quarta-feira, 25 de novembro de 2015

MORCEGOS

NOTA 3,0

Reunindo características
dos trashs movies, longa é
até divertido, basta não
encará-lo com seriedade  
Os filmes trashs marcaram os anos 80. Com o advento do videocassete o que era proibido no cinema tornou-se de fácil acesso. Assim os adolescentes ávidos por sangue que antes precisavam estar acompanhados de algum responsável para curtir um terror podiam finalmente matar a vontade de ver corpos dilacerados banhados à catchup o quanto quisessem. Além dos populares seriais killers, faziam sucesso os filmes de monstros e animais geneticamente modificados como aranhas gigantes ou piranhas assassinas. Tais temas também foram muito populares entre os anos 50 e 60, quando os americanos e o mundo como um todo passava por períodos difíceis com muitos conflitos políticos e religiosos que geravam mortes e violência, um clima tenso que não difere muito de nossa atualidade. Se a vida real já era assustadora, o cinema saía prejudicado. O que pode ser mais assustador que colocar o pé para fora de casa e não saber se voltará vivo no fim do dia? Sendo assim, terror e comédia foram unidos para agradar platéias que buscavam no escurinho do cinema momentos de alívio para a tensão do dia-a-dia. O gênero trash nunca saiu da moda, mas é certo que vive de altos e baixos. Após um período de poucas produções, parece que os produtores voltaram suas atenções no final da década de 1990 para este pequeno nicho de mercado. Embora muitos destratem esse tipo de filme, há também um público fiel que adora se divertir com bobagens do tipo Anaconda. Para fechar aquela década, foram produzidos em 1999 pérolas como Do Fundo do Mar, Pânico no Lago e Morcegos, este último uma produção B que no geral até que cumpre seus objetivos e transforma seus defeitos em qualidades, tornando-se uma opção acima da média do gênero. Você deve estar pensando que só louco para curtir algo do tipo, mas se não levarmos a sério tal produto é possível sim se divertir. Certamente o diretor Louis Morneau já pensou em conceber este trabalho como um legítimo trash movie, não foi uma obra do acaso o resultado final. A premissa do longa até que é bem interessante. Se no passado o cultuado Alfred Hitchcock fez sucesso apavorando platéias com pássaros aparentemente inofensivos, por que com outros seres voadores a receita não daria certo? 

A resposta para o fracasso nas bilheterias e de repercussão deste trabalho de Morneau é fácil. Sai de cena a criatividade e o estilo próprio do mestre do suspense e entra no lugar a coletânea de clichês dos filmes de terror para adolescentes, em outras palavras, sustos previsíveis e sangue aos montes, ainda que neste caso alguns litros de molho de tomate foram poupados. É perceptível que as intenções não era transformar este trabalho em uma carnificina sem propósito, sendo que temos apenas uma longa e frenética sequência de destruição da cidade, mas digamos que o viés escolhido não favoreceu em nada a narrativa que acabou refém de uma fórmula muito conhecida. A trama começa mostrando a que veio sem guardar surpresas. Um casal de jovens é atacado por um bando de morcegos enfurecidos mesmo estando dentro de um carro. O caso não é um problema isolado. A pequena cidade de Gallup, localizada no Texas, está sob a ameaça destas amedrontadoras criaturas. Sem saber como resolver o problema, Tobe Hodge (Carlos Jacott) pede ajuda à zoóloga Sheila Casper (Dina Meyer), uma especialista no assunto. Ela sabe que esse tipo de animal pode até atacar um humano, mas dificilmente matá-lo ou dilacerá-lo, já que não se alimentam de carne, assim passa a pesquisar mais sobre o caso e descobre que os morcegos foram geneticamente modificados por Alexander McCabe (Bob Gunton), um cientista que também está colaborando na captura deles, mas com o objetivo de continuar estudando os seus comportamentos. Estas criaturas foram usadas em uma experiência do governo, tornaram-se mais agressivos e inteligentes e aparentemente fugiram do laboratório. Agora Sheila, ao lado de Jimmy Sands (León), seu assistente, e de Emmett Kimsey (Lou Diamond Phillips), o xerife da cidade, precisa correr contra o tempo antes que os morcegos destruam tudo e procriem ainda mais. Embora contem com tramas com elementos parecidos, o que distingue o clássico Os Pássaros deste execrado terror? Hitchcock construiu sua perturbadora narrativa simplesmente construindo clima, indo da calmaria ao suspense extremo respeitando uma cadência de emoções, preparando o espectador para levar sustos. Já Morneau aposta em edição frenética, muita ação e barulho e pouco suspense.

Além da ausência de clima de tensão, outro fator que nos faz diminuir os valores de filmes cujos vilões são morcegos, cobras, crocodilos entre outros animais peçonhentos e asquerosos é justamente o fato de que eles por si só já nos passam a sensação de medo, não precisam nem da modificação genética para serem tachados de monstros. Essa sensação de pavor que automaticamente sentimos é bem diferente se, por exemplo, tivéssemos em cena gatinhos ou cachorrinhos que de uma hora para a outra começassem a atacar a vizinhança (a idéia é bizarra, mas o mal viria de onde menos esperássemos).  A caracterização dos morcegos é um outro ponto discutível. Tudo bem que poucos sabem como esses animais são detalhadamente, mas é impossível ao menos não esboçar uma risadinha quando a câmera dá um close nos seus rostos e fica evidente que são bonecos de borracha animados. Entre erros de continuidade e alguns detalhes absurdos, muitos também apontam o elenco e seus personagens como uma das deficiências desta produção. Nesse tipo de suspense de cidade pequena sabemos que é de praxe ter um vilão estereotipado, um xerife metido a esperto, uma dama bela e corajosa e vários coadjuvantes para serem limados conforma a história avança, mas até estas mortes estratégicas tornam-se divertidas, pois não temos a mínima noção de quem são as vítimas, não há envolvimento emocional. Aliás, até a possibilidade de um romance entre o “la bamba” Lou Diamond Phillips e a careteira Dina Meyer não existe, assim o grand finale não é com um beijo apaixonado dos protagonistas, mas recorre-se a um outro clichê que deixa um gancho para possíveis continuações, o que de fato ocorreu, mas lançadas discretamente direto em DVD. E essa é a receita de Morcegos, a milésima versão da eterna batalha entre homens e as forças da natureza. Efeitos especiais ruins, elenco fraco, piadinhas sem noção e roteiro previsível garantem uma divertida sessão de filme para relaxar, isso se você for espirituoso e levar tudo na brincadeira. Só por curiosidade: quem achou que o roteirista desta pérola, John Logan, deveria ser assassinado ou no mínimo estar preso em um manicômio, saiba que em seguida ele escreveu o cultuado Um Domingo Qualquer e o premiado Gladiador. Quem diria...

Terror - 91 min - 1999

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Um comentário:

Gilberto Carlos disse...

Um filme trash em sua essência. Um dos últimos em que Lou Diamond Phillips brilha.