quinta-feira, 7 de outubro de 2021

ENIGMA


Nota 5 Com pano de fundo histórico interessante, longa não cativa com trama maçante e confusa


Há quem diga que filmes sobre guerras já esgotaram todas as possibilidades de narrativas, mas existe um público fiel para esse tipo de produto e por incrível que pareça quanto mais se pesquisa sobre esses tempos difíceis mais material é encontrado para alimentar novas produções. O período da Segunda Guerra Mundial é um dos que oferecem mais matéria-prima por conta de registros impressos e de fotografia e o cinema é um excelente caminho para conhecermos mais profundamente tal época e sairmos do arroz com feijão que as aulas de História nas escolas oferecem. É uma pena que as vezes boas premissas acabam sendo desperdiçadas como é o caso do suspense Enigma que tenta paralelamente reconstituir fatos históricos e contar uma história fictícia envolvendo um romance mal fadado. 

Tom Jericho (Dougray Scott) é o matemático responsável pela descoberta do Enigma, uma máquina decodificadora de códigos secretos que os navios nazistas utilizavam para se comunicar durante os tempos de guerra. Contudo, em março de 1943, o rapaz é convocado novamente para ir a Bletchley Park, na Inglaterra, para uma nova missão. Os alemães estrategicamente alteraram o código para dificultar o monitoramento de seus submarinos e embarcações e o Serviço Secreto Britânico precisa decifrá-lo novamente, ainda mais naquele momento em que um grande comboio inglês com finalidades mercantis está em alto mar e cerca de dez mil homens estarão em perigo caso não seja descoberta em no máximo quatro dias a localização dos navios germânicos. Para não deixar a trama extremamente maçante, baseando-se no romance do escritor Robert Harris, o roteirista Tom Stoppard, vencedor do Oscar pelo texto de Shakespeare Apaixonado, adorna seu suspense de guerra com uma subtrama levemente romântica. 


Em sua primeira temporada em Bletchley, Jericho se envolveu com Claire (Saffron Burrows), uma bela mulher que aparentemente só queria se divertir com o matemático, mas para ele o envolvimento não foi só distração. O problema é que a tal moça simplesmente sumiu e nem a amiga com quem dividia a casa, Hester Wallace (Kate Winslet), sabe de seu paradeiro, mas ela aceita ajudar Jericho nas buscas que ficam ainda mais confusas com as desconfianças de que Claire estaria realizando serviços de espionagem para os alemães. Realmente o diretor Michael Apted, de produções famosas nos anos 1980 como O Destino Mudou Sua Vida e Nas Montanhas dos Gorilas, capricha na introdução já oferecendo subsídios para o espectador compreender as duas tramas paralelas e para quem gosta de História as explanações sobre o envolvimento da Inglaterra na batalha contra a Alemanha e seu apoio material a outros países aliados deve ser um prato cheio. 

Após um início promissor, contudo, quando chegamos lá pela metade fica mais difícil manter a concentração. Mesmo quem consegue vencer os primeiros diálogos, cheios de termos específicos dos tempos de guerra, provavelmente chegará a um ponto que se sentirá fatigado e a trama envolvendo o sumiço de Claire também se torna confusa e desinteressante como o emaranhado de nomes que surgem. Muito do desinteresse, na parte que deveria ser o ápice do longa, se deve a falta de carisma do protagonista e nem mesmo seu relacionamento amoroso mostrado em flashbacks muda alguma coisa já que Claire também não é uma personagem das mais interessantes. Quem rouba a cena, para variar, é Winslet, ainda que o jogo duplo proposto por seu papel até bem próximo da reta final (estaria ela a favor ou contra o reaparecimento de Claire viva ou morta?) culmine em uma conclusão frouxa. Todavia, pela sinopse dá para perceber que de forma alguma este filme foi feito de qualquer maneira.


Houve bastante pesquisa de época para oferecer uma impecável reconstituição de época e obviamente prestar esclarecimentos ao público sobre algumas peculiaridades da Segunda Guerra Mundial que poucos têm conhecimento. O contexto histórico merece atenção por se referir a um episódio que ficou em segredo por cerca de três décadas e pelo menos até o lançamento do filme o trabalho realizado em Bletchley Park não havia sido reconhecido oficialmente. Contudo, com menos termos técnicos e personagens também em menor número, mas melhor construídos e que cativassem o público, Enigma poderia ser um filmaço, porém, o resultado final entregue acaba agradando com esforço apenas aos aficionados pela temática. Uma última curiosidade: o músico Mick Jagger, um dos produtores do longa, tinha em sua coleção de antiguidades uma legítima máquina Enigma e a emprestou para que a produção providenciasse cópias para serem usadas nas filmagens. 

Suspense - 108 min - 2001

Leia também a crítica de:

UM HOMEM BOM

Nenhum comentário: