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NOTA 7,0 Apesar de algumas falhas e situações inverossímeis, longa cumpre o que promete, divertindo e fazendo o espectador roer as unhas |
Os filmes-catástrofes tornaram-se
populares nos anos 70 com produções que narravam histórias acerca de naufrágios
e desastres de aviões, por exemplo, mas bem antes disso a segurança da
humanidade já era colocada em xeque com invasões alienígenas. Conforme a
indústria dos efeitos especiais avançava, tal subgênero também ia se
aperfeiçoando e então foi possível investir em tramas que mostravam a fúria da
natureza contra o desrespeito e a ganância do homem, algo bem-vindo para ajudar
discussões a respeito de preservação de recursos naturais e afins. O problema é
que tudo que é demais enjoa e logo a fórmula se esgotou, assim muitas produções
literalmente fizeram jus ao seu rótulo e tornaram-se retumbantes catástrofes de
críticas e bilheterias. Escapando dessa maré de azar, mas não chegando a ser um
super sucesso, podemos citar O Inferno de Dante, suspense com
toques de ação que ajudou a consolidar o ator Pierce Brosnan como astro e
chamariz de audiência. Após vários tipos coadjuvantes, ele assumiu dois anos
antes o lendário papel de James Bond e já se preparava para estrelar a sua segunda aventura como o Agente 007 e nesse intervalo protagonizou este filme onde
deu vida a Harry Dalton, um perito em fenômenos vulcânicos que junto com seu
chefe, Paul Dreyfus (Charles Hallahan), e sua equipe de pesquisadores vão para
a pequena cidade de Dante’s Peak verificar os arredores de um vulcão que parece
estar dando sinais de atividade. Quando chegam, o local está festejando a boa
fase. Após a cidade ter sido destruída por fenômenos da natureza, ela conseguiu
ser reconstruída e agora ostenta posição de destaque nas pesquisas oficiais de
qualidade de vida, tudo isso graças aos esforços de Rachel Wando (Linda
Hamilton), a prefeita que está recebendo uma equipe de empresários interessados
em instalar uma indústria na região, o que geraria muitos empregos e
consequentemente outros benefícios como publicidade para o turismo. A cidade
fica aos pés do vulcão que está inativo há quase uma década, mas mesmo assim
Rachel atende atenciosamente a equipe de geólogos que passam alguns dias por lá
para certificarem-se da segurança da região.
Nesse meio tempo, é óbvio que vai
surgir interesse romântico entre Dalton e Rachel, abandonada pelo marido e com
dois filhos pequenos, Lauren (Jamie Renée Smith) e Jeremy (Graham). O roteiro
de Leslie Bohen, cujo trabalho anterior, Daylight,
também gira em torno de uma catástrofe, dedica seu primeiro ato a criar laços
afetivos entre os principais personagens para na hora do aperto o espectador
ficar na torcida para que eles sobrevivam. Paralelo a isso, já vai também
preparando o terreno para o bolo da festa. É graças as crianças que o primeiro
sinal de alerta é percebido. Quando vão se divertir nas águas quentes das
lagoas das montanhas, são encontrados os corpos de dois adolescentes queimados.
Além da alta temperatura, a água foi contaminada por um composto químico que a
transformou em ácido. Os pesquisadores acreditam que aquele poderia ser um
episódio isolado, bastava controlar os acesso à área, mas Dalton está cismado.
Traumatizado pela morte da namorada quatro anos antes vítima das consequências
de uma erupção vulcânica enquanto ela o acompanhava em uma viagem de trabalho,
ele não quer sair da cidade até que tenha certeza da ausência de riscos diretos
para a população, no entanto, parceiros políticos de Rachel querem ver os
geólogos longe o quanto antes para não espantar os investidores e atrapalhar os
interesses econômicos locais. Contudo, em uma semana o inesperado acontece,
mas já é tarde demais. Em meio a uma tensa reunião para informar a população
que é preciso esvaziar a área o mais rápido possível, intensos tremores de
terra começam, o pânico toma conta e rapidamente a incandescente lava vulcânica
passa a invadir e destruir tudo o que encontra. O corre-corre e a gritaria são
previsíveis, você já viu cenas semelhantes em muitas outras produções. Enquanto
vemos a fuga dos protagonistas, a câmera é posicionada de forma a captar o que
acontece ao redor deles, aquele cara queimando aqui, o carro explodindo acolá.
Pode parecer clichê demais, porém, teoricamente é isso mesmo que quer ver quem
procura filmes do tipo que claramente não querem se aprofundar no emocional dos
personagens diante da eminência de morte, apenas ser uma desculpa para a
exibição de efeitos especiais que, no caso, nem geram tanto impacto quanto as
nuvens de cinzas do vulcão feitas com pedaços de jornais, um efeito que chega a
sufocar o espectador.
Brosnan afirmou que se sentiu
atraído pela produção não pelas cenas de ação, mas sim pelo fator psicológico
de como seu personagem lida com o desastre, vencendo inclusive sua
claustrofobia já que muitas sequências foram feitas em ambientes e situações
sufocantes. Contudo, não há tempo para lamentar mortes, remoer o passado ou
pensar no futuro. O lance é encarar o presente que não é nada agradável. Quando
fogem de uma situação em perigo, logo em seguida vem outra, ainda que tais
passagens sejam diminuídas pela inverossimilhança como um carro conseguir
atravessar um rio ou trafegar sobre labaredas. A cena mais impactante e crível
é uma em que Ruth (Elizabeth Hoffman), avó dos filhos de Rachel, entra em um
rio transformado em ácido para puxar a canoa em que a família e Dalton
estavam. Boa parte dos problemas deles é
ocasionada pela idosa que se recusava a abandonar a casa que passou a maior
parte de sua vida, diga-se de passagem, localizada em um ponto extremamente
crítico, e isso atrasou a fuga. Tal cena força a barra para o espectador cair
no choro ou sentir um nó na garganta, mas realmente a estratégia funciona, pois
é impossível não imaginar uma avó ou mãe se prestando a sacrifício semelhante.
Aliás, apesar das falhas ou estratégias do diretor Roger Donaldson, depende do
ponto de vista, é possível sim para o espectador se enxergar vivenciando tal
tragédia e imaginando o que faria, pena que na vida real as coisas não
funcionam como em Hollywood. Com efeitos especiais produzidos pela mesma equipe
de Apollo 13, que não só recriaram a
erupção do vulcão, mas também suas consequências como incêndios e fendas no
solo através de computação gráfica, miniaturas, maquetes e trucagens in loco, O
Inferno de Dante no conjunto convence com um visual realista e caótico,
ficando acima das expectativas. Até as interpretações não são prejudicadas,
visto que muitas cenas perigosas foram feitas sem que os atores tivessem
contato com o que lhes atingiria. Curiosidade: em uma das várias coincidências
do cinema (ou seriam espionagens industriais?), Donaldson, que vinha de
trabalhos de repercussão como A Fuga e
A Experiência, teve que correr contra
o tempo para lançar este filme antes que sua estreia encavalasse com a chegada
de Volcano – A Fúria, produção de
mesma temática estrelada por Tommy Lee Jones lançada alguns meses depois e,
como era de se esperar, automaticamente taxada como caça-níquel, apesar de ter
suas qualidades e também entreter.
Suspense - 109 min - 1997
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