domingo, 28 de novembro de 2021

ENCONTRO DE AMOR


Nota 6 Longa recicla a fórmula do conto da Cinderela, mas sem surpresas e com algumas falhas


O velho e conhecido conto da Cinderela escrito em meados do distante século 17 pelo francês Charles Perrault continua sendo uma fértil fonte de inspiração para o cinema, mesmo em tempos em que tal história já foi contada e recontada das mais variadas formas por todos os cantos do mundo seja em forma de peças teatrais, programas de TV e até mesmo releituras literárias. O problema é que cada vez que o texto ganha uma nova versão mais batido o tema fica, porém, as comédias românticas contemporâneas adoram requentar a fórmula da garota pobre que se apaixona por um homem rico e até o avesso dessa relação, o rapaz humilde conquistando uma ricaça, já está se tornando saturado no mundo cinematográfico. Produtos do tipo não costumam gerar bilheterias exorbitantes, mas contam com um público cativo e fiel que adora assistir um filme já sabendo como ele terminará. Encontro de Amor é mais uma comédia romântica do tipo e que hoje já pode se dar ao luxo de contar com o status de clássico estilo sessão da tarde. Nada mais apropriado para uma produção leve, descontraída e que agrada crianças e o público feminino, mas os homens também podem se entreter desde que entrem no espírito do programa.

O argumento original é do finado John Hughes, criador de populares sucessos do passado destinados a entreter a todas idades como Curtindo a Vida Adoidado e Esqueceram de Mim, mas no trabalho em questão ele deixou as peripécias e anarquias infanto-juvenis de lado para mergulhar de cabeça em uma piscina de água com açúcar, porém, o material acabou tendo o roteiro desenvolvido por Kevin Wade, que pouco antes havia feito sucesso com o texto de Encontro Marcado.  O pupilo soube fazer a lição de casa direitinho e nem mesmo o clichê da protagonista trocando de roupa várias vezes até encontrar o modelito perfeito para viver sua noite de sonhos foi descartado. A trama gira em torno de Marisa Ventura (Jennifer Lopez), uma mãe solteira que mora em Nova York e como tantas outras latinas trabalha como camareira em um dos mais famosos e requintados hotéis da cidade. Um dia ela é incentivada por uma colega de trabalho a provar as roupas de uma hóspede muito rica, Caroline Lane (Natasha Richardson), e graças ao seu filho Ty (Tyler Posey) a vida de Marisa está prestes a sair da monotonia por causa de um encontro inesperado que o garoto inocentemente provoca.


A Cinderela neste caso não está trajando vestido de baile e tampouco os famosos sapatos de cristais, mas bastou uma roupa de grife e uma maquiagem leve para que a jovem simplória sem querer fizesse sua própria mágica. Confundida com uma mulher bem sucedida e com posses, ela chama atenção do candidato a senador Christopher Marshall (Ralph Fiennes) que acaba de se hospedar no hotel. Ambos se apaixonam a primeira vista, mas não será nada fácil para a camareira esconder sua real identidade, até porque ela está de olho em uma vaga para gerente e uma confusão com alguém importante jogaria sua reputação por água abaixo. Então rola fuxico aqui, outro ali, uma escapadinha rápida para flertar com o hóspede e entre muitos mal entendidos e planos previsíveis para esconder a identidade não é preciso ter vara de condão para descobrir qual será o destino desta gata borralheira moderna. Mesmo sabendo de antemão como tudo termina, ainda há quem acredite que tal receita funciona como o cineasta Wayne Wang, oriundo de Hong Kong , que recrutou a rainha dos romances açucarados para dar vida (e curvas) a protagonista de sua visão romântica da clássica história de amor que tem como principal impasse as diferenças de classes sociais que englobam não apenas a conta bancária e o patrimônio de cada um da relação, mas também pesam os hábitos, postura, cultura entre tantos outros pequenos problemas. 

Apesar de uma história óbvia, Wang não quis entregar tudo de mão beijada logo de cara. Para ficarmos a favor da protagonista, mais ou menos 20 minutos iniciais são gastos apresentando a personagem Marisa, o seu universo, mas as coisas se desenrolam de forma equivocada. Além de um discurso superficial e clichê sobre diferenças de classes sociais, ainda existe tentativas frustradas de mostrar o cotidiano conturbado da camareira, como lidar com a ausência do ex-marido que vira e mexe frustra o filho com promessas de visitas e passeios, mas a certa altura simplesmente esse problema não é mais mencionado e o próprio pai de Ty nem chega a aparecer na trama. Até o tal conflito de classes não chega a ser bem elaborado, ficando mais latente que o rápido e previsível rompimento do casal principal pouco antes da reta final foi devido ao sentimento de ser enganado vivido por Marshall, este que ainda merece um puxão de orelhas por não parecer alguém disposto a brigar por uma vaga na política, mais um ponto que poderia ser explorado pelo roteiro, afinal é de conhecimento de todos que a imagem de um candidato conta muito para sua vitória, assim como uma bela e respeitável mulher como seu par também ajuda a angariar votos. Se o perfil e as tramas dos protagonistas não são dos melhores, ao menos o longa conta com bons coadjuvantes.


Apesar de muitos ganchos desperdiçados, Encontro de Amor não é um filme de todo ruim, pelo contrário, no conjunto ele até rende uma boa sessão sem compromisso. A imagem de mediocridade da fita que tantos fazem questão de perpetuar se deve, além do óbvio preconceito que a senhorita Lopez sofre quanto a função de atriz, ao fato do roteiro ser preguiçoso e previsível, algo comum e aparentemente até apreciado no gênero, portanto não configurando um problemão para seu público-alvo. De qualquer forma, uma produção que na época do lançamento tinha um ponto de atenção interessante: acompanhar uma história leve e romântica que se desenrola em uma cidade que poucos meses antes vivenciou um dos fatos mais lamentáveis dos últimos tempos. Este foi um dos primeiros trabalhos a captar imagens de Nova York após a queda das Torres Gêmeas que eram um dos cartões-postais da cidade. Vendo por esse lado, até nos esquecemos de qualquer problema que o filme tenha e embarcamos facilmente no romantismo manipulado que Hollywood sabe fazer tão bem. E os americanos estavam ávidos por essa magia, pelo menos é o que justificaria a polpuda bilheteria que o longa arrecadou só somando as cifras arrecadadas em sua terra natal.

Comédia romântica - 105 min - 2002

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2 comentários:

Luís disse...

O simples fato de ser a Jennifer Lopez a protagonista não me anima. Os poucos filmes que eu vi com ela me frustraram e não acho que seria diferente com esse filme, que já naturalmente parcee ruim.

GustavoPeres99 disse...

Melhor personagem da Jennifer Lopez na minha opinião ☺️