quinta-feira, 16 de setembro de 2021

RUMO AO PARAÍSO


Nota 7 Longa narra a trajetória de Paul Gauguin, famoso por obras que exaltam a natividade


O mundo das artes plásticas é uma rica fonte de inspiração para a sétima arte e já rendeu muitas histórias maravilhosas, sendo a superação uma traço em comum na maioria delas. Obras desse tipo não documentam apenas a História de alguma personalidade, mas servem também como um registro da época e lugares em que estes artistas viveram. Por exemplo, nos livros escolares temos algumas pinceladas de como foi o século 19 em solo americano, em alguns países da Europa, obviamente no Brasil e por tabela em Portugal, mas alguém tem alguma informação de como foi esse período no Taiti? Essa pode ser uma das curiosidades reservadas pelo longa Rumo ao Paraíso, mas seu chamariz é revelar um pouco do histórico de vida do artista plástico Paul Gauguin, reconhecido por suas obras multicoloridas que retratam as riquezas naturais e os nativos da América Central. 

Ao abordar a vida de um pintor, um diretor de cinema provavelmente deve encontrar algum ou vários pontos em sua trajetória que o instigam a lhe prestar uma homenagem, apresentando assim detalhes de sua vida pessoal e profissional, podendo apostar em uma biografia que pontue os principais momentos das mesmas ou fixar-se em um ou mais períodos determinado. Alguns nomes de pintores famosos intitulam suas cinebiografias e se encarregam de fazer um convite ao público, como Os Amores de Picasso e Frida, porém, outras produções praticamente passam despercebidas quando encobertas por títulos que não fazem alusão a seus homenageados como neste caso, aliás, com o agravante do título escolhido ser um tanto genérico e quando lançado não haver publicidade para ajudar sua carreira. Uma pena, afinal Gauguin não é um artista tão divulgado quanto Van Gogh, por exemplo, mas sua trajetória e obra merece ter sua importância reconhecida. 


A trama escrita e dirigida por Mario Andreacchio acompanha duas épocas distintas da vida do artista interpretado por Kiefer Sutherland. Em Paris, em 1874, este homem é um bem-sucedido corretor de ações da bolsa de valores que vive feliz ao lado de sua esposa Mette (Nastassja Kinski) e seus quatro filhos. Colecionador de quadros e arriscando pintar algumas telas, ele resolve abandonar a sua carreira ao ter seus trabalhos elogiados por Camille Pissarro (Alun Armstrong), um artista frustrado na profissão, mas que incentiva o rapaz a continuar a se dedicar a arte. Contra a vontade da esposa, Gauguin joga tudo para o alto e decide passar a produzir quadros em série, mas sua ambição o cega e ele não percebe que sua arte é desprezada e isso está acarretando problemas a sua família que está passando por privações. Mette resolve ir embora com os filhos para a casa da sua avó, mas depois de algum tempo seu marido tenta retomar a vida antiga, porém, sua insatisfação o perturba e mais uma vez seu lado artístico fala mais alto. 

Em 1891, ele resolve fazer uma viagem ao Taiti para descobrir novos cenários e ideias, porém, bate de frente com o poder dos missionários que atuam na área. Enviados para desmistificarem os cultos tradicionais a ídolos locais (estátuas que representam deuses), estes homens mais que destruir a cultura de um povo também querem lucrar sob a ingenuidade dos taitianos. Decidido a preservar a beleza deste paraíso na Terra, Gauguin passa a realizar pinturas que documentam a estonteante beleza da flora, fauna e dos nativos de lá, o que o levou futuramente a entrar no hall dos artistas plásticos mais importantes de todos os tempos. Sutherland é mais conhecido por suas atuações em produções de ação e suspense, mas personifica com intensidade o famoso pintor mostrando desde a época de seus primeiros e amadores trabalhos, que não lhe davam lucro algum, até a sua fase mais criativa e produtiva inspirado pelos novos e tropicais ares que passou a respirar. Curiosamente, seu pai, Donald Sutherland, também fez o papel de Gauguin no longa Oviri datado de 1986. 


Rumo ao Paraíso é uma produção caprichada, com belas locações e cenografia e uma excelente fotografia que evitou, intencionalmente ou não, apresentar cada fotograma literalmente como uma obra de arte, um clichê de filmes do tipo, alcançando assim um resultado bem mais natural, até porque a própria natureza se encarregou de oferecer a beleza em seu estado mais puro. Com tantos predicados, infelizmente, é preciso constatar que trata-se de um produção que amarga o ostracismo por motivos desconhecidos, afinal reúne todos os elementos que garantiram a fama de outras biografias de artistas e suas perpetuações. Vale a pena uma busca pela obra para curtir um belo espetáculo visual, principalmente para quem é amante das artes em todas as suas formas de manifestação.

Drama - 101 min - 2003 

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