilidade e falta de compostura. Bem, o lado mais ético da questão obviamente não é o foco trabalho dos Farrelly acostumados a comédia românticas que investem muito mais em situações de humor escrachado do que no romantismo puro e simples, como prova suas obras como Quem Vai Ficar Com Mary?, O Amor é Cego e Antes Só do Que Mal Casado

Os diretores também amadureceram e decidiram realizar um filme com temática possivelmente coincidente com o momento pessoal que vivenciavam. De certa forma conseguiram, porém, a crítica não gostou muito da seriedade por trás do escracho. Muitos jornais, revistas e sites publicaram, em outras palavras, que caso os Farrellys continuassem nesta linha de trabalho acabariam se tornando apenas mais dois nomes no inflado mercado hollywoodiano, deixando para trás o diferencial que os consagraram. No entanto, se comédia genuína é para gargalhar e mergulhar no nonsense, eis um prato cheio. A linha tênue entre o humor sadio e o constrangimento é abandonada logo nos primeiros minutos de projeção. Aqui os cineastas questionam o que pode acontecer com um relacionamento aberto e partindo desta premissa eles oferecem por quase duas horas diversas situações esdrúxulas pelas quais vão passar os tais solteiros temporários. Dessa forma, o longa por diversos momentos remete à Picardias Estudantis e American Pie, por exemplo, títulos que se tornaram ícones das comédias adolescentes. 


Infelizmente, Passe Livre não tem tanta vitalidade para marcar o gênero, ainda que esse tipo de produção tenha recuperado o fôlego com argumentos que apostam em um viés levemente diferenciado: os maduros com um pé na adolescência, como O Virgem de 40 Anos e Gente Grande. O roteiro dos próprios diretores em parceria com Pete Jones e Kevin Barnett, aborda várias questões pertinentes, como a imaturidade mesmo já sentindo o peso da idade e a crise existencial. Claro que se a produção chegar a provocar algum tipo de reflexão isso só ocorrerá algum tempo depois do término, pois é impossível se pensar seriamente diante de tantas situações irreverentes, porém, os cineastas exageraram um pouco na dose do nonsense, chegando até mesmo a apresentar um generoso e demorado close de um órgão sexual masculino. Apesar de continuarem com o hábito de expor seus personagens a situações bizarras e ultrajantes, desta vez eles construíram uma comédia irregular que ao final quer deixar no ar lições de moral, assim mudando o tom da brincadeira. De qualquer forma, é uma opção para se divertir sem compromisso bem razoável, mas longe de um programa para toda família mantendo a tradição dos Farrelly.

Comédia - 105 min - 2011

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Um comentário:

renatocinema disse...

Não é meu estilo de filme.

Não gosto dos atores também.


Quem sabe, talvez, um dia.