Nota 7 Com premissa de suspense policial, longa explora a solidão e obsessão do protagonista
Policial prestes a se aposentar se envolve no caso da morte de uma garotinha prometendo a sua família fazer de tudo para capturar o assassino, assim tomando a responsabilidade de um último trabalho para honrar sua carreira. A premissa é tão genérica quanto o título, mas A Promessa é um suspense que envereda mais pelo caminho do drama fugindo do lugar comum. Esqueça aqueles mirabolantes roteiros em estilo quebra-cabeça para se chegar a identidade do criminoso ou o famoso jogo de gato e rato entre policial e bandido. O roteiro de Jerzy e Mary Olson Kromolowski opta por desnudar a alma de um homem atormentado por uma promessa, o dilema moral de cumprir o juramento que fez quando iniciou sua vida profissional de sempre lutar pela proteção dos inocentes e buscar a verdade custe o que custar. Será isso mesmo? O caminhar da história sugere outra interpretação. Em um pequeno vilarejo no Estado de Nevada, nos EUA, Jerry Black (Jack Nicholson) é um policial veterano que está prestes a se afastar do trabalho após décadas de serviços, mas em seu último dia na instituição recebe uma incumbência que adiará a sua aposentadoria, ou melhor, ele mesmo é quem decide posicionar-se no caso.
Uma garotinha de apenas oito anos foi estuprada e violentamente mutilada e Black insiste para averiguar a cena do crime, bem como usa toda a sua experiência para dar a notícia para a família da vítima. Comovido com o desespero da mãe, A Sra. Larsen (Patricia Clarkson), Black promete que assumirá as investigações e não sossegará enquanto o responsável não ser punido. Para tanto, ele será auxiliado pelo policial Stan Krolak (Aaron Eckhart) e juntos eles chegam até o nome de Toby Jay Wadenah (Benicio Del Toro), um descendente de índios com problemas mentais e antecedentes criminais, que sob pressão assume a autoria do estupro e logo em seguida se suicida, mas Black não está convencido que o caso está encerrado. Mesmo com a recusa do colega, investigador que usou seu poder de persuasão e aproveitou-se da mentalidade fraca do suspeito par dar um ponto final o mais breve possível no caso, o veterano decide continuar as investigações por conta própria. Em meio a averiguações de pistas e momentos de reflexão enquanto pratica a pescaria, o passatempo predileto do protagonista, é nesse ponto que a obra deixa de ser um suspense comum para ganhar força dramática e psicológica.
Baseado no romance do suíço Friedrich Dürrenmatt, o filme no fundo fala sobre os efeitos da solidão no ser humano e como este sentimento pode nos manipular a ponto de cometermos ações involuntárias em busca de reconhecimento. Dedicando-se a vida toda ao seu trabalho e sem ter uma família ou companheira, a aposentadoria soa para Black como um aviso de que sua vida está próxima do fim, já não teria mais serventia no mundo. Com o caso da criança, o veterano vê a chance de manter-se ocupado e provar que ainda poderia ser útil e agarra a oportunidade com unhas e dentes, mesmo não fazendo mais parte do quadro ativo da polícia. Pelas evidências deixadas em um desenho da falecida, no qual é retratado um homem alto e proprietário de um furgão preto que estaria a cercando já a alguns dias, e das conclusões que tira das conversas que tem com a sua psicóloga (Helen Mirren) a respeito de outras mortes de menores de idade que poderiam ter ligações, Black acredita que está no caminho certo, todavia, acaba extrapolando seus objetivos quando conhece Lori (Robin Wright), uma garçonete que fugiu de casa com a filha Chrissy (Pauline Roberts) para escapar das agressões do marido e que lhe pede asilo.
O envolvimento com esta mãe e filha acaba dando novos rumos à trama, afinal se sentir útil era justamente o objetivo do aposentado, assim o longa frustra quem esperava um suspense clichê (bem, alguns são inevitáveis), mas arranca elogios, ainda que não rasgados, de boa parte do público que se surpreende com uma obra com conteúdo, performances cuidadosamente lapidadas (com exceção de Del Toro que surge em cena de forma bizarra) e que foge do estilo hollywoodiano o quanto pode. O aposentado chega a usar a pequena Chrissy, aproveitando-se de seu perfil ideal, para tentar atrair o verdadeiro assassino em busca de uma nova e indefesa vítima, assim colocando-a em risco em nome de sua obsessão. A boa interpretação de Nicholson sempre deixa no ar a dúvida se sua dedicação é em respeito a profissão ou apenas uma maneira de encontrar motivos para continuar vivendo. Já Krolak pode ser visto como o estereótipo do policial contemporâneo e os resultados rápidos de suas investigações é o que lhe importa para justificar seu salário, algo explícito na cena em que ele vibra diante da câmera de segurança ao conseguir arrancar a confissão de Wadenah sem fazer muito esforço.
Através de cenas e diálogos rápidos, o ator Sean Penn mostra que também tem talento para a direção. Ele já havia demonstrado isso nos dramas Unidos Pelo Sangue e Acerto Final, mas como demorou para voltar a sentar na cadeira de diretor A Promessa soou quase com uma estreia na função. O diretor oferece a Nicholson um personagem totalmente crível que ganha a empatia do espectador. Da depressão a loucura, o premiado ator consegue gradativamente transmitir muito bem as angústias de Black quanto a solidão e a sua excitação perante as investigações. O restante do elenco, que ainda inclui Vanessa Redgrave, Sam Shepard e Mickey Rourke, não tem muito tempo de cena, mas suas participações são valorizadas por Penn que sabe o quanto é difícil emocionar ou intrigar o espectador, ainda mais quando é preciso fazer isso em questão de poucos minutos e sem grandes aprofundamentos do texto. Os anos que o ator ficou em jejum da direção, no conjunto, foram benéficos e também negativos. Sua inquietação para contar uma história decente lhe fez voltar à ativa com um trabalho com força narrativa indiscutível, mas sua reiteração de ideias, mesmo quando disfarçadas como as cenas de pescaria como metáfora a virtude da paciência e o plano de achar uma isca para pegar seu serial killer, acabam tornando o filme longo demais, algo acentuado pelo ritmo lento.
Drama - 123 min - 2001
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