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NOTA 8,5 Baseado em clássico conto infantil, desenho agrada crianças e adultos com belo visual e história madura e emotiva sobre amizade e superação |
Não seria exagero dizer que Hayao
Miyazaki é o Walt Disney do cinema japonês. As produções que levam seu nome ou
o de seu estúdio, o Ghibli, costumam arrecadar fortunas em seu país de origem,
porém, mesmo atuando desde a década de 1970, suas produções parecem ter dificuldades
para adentrar em outros territórios. A Viagem de Chihiro, por exemplo, provavelmente
só chegou aos cinemas de vários países graças ao Oscar na categoria de Melhor Filme
de Animação. Com idade avançada, Miyazaki já não produz como antes, mas não
deixa de participar de alguma forma dos lançamentos de alguns de seus pupilos,
como no caso de O Mundo dos Pequeninos
no qual ocupou-se do roteiro (em parceria com Keiko Niwa) e assina como
produtor executivo, mas a direção geral é do então estreante Hiromasa Yonebayashi.
Adaptação do romance “Os Pequeninos Borrowers”, da inglesa Mary Norton que já
inspirara outras versões cinematográficas, como Os Pequeninos, a
narrativa acerta ao condensar as temáticas características do estúdio em uma
singela obra que nos faz refletir sobre o amadurecimento e a solidariedade.
Nesta versão animada, com os famosos e delicados traços da empresa acrescidos
de uma paleta de cores mais vívida que de costume, conhecemos Arrietty, uma
minúscula adolescente que vive anonimamente com seus pais Pod e Homily dentro
do assoalho de uma aconchegante residência. Embora dotados de semelhanças físicas
com os humanos, sua espécie sempre viveu em redutos para não chamar a atenção
de curiosos quanto sua pequenez e para não se tornarem presas de animais, mas
mesmo assim parecem estar em extinção. Apesar de todos os conselhos, a menina
parece não enxergar como uma ameaça Shô, um garoto com saúde fragilizada que
vai passar uma temporada na casa da tia Sadako para ter mais qualidade de vida
e que acaba se afeiçoando a pequenina sem demonstrar estranheza alguma, afinal
sua mãe já havia lhe contado histórias sobre os colhedores, assim são chamados
estes pequenos seres que vivem com o que pegam emprestado dos humanos, mas
apenas coisas que não sentiriam falta.

A direção de arte é primorosa e
riquíssima em pormenores. Impossível não sentir vontade de conhecer de perto
cada cantinho da casa de bonecas projetada especialmente para os pequeninos. A própria
casinha deles é dos cenários mais interessantes, repletos de informações
visuais e curiosidade. Relógios de pulso, fitas colantes e alfinetes, por
exemplo, todos ganham novas funções com os colhedores que mostram-se criativos ao
reaproveitar o que é lixo para os grandões. Vale ressaltar a ótima ideia de Yonebayashi
em registrar boa parte das ações sob a perspectiva das criaturinhas, o que amplia
o conflito e a sensação de angústia dos mesmos diante de enormes figuras
humanas, animais ou objetos, e isso também se estende aos efeitos sonoros que
amplia ruídos. Um simples ranger de porta ou assoalho para quem tem cerca de
dez centímetros de altura e vive às escondidas pode soar como um amedrontador
sinal. As produções da Ghibli acertam em cheio ao explorar nos diálogos e dedicar
longas cenas as atividades cotidianas dos personagens assim, como acontece
neste caso, a simples preparação de um chá ganha função na trama aproximando o
espectador àquele universo e proporcionando certa sensação de aconchego e
conforto. E é justamente isso que quem se propõe a acompanhar O Mundo dos Pequeninos necessita. Simplesmente
relaxar e se permitir adentrar em um mundo mágico, mas ao mesmo tempo com
elementos que nos fazem manter os pés no chão. Mesmo com a ameaça que se torna
Haru, a trama não tem propriamente um vilão ou este poderia ser a própria vida
que se encarrega de colocar obstáculos em nossos caminhos, mas os mesmos não
podem ser encarados como adversários indestrutíveis e sim como provas que nos
são dadas para trazer dinamismo ao cotidiano e demonstrarmos nossa força e
vontade de viver. O longa é mais uma prova da competência do Studio Ghibli em
saber como contar encantadoras histórias para crianças, mas sem subestimar suas
inteligências e muito menos a dos adultos que se mostram sensíveis aos conteúdos
e ao poder que esteticamente suas obras tem de nos transportar de volta a
infância.
Animação - 94 min - 2010
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