terça-feira, 11 de agosto de 2020

MARY E MARTHA - UNIDAS PELA ESPERANÇA


Nota 7 Longa expõe grave mazela social, mas não aprofunda nem mesmo perfil das protagonistas


Embora seja uma ficção, Mary e Martha - Unidas Pela Esperança tem toda a pinta de produção baseada em fatos reais abordando assuntos bastante comuns ao cotidiano da África do Sul e não seria exagero dizer que encontramos conexões até mesmo com a realidade brasileira. O filme serve como um alerta de como o ser humano é egoísta e só se deixa tomar pelo espírito de solidariedade quando enfrenta alguma dificuldade. Curiosamente, a trama é roteirizada por Richard Curtis, de obras açucaradas como Um Lugar Chamado Notting Hill e Simplesmente Amor, assim ele mostra que tem consciência que a realidade passa longe do mundo romântico que costuma abordar. O enredo começa nos apresentando Mary (Hilary Swank), uma mulher bem sucedida profissionalmente, porém, sua dedicação e volume de trabalho a impedem de conviver e oferecer mais atenção à George (Lux Haney-Jardine), seu único filho que sofre calado a ataques de bullying.  A mulher só fica sabendo disso tardiamente, mas a tempo de abrir seus olhos e assim decide ela própria dar aulas ao garoto e passar mais tempo com ele. 

É a partir desse momento que Mary decide ampliar os horizontes do garoto e os dela própria mudando-se por alguns meses para o continente africano a fim de ambos interagirem com uma realidade e cultura completamente alheias a seus universos. Já Martha (Brenda Blethyn) é uma senhora que leva uma vida bem diferente, mais simples e com menos recursos, contudo é feliz e orgulhosa de seu filho Ben (Sam Claftin), um jovem cheio de planos e espírito aventureiro que se torna voluntário em um orfanato na mesma região onde Mary e o filho se hospedam. A África do Sul é conhecida por suas precárias condições de saúde pública e saneamento básico, além da população pobre e à mercê da sorte. Os personagens norte-americanos viviam em realidades completamente diferentes, mas graças ao surto de malária, infecção transmitida por mosquitos contaminados por um agressivo agente protozoário, não ficaram imunes aos efeitos negativos desta experiência que tinha o objetivo de enriquecê-los como seres humanos. 


É a partir do contágio de seus filhos com a malária que as mulheres que intitulam o longa se aproximarão das mazelas africanas da pior maneira possível, mas que por outro lado as unirá em prol da solidariedade. Diante de uma tragédia que abala sua vida e tudo o mais que toma contato no novo país, Mary sente-se culpada pela rotina fútil e egoísta que levava e decide transformar sua dor em forças para atuar no combate a malária e é assim que ela se aproxima de Martha que compartilha do mesmo trauma e ressentimento, mas imbuída de compaixão e vontade de fazer o bem. Sem estrutura médica e sem planos de combate a doença, as comunidades miseráveis africanas sofrem com o avanço da moléstia que acomete principalmente as crianças que são mais frágeis e suscetíveis a ela, porém, em uma região tão pobre e esquecida qualquer um pode ser uma vítima fatal. Não há acesso a medicamentos e tampouco a itens de prevenção, como mosquiteiros ou repelentes, medidas simples que reduziriam e muito as tristes estatísticas. 

Mesmo com as várias tentativas frustradas de encontrar apoio político, as duas mães lutam com afinco nessa guerra onde os combatentes são em número escasso, mas as vítimas assombram as estatísticas. Para se ter uma ideia do poder destrutivo da doença, estima-se que cerca de 200 milhões de pessoas sejam infectadas anualmente e o maior número de casos mortais ocorrem em territórios africanos. Contudo, outros países também são focos da doença por diversos fatores. O Brasil, por exemplo, tem uma grande concentração de casos na região amazônica que confere um ambiente natural propício à reprodução do mosquito aliado a falta de saneamento e péssimas condições de atendimento médico. As mortes são em números elevados porque a doença age rapidamente e na maioria das vezes não é tratada de forma adequada ainda em seu estágio inicial que apresenta sintomas semelhantes ao de uma gripe. 


A triste realidade de um país que vive constantemente à sombra desta epidemia infelizmente pode não ser tão chocante em Mary e Martha - Unidas Pela Esperança porque a problemática e os dramas da protagonistas precisam ser condensados em um filme relativamente curto para o que se propõe. Feito para a TV, o diretor Phillip Noyce, de Jogos Patrióticos, realmente entrega um produto de consumo rápido e que não choque a plateia multifacetada, mas ainda assim consegue mexer com nossas emoções e consciência. O recado é claro e eficiente:  solidariedade é a palavra-chave para a sobrevivência da humanidade. Não adianta cobrar políticos e empresários que parecem ter no sangue a ganância e o individualismo. Cada um de nós tem que tentar ajudar o próximo como for possível e não precisa ser apenas no caso de uma epidemia. 

Drama - 90 min - 2013

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9 – 10 Excelente, praticamente perfeito do início ao fim
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