quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

HOPE SPRINGS - UM LUGAR PARA SONHAR

NOTA 2,5

Premissa renderia ao menos
uma comédia romântica clichê,
mas a a falta de química dos atores
e certas situações decepcionam
Comédia romântica é igual a restaurante de comida por quilo. Todo mundo sabe que o cardápio é composto por elementos básicos e repetitivos, mas ainda assim tem sempre alguém a fim de repetir o prato. O problema é quando o menu servido é um tanto requentado e, pior, com ingredientes que não combinam. Essa é a sensação que temos ao assistir Hope Springs – Um Lugar Para Sonhar, produção “solar” que visualmente pode trazer algo de bom ao espectador, mas se prestar atenção no conteúdo narrativo a decepção é quase certa. A trama gira em torno de Colin Ware (Colin Firth), um artista plástico que ficou muito decepcionado quando recebeu o convite de casamento de sua noiva, a sofisticada Vera (Minnie Driver). Sim, isso mesmo. A mulher com quem ele se relacionava já a algum tempo estava prestes a se casar com outro. Para esquecer tal problema e se inspirar para continuar se dedicando a arte, ele decide sair da Inglaterra e partir rumo aos EUA, mais precisamente para a pequena cidade de Hope Springs, ou em bom português Fonte da Esperança, bem sugestivo não? Foi justamente a palavra positiva no nome da cidade que o atraiu e após muitas horas de viagem ele se hospeda no melhor hotel do local que é mantido pelo casal Fisher (Frank Collison) e Joanie (Mary Steenburger), esta que percebendo o estado arrasado do hóspede decide pedir o auxílio de Mandy (Heather Graham), terapeuta corporal que trabalha no lar de velhinhos da cidade. Mais que aliviar as tensões do rapaz na base de massagens, a espirituosa jovem também tem ótimos conselhos a dar e o convence que não adianta nada ficar preso em um quarto de hotel. É preciso passear, ver paisagens bonitas, conhecer gente nova e respirar ar puro. Até aí tudo bem, nada de anormal, mas não tarda para que comecem os tropeços da trama. Mandy apenas parecia uma moça ajuizada, mas na verdade é beberrona, impulsiva e logo está dando em cima do artista. É constrangedor ver a personagem se despindo sem pudor algum diante de um desconhecido e dizendo que sua felicidade só é plena quando está nua, assim incentivando Ware a fazer o mesmo, obviamente uma tentativa de levá-lo para cama. Já dá para imaginar que o filme não é lá grande coisa, mas aos que quiserem se aventurar...

Apesar de resistente no início, Ware acaba se aproximando de Mandy encantado por seu estilo descontraído e inocente de ver a vida. Como em toda boa região interiorana, a chegada de um forasteiro não passa despercebida. Além de todos torcerem pela felicidade do casal, o artista ganha até a simpatia do prefeito da cidade, Doug Reed (Oliver Platt), que deseja que ele faça um retrato seu para adornar sua sala de trabalho. O problema é que Ware faz desenhos a lápis em estilo rascunho, até deseja fazer uma exposição de rostos do local usando tal técnica, mas o político deseja seu rosto pintado a óleo tal qual o quadro do fundador da cidade. Então a busca de Ware pelo aperfeiçoamento de sua arte é o grande mote desta produção? Antes fosse. Ser um artista plástico é apenas uma desculpa para justificar a permanência do rapaz em Hope Springs. A grande dúvida do filme é a velha questão de com quem o protagonista vai ficar. Quando ele está namorando e feliz da vida com Mandy, é óbvio que Vera reaparece para estragar tudo e disposta a espalhar algumas verdades e mentiras sobre o ex-namorado. A premissa básica desta produção não é ruim, simplesmente é batida demais, sem acrescentar nada de novo ao gênero. Tudo bem para o seu público-alvo que realmente quer experimentar pela milésima vez o sabor de uma receita conhecida, mas a forma como o longa é conduzido é extremamente decepcionante. A sequência de créditos iniciais relativamente extensa e sem um diálogo sequer já denuncia que o filme não tem muito a dizer. Lá pela metade ficamos sabendo da estapafúrdia verdade por trás do tal convite de casamento que motiva a viagem de Ware e ainda somos incitados a nos sentir tocados emocionalmente por ele ter abandonado o pai doente por conta de uma unha encravada. Parece bizarro demais, mas por incrível que pareça está no roteiro. É realmente uma pena que um argumento tão simples que poderia render uma comédia romântica ao menos mediana em comparação a outras tantas do gênero tenha se transformado em um festival de besteiras que não diverte e tampouco emociona, somente constrange e aborrece o espectador.

As poucas cenas divertidas são por conta dos diálogos de Joanie que torce pela felicidade de Ware e Mandy e deseja ver Vera longe da cidade, temendo inclusive que ocorra um ou mais assassinatos passionais em seu hotel. Fora essa pitada de humor, todo o resto soa enfadonho e até vergonhoso. Aliás, é perceptível o constrangimento de Firth, um ótimo ator, mas que na época ainda não era um nome quente. Embora tenha no currículo várias comédias românticas, neste caso ele decepciona, mas também o texto não ajuda colocando-o a discursar frases ridículas. Graham é escolada no gênero, mas curiosamente praticamente todas as suas moçoilas românticas têm um quê de maluquinha, característica que chega a incomodar, pois parece que vive sempre o mesmo papel, a bonitinha com carinha de anjo e pensamentos endiabrados. Por fim, Driver é talentosa, mas faz péssimas escolhas e vira e mexe está assumindo papéis que não cativam o público. De qualquer forma, o trio principal é forte, mas infelizmente não existe liga entre eles, chegando ao ponto do espectador torcer para que Ware fique sozinho, uma escolha mais sensata diante de opções que não combinam com seu perfil. Repleto de problemas narrativos que incomodam bastante é curioso saber que o roteiro e a direção são de Mark Hermann, profissional que ganhou respeito no meio cinematográfico com Laura – A Voz de uma Estrela, elogiado quando lançado, mas infelizmente esquecido. Ele também é o responsável pelo barulho em torno da adaptação para o cinema de O Menino do Pijama Listrado. Fora isso, o roteiro é baseado no livro “New Cardiff”, de Charles Webb, autor do romance que deu origem ao clássico A Primeira Noite de um Homem. Com tantos nomes gabaritados nos créditos, como Hope Springs – Um Lugar Para Sonhar pode ser uma decepção? Mesmo com o final açucarado, até os fãs do gênero devem se sentir insatisfeitos por mais que se esforcem a tecer elogios. Quando nos lembramos de certos detalhes... A unha encravada neste caso foi o calcanhar de Aquiles da produção. Desse ponto em diante tudo é possível.

Comédia romântica - 92 min - 2002

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