domingo, 19 de dezembro de 2021

AS PEDRAS DE FOGO


Nota 5 Aventura tem gostinho nostálgico, mas peca em ritmo e aspectos técnicos e narrativos


O gênero fantasia sempre foi uma fonte rentável para o cinema e a infância e a adolescência de muita gente ficou marcada por produções do tipo como, por exemplo, A História Sem Fim e Willow - Na Terra da Magia. Nostálgica, tal vertente voltou com força total na década de 2000 com o respaldo da literatura, como é o caso das franquias As Crônicas de Nárnia e O Senhor dos Anéis entre tantas outras. De olho no público que literalmente quer esquecer o mundo real e entrar em um imaginário onde tudo é possível, fisgando inclusive boa parte da audiência adulta, o volume de produtos do tipo aumentou consideravelmente entre adaptações de livros e projetos originais. O problema é que nessa onda de pegar carona no sucesso dos outros muitos bons projetos não tiveram a chance de serem apresentados a uma grande faixa de público, sendo automaticamente rotulados como filmes do tipo caça-níquel, produções duvidosas entregues em embalagens de luxo e da moda. Facilmente classificada desta maneira poderia ser a aventura As Pedras de Fogo pelo simples fato do longa não ter tido um amparo publicitário digno.

Engana-se quem reduz a produção a nada sem nem mesmo ter conhecimento de seu conteúdo, apenas julgando pelo seu anonimato involuntário. A trama criada por Matthew Grainger e Jonathan King, este último também assinando a obra como diretor, pode não ser espetacular, mas apresenta uma interessante premissa que coloca os irmãos Matheson, os gêmeos Rachel (Sophie McBride) e Theo (Tom Cameron), no centro das atenções. Após perderem a mãe em um acidente, eles vão passar uma temporada na casa dos tios, Klay (Micheala Rooney) e Cliff (Matthew Chamberlain), que fica localizada a beira de um lago que na verdade esconde uma cratera vulcânica. Mesmo vez ou outra ameaçados por algum tremor de terra, o que impressiona os adolescentes na realidade é um velho casarão que fica do outro lado da água cujos habitantes, os Wilberforces, são vistos com estranheza pelos vizinhos pelos seus atos introspectivos. Os jovens irmãos se sentem atraídos pela casa e certa noite decidem ir até lá para explorá-la e se surpreendem com o que descobrem.


Os Wilberforces são na realidade estranhas criaturas dotadas do poder de viajarem pelo espaço e adquirirem feições humanas para esconderem seus aspectos de mortos vivos. Eles dominam os mundos (seriam planetas? Realidades paralelas?) e destroem os seus habitantes com a ajuda de gargantuas, seres que estão aprisionados sob várias camadas de rochedos graças aos esforços de sobreviventes de ataques anteriores, como é o caso do Sr. Jones (Sam Neil), uma espécie de guardião que há várias gerações busca gêmeos que compartilhem de um dom em especial, irmãos que não são apenas idênticos na aparência física, mas que também tenham uma forte ligação e identificação espiritual. Eles seriam os guardiões do fogo, pessoas especiais que ao segurarem determinadas pedras conseguiriam liberar um poder contido nelas capaz de destruir todas as criaturas do Mal. Não é a toa que Rachel e Theo tem cabelos ruivos. Pintados ou não, mais que servirem esteticamente para os propósitos do longa, os intérpretes deveriam ser dotados de um mínimo de carisma e aptidão para atuação, o que não é o caso.

Baseado no livro "Under the Mountain", de Maurice Gee, a produção tem em sua essência os genes das nostálgicas sessões da tarde apresentando adolescentes correndo contra o tempo e arriscando suas vidas em nome de um bem maior. Aliando ação, suspense, uma pequena dose de terror e tiradas humorísticas, As Pedras de Fogo é realmente uma daquelas opções que você não dá nada por ela, mas se surpreende encontrando um bom entretenimento com efeitos especiais razoáveis e uma trama envolvente, embora o enredo tenha alguns furos como não deixar claro se a morte dos gêmeos significaria a extinção das tais gargantuas, visto que outra dupla de irmãos muito tempo antes falhou na tentativa de exterminá-las. Também fica sem explicação o fato do personagem Jones aparentemente ser imortal e atravessar os séculos, porém, encontrando um trágico fim no novo milênio. Seria o fim de todo o Mal sobre a Terra que o libertaria?


Deixando os pormenores de lado, a diversão está garantida para quem gosta de puro entretenimento e um quê de saudosismo, mesmo que a produção falhe em diversos aspectos. Além dos protagonistas infantis que atuam de modo robotizado, o veterano Neil também deixa a desejar em um tipo misterioso, porém, apático. O ritmo irregular também colabora para se tecer críticas negativas ao longa, bem como a parte técnica que evidencia o orçamento modesto empregado. Antes já adaptado para uma minissérie de TV da Nova Zelândia, país de origem do livro e que também bancou o longa, a produção também padeceu do próprio cenário cinematográfico da época cujas produções do gênero fantasia já davam sinais de desgaste repetindo fórmulas e se apoiando em efeitos especiais de ponta, algo que King não tinha nem mesmo a seu favor. Por ser fruto de uma obra literária única e sem desdobramentos, uma narrativa enxuta e com começo, meio e fim, poderia ter existido um esforço maior dos produtores para realizar algo digno de nota e de lembranças.

Aventura - 90 min - 2009 

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